03/02/2025

Impostos brasileiros na mira de Trump

Impostos brasileiros na mira de Trump

TRUMP Foto Getty Images

 

Em 2020, EUA abriram investigação sobre práticas tributárias que estariam fora do padrão internacional e teriam características extraterritoriais.

 

O Brasil escapou da primeira rodada de aumento de tarifas alfandegárias do governo Donald Trump, mas continua no foco da nova administração, como deixou claro o presidente dos Estados Unidos em fala recente.

 

Em seu primeiro mandato, Trump abriu uma investigação contra diversos países, incluindo o Brasil, por práticas tributárias que estariam fora do padrão internacional e que teriam características extraterritoriais.

 

O principal alvo dos americanos eram jurisdições que adotavam impostos digitais sobre empresas de tecnologia (digital service tax). Na lista, só o Brasil não tinha esse tipo de tributo.

 

A ameaça de tributação das big techs americanas foi um dos fatores que levaram os EUA, na administração Joe Biden, a apoiarem o acordo na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em torno do imposto mínimo global de 15% sobre multinacionais.

 

Neste início de ano, Trump anunciou que o país não levaria a proposta adiante e ainda voltou a ameaçar quem o fez, como União Europeia, Japão e Brasil.

 

O presidente dos EUA também quer reduzir o imposto de renda corporativo de 21% para 15%, o que pode levar muitas empresas que atuam no país a ficarem com uma carga inferior ao imposto mínimo, quando se coloca na conta benefícios fiscais que reduzem essa tributação.

 

A tributação mínima possui três mecanismos básicos. O Brasil adotou o primeiro, um imposto mínimo complementar doméstico (QDMTT na sigla em inglês), que garante o recolhimento desse percentual nas operações de qualquer empresa em território nacional. Nesse caso, não há o que falar em tributação extraterritorial ou fora das regras internacionais.

 

Parte da Europa adota também outra regra, que permite tributar filiais de empresas europeias nos EUA, por exemplo, a "Income Inclusion Rule", que não existe por aqui.

 

A avaliação de especialistas no assunto é que o Brasil não poderia ser alvo de sanções dos EUA por adotar o imposto mínimo em seu próprio território. Mas uma coisa é a questão técnica, outra, a política.

 

Em conversa com a coluna, Romero Tavares, especialista em tributação internacional da PwC Brasil, afirmou que o país tem algo muito mais poderoso para taxar as multinacionais americanas por aqui, como o Imposto de Renda Retido na Fonte sobre serviços e a Cide sobre remessas e royalties. Isso representa uma carga em torno de 25%, na maioria dos casos, bem superior a impostos de outros países sobre empresas de tecnologia, de 2% ou 3%.

 

Os EUA podem argumentar que o país não segue o padrão OCDE ao fazer essa tributação sobre remessas de serviços, mas se alinha à organização internacional ao adotar o imposto mínimo, o que pode ser visto como uma postura seletiva e discriminatória.

 

Especialistas na área de impostos internacionais da EY Brasil, Priscila Vergueiro e Gustavo Carmona afirmam que a administração republicana deu sinais de que o problema está no mecanismo adotado pelos europeus, e não pela Receita Federal do Brasil.

 

Outra fonte de conflito sobre o tema deve surgir nesta semana, no primeiro encontro do grupo das Nações Unidas sobre cooperação fiscal internacional, iniciativa com apoio de Brasil e países do sul-global e oposição dos EUA. O conflito em torno da questão só tende a crescer (Folha, 3/2/15)