05/11/2021

Inadimplência cai no setor rural, mas saldo ainda é elevado

Inadimplência cai no setor rural, mas saldo ainda é elevado

AGRICULTOR Foto Revista Rural

Renegociações trazem produtor para o mercado novamente, segundo gestora de crédito.

Mesmo na bonança atual do setor agropecuário, há quem não consiga administrar corretamente sua propriedade, e entre na lista dos inadimplentes.

Preços elevados das commodities há várias safras e a boa rentabilidade, principalmente devido às exportações, favorecidas pelo dólar elevado, fazem com que muitos produtores, no entanto, coloquem em dia suas dívidas.

Atualmente, a inadimplência nas operações de crédito rural fica entre 0,5% e 1%, o que mostra que os produtores, hoje com mais liquidez, estão administrando melhor sua atividade. Há dez anos, essa taxa era de 2%.

O saldo das dívidas vindas do passado, no entanto, é muito grande. Esse volume de dinheiro fica entre R$ 300 bilhões e R$ 400 bilhões no agronegócio.

As estimativas são de Christian Ramos, presidente da NPL Brasil, uma gestora de créditos corporativos inadimplentes. Independente, a gestora tem próximo de R$ 6 bilhões em sua carteira.

O objetivo das operações é reinserir o produtor ou a empresa no mercado e requalificá-lo para atuar dentro de uma plataforma de negócios mais moderna, onde ele possa ter um crédito mais acessível e, inclusive, se engajar nos conceitos de ESG (compromissos com meio ambiente, sociais e de governança).

Na inadimplência, o produtor está limitado em suas ações. Muitas vezes têm um patrimônio grande, mas o montante da dívida não permite que ele siga adequadamente com suas atividades.

O crédito é limitado e caro. Com isso, a produção, muitas vezes ineficiente, não permite o cumprimento dos compromissos.

A origem desses créditos pode ter sido empréstimos pelo sistema financeiro, "barter" (troca de insumos por produtos agropecuários) ou outras formas, diz Ramos. Alguns deles são esqueletos de há décadas, e vêm de instituições como Bamerindus, Banespa e outros.

A gestora, após avaliar o potencial desses produtores e suas dívidas, traz um investidor nacional ou internacional para o negócio que compra esses créditos.

O objetivo é a requalificação desse devedor, segundo o presidente da NPL. É feita uma arbitragem desse crédito que, na maioria das vezes, é barato, uma vez que as instituições financeiras já não esperam mais reavê-lo.

Os bancos melhoraram muito, mas estão longe de ter a eficiência de quem se especializou e tem tecnologia nesse setor, diz Ramos.

A saída desse produtor do sistema bancário como devedor permite acesso a crédito mais barato ou ele recebe financiamento do próprio fundo que está investindo.

Ao sair dessas amarras da dívida, o produtor volta a produzir e aumentará a capacidade de sanar suas dívidas.

Em alguns casos, no entanto, esses compromissos, que vêm de há décadas, são impagáveis, segundo o presidente da NPL Brasil (Folha de S.Paulo, 5/11/21)