14/06/2024

Incêndios no Pantanal a caminho de superar marca histórica

 

Corpo de macaco calcinado em Corumbá (MS), no pantanal - Ueslei Marcelino Ueslei Marcelino - 11.jun.2024 Reuters

 

Em 2020, chamas mataram cerca de 17 milhões de vertebrados na região.

As carcaças incineradas de macacos, cobras e jacarés pontilham as extensões carbonizadas do outrora verdejante pantanal, a maior planície alagável do mundo.

Ao cair da noite, uma torre de fumaça ilumina o céu. Não há descanso para o fogo ou para os animais que tentam fugir.

"Como a queimada é de uma proporção muito grande, não dá tempo de eles fugirem e às vezes nem têm para onde fugir", diz Delcio Rodrigues, diretor do Instituto ClimaInfo.

O padrão climático El Niño, sobrecarregado pelas mudanças climáticas, secou os rios da região e interrompeu suas inundações sazonais habituais, deixando o ecossistema vulnerável a incêndios.

De janeiro ao início de junho de 2024, os focos de incêndio no bioma aumentaram 974% na comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo dados do Programa de BDQueimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Este ano se encaminha para superar 2020 como o pior já registrado em termos de incêndios florestais no pantanal. Em 2020, as chamas mataram cerca de 17 milhões de vertebrados, de acordo com um estudo publicado na Scientific Reports.

Cobra queimada em Corumbá (MS) em incêndio no pantanal Ueslei Marcelino Reuters

 

O patrimônio mundial da Unesco, que abrange uma área com mais de duas vezes o tamanho de Portugal, abriga a maior espécie de onça-pintada do mundo, além de espécies como a anta e o tamanduá-bandeira, ameaçados de extinção.

Especialistas alertam para os riscos para essas populações no momento em que a região ingressa na estação mais temida para incêndios florestais, geralmente com pico em setembro.

"Tudo isso, quer dizer, a mudança climática mais as queimadas, eles acabam mudando completamente o ambiente e, a longo prazo, a redução da biodiversidade, perda de habitat", diz Rodrigues. "Os animais selvagens não têm para onde ir."

"Perda de qualidade do solo, consequências para a saúde humana, você tem vários impactos dessa situação", acrescenta (Folha, 14/6/24)