10/03/2025

Indenização por perdas em máquinas agrícolas cresceu 25%

Indenização por perdas em máquinas agrícolas cresceu 25%

Colheitadeira de arroz destruída pelas chuvas. Foto MST - RS

 

Em 2024, desembolsos das seguradoras aumentaram 25,4%, para R$ 842,3 milhões, diz CNseg.

 

As enchentes no Rio Grande do Sul e as queimadas e incêndios que ocorreram em áreas de produção agrícola de diversos Estados do país no ano passado devastaram muitas lavouras, mas o estrago não parou por aí. Em 2024, as seguradoras pagaram, ao todo, R$ 842,3 milhões em indenizações a produtores rurais que perderam ou tiveram danos em máquinas agrícolas, conforme a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).

 

O montante representou um aumento de 25,4% em relação ao ano anterior, de acordo com a entidade. Nos últimos cinco anos, as seguradoras pagaram, ao todo, R$ 2,8 bilhões em indenizações por problemas com equipamentos como tratores e colheitadeiras.

 

“O aumento das indenizações em 2024 foi causado pelo evento do Rio Grande do Sul. O alagamento gerou muita perda total dos equipamentos concentrados nas regiões atingidas”, disse Fábio Damasceno, integrante da Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).

enchentes no Rio Grande do Sul Foto Reprodução RuraltecTV

 

Em Estrela (RS), um dos locais mais afetados pelas enchentes de 2024, o produtor rural Airton Dieter perdeu máquinas, implementos e um caminhão. “Perdi plantadeira, pulverizador, roçadeira. O pulverizador eu achei alguns meses depois, alguns quilômetros abaixo da minha propriedade”, relata o produtor.

 

Segundo Dieter, os equipamentos não tinham cobertura de seguro. Sem as máquinas, relatou, ele não pôde fazer a colheita de grãos da área, de 50 hectares.

 

Depois dos prejuízos que inundação deixou — entre equipamentos, grãos, granja e animais —, o produtor precisou tomar empréstimos para reconstruir seu galpão, reformar o trator e os implementos. “Recuperei a minha plantadeira, que foi muito necessária. Trator que afunda em enchente não funciona mais com perfeição. Eu investi bastante para recuperar a máquina, mas não funciona 100%”, relatou.

Mesmo com a recuperação que conseguiu fazer, Dieter ainda está sem caminhão. Além disso, a área de produção da safra 2024/25 de grãos caiu para 30 hectares.

 

Damasceno, da Fenseg, acrescenta que outra parte considerável dos sinistros em tratores e colheitadeiras em 2024 teve como causa os incêndios e altas temperaturas nas áreas atingidas pelo fogo. No Estado de São Paulo, as chamas destruíram canaviais e cafezais. “A elevação de sinistros por perda total aumentou as indenizações”, afirma.

 

Após os episódios de 2024, relata Damasceno, a expectativa é que a contratação de seguro rural para máquinas agrícolas cresça neste ano. “Esse sinistro, por um lado, incentiva a contratação de seguro devido ao risco do acontecimento (novamente)”, avalia.

 

Além disso, afirma ele, a reação nos preços das commodities agrícolas também pode ajudar a elevar a demanda por seguro rural para a categoria neste ano, já que tende a estimular os produtores a investir na renovação do parque de máquinas. “Quanto maior rentabilidade para o produtor, maior é o investimento”, diz.

 

Pedro Estevão, presidente da Câmara Setorial de Máquinas Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), observa ainda que toda compra de máquina financiada por bancos tem seguro obrigatório. “Então, há um volume de máquinas muito grande que tem seguro, porque mais ou menos um terço das vendas ou um terço das máquinas são seguradas porque são financiadas”, afirma.

 

Após registrar em 2024 uma das maiores quedas de vendas da história, a indústria de máquinas e equipamentos agrícolas, parece estar retomando a normalidade. Segundo dados que a Abimaq divulgou na semana passada, as vendas somaram R$ 4,2 bilhões em janeiro, o que representou um aumento de 23,3% em relação ao mesmo mês de 2024.

 

Estevão ressalta, no entanto, que a base comparativa, de janeiro do ano passado, era muito baixa. Isso porque, naquele momento, os produtores rurais frearam os investimentos por causa das incertezas com a seca. “As vendas de janeiro do ano passado foram péssimas. Estávamos com uma seca muito forte e ninguém sabia o que ia colher. Nesse cenário ninguém compra nada”, lembra.

 

Apesar disso, a Abimaq mantém a projeção de crescimento de 8,2% das vendas de máquinas agrícolas em 2025. No ano passado, a comercialização recuou 19% (Globo Rural, 7/3/25)