Indústria acelera venda de fertilizantes antes de possível queda de preços
Com preços internacionais nas máximas de pelo menos seis anos, a indústria de fertilizantes acelerou as vendas do insumo no Brasil, um dos principais consumidores, antes que as sazonalidades do mercado eventualmente levem às cotações a arrefecer, em meados de maio, avaliaram integrantes do setor.
O diretor da mesa de fertilizantes para a América do Sul da StoneX, Marcelo Mello, disse que os valores da matéria-prima já estavam em patamares elevados em dezembro, mas entre o início de janeiro e fevereiro os preços da ureia acumularam alta em torno de 35% no Brasil, para 380 dólares por tonelada.
Os fosfatados (MAP) subiram 30% na variação mensal, para 580 dólares por tonelada, enquanto o cloreto de potássio (KCl) avançou 8%, para 270 dólares por tonelada, de acordo com o especialista.
Uma combinação entre o aquecimento na demanda dos principais países consumidores, como Brasil e Estados Unidos, restrições na oferta global e uma relação de troca favorável aos agricultores em meio a altos patamares de preço das commodities deu suporte para que as cotações dos fertilizantes encontrassem um ambiente positivo desde 2020.
Somente em janeiro, os fabricantes de adubos comercializaram o recorde de 40% do volume esperado para o ano e a expectativa é que a demanda brasileira também registre recorde para 2021, em torno de 40 milhões de toneladas, estimou um executivo da Mosaic Fertilizantes na última semana.
Uma fonte do setor disse na condição de anonimato que, com o apoio do câmbio e dos preços das commodities, mais de 50% dos adubos com entrega para 2021 já foram negociados e acredita que este cenário só traz vantagens.
“Hedge para o produtor e visibilidade logística para a indústria. Tudo certo. Antecipa as entregas e evita caos logísticos no pré-plantio”, afirmou o interlocutor.
Uma outra fonte próxima à indústria afirmou à Reuters que os fabricantes dos insumos estão em uma “corrida” por vendas, na tentativa de maximizar as receitas enquanto o dólar encontra-se em patamar elevado.
“Existe uma expectativa de que a economia global pode melhorar à medida que avançam as campanhas de vacinação contra a Covid-19 pelo mundo, baixando os ânimos do mercado e com espaço para possível recuo do dólar”, afirmou a fonte também na condição de anonimato.
Ao mesmo tempo, produtores estão com fortes vendas de grãos antecipadas da próxima safra, após comercializarem a maior parte da colheita atual de soja em áreas como o Mato Grosso, que tradicionalmente registra negócios mais acelerados.
Para o consumidor, o diretor da StoneX avaliou que não há muita diferença em fazer as compras de fertilizantes com o dólar alto ou baixo, desde que haja hedge envolvido na negociação ou o mesmo câmbio esteja sendo usado na outra ponta da operação. Assim, receita e custos estariam equivalentes.
Sobre a hipótese de uma “corrida” por vendas entre os fabricantes, Mello afirmou que a “a indústria está apenas fazendo o papel dela”, diante de um cenário favorável no mercado.
Ele ainda disse que nesta época do ano, inverno do Hemisfério Norte, a China praticamente sai do fornecimento global. A maior parte da energia é direcionada para aquecimento e outras áreas da indústria, em detrimento do setor de fertilizantes.
No entanto, com a sazonalidade industrial da China, a oferta de matéria-prima tende a se recuperar e há um movimento de queda previsto para os preços.
“No caso da ureia dá para colocar a mão no fogo que, no mais tardar entre maio e junho, os preços irão derreter caindo pelo menos 100 dólares por tonelada. Já no fosfatados (MAP) é mais complicado cravar a intensidade da queda. Que a tendência será de queda também a partir de maio-junho, não tenho dúvida”, estimou.
Quanto à hipótese de quebra nos contratos já fechados, caso o recuo nas cotações dos fertilizantes se confirme, as fontes disseram que trata-se de uma possibilidade muito remota.
“Estamos longe disso… E produtores em Mato Grosso são cada vez mais profissionais”, citou uma das fonte (Reuters, 10/2/21)