Indústria da ração compra mais arroz; consumidor deve sentir alta de preço
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Nos meses de julho de 2010, de 2015 e de 2020, com uma saca de arroz, comprava-se 1,3 de milho. Neste ano, é necessário 1,3 saca de arroz para a compra de uma de milho. A situação está bem atípica, em relação ao padrão histórico desses dois cereais, e traz consequências para o bolso do consumidor.
Com preços inferiores ao do milho, o arroz passou a ser uma opção para a produção de ração, que está com uma demanda muito forte devido às exportações de proteínas.
Essa concorrência das indústrias de ração pelo arroz, embora em quantidade pequena, é mais um componente para a manutenção dos preços aquecidos para o consumidor.
Após quedas em maio, junho e julho, a saca do cereal voltou a subir e está entre R$ 80 a R$ 85 no Sul, dependendo da região de produção, de acordo com Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, de Curitiba.
Não falta arroz no mercado interno, uma vez que a colheita foi boa, mas o limite para as importações, devido ao dólar, está alto, afirma ele.
Até o arroz do Paraguai, que normalmente abastece São Paulo e Minas Gerais, está com preços superiores aos do cereal do Rio Grande do Sul. Cotado entre US$ 300 e US$ 330 (R$ 1.570 a R$1.732), o arroz importado do Mercosul, tradicional fornecedor ao Brasil, fica muito caro, segundo ele.
Não haverá disparada de preços, como ocorreu em 2020, quando o pacote de cinco quilos chegou a até R$ 40, mas o arroz voltará a subir nas gôndolas, afirma Brandalizze.
Dólar, geada e até a indústria de ração ajudam a manter essa pressão nos preços dos alimentos para o consumidor.
O trigo, com perspectiva recorde de produção, poderá perder qualidade em algumas das áreas afetadas pela geada. É mais um cereal que deverá ter como destino a ração. A demanda interna vai dar suporte aos preços, principalmente porque a tonelada do produto importado chega ao mercado interno por um valor próximo a R$ 1.600, acima do do produto nacional.
O feijão, também prejudicado pela geada, não dará folga ao bolso do consumidor, e será negociado entre R$ 6 e R$ 8 por quilo. Haverá um vazio de oferta na roça pelos próximos dois meses, afirma o analista.
O alívio que era esperado nos preços dos alimentos não veio, e boa parte deles se mantém em alta neste mês. Em relação a agosto do ano passado, as altas são bem mais acentuadas, superando, em alguns casos, como o do café, 80%.
E as notícias que vieram nesta segunda-feira (16) do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) não são animadoras.
Os EUA, um dos principais concorrentes do Brasil nas exportações do agronegócio, não têm uma situação climática confortável na safra deste ano. Muito calor e pouca chuva complicam o cenário para a produção de soja e de milho.
Diminuiu o percentual das lavouras em estado bom e excelente, tanto no milho como na soja, segundo o Usda.
No caso do milho, 62% das lavouras estão em boa e excelente condições, um percentual pior do que o da semana passada, e bem inferior aos 69% de há um ano. A situação do milho já está praticamente definida, com o Usda reduzindo em 10,5 milhões de toneladas a estimativa inicial de produção, para 375 milhões.
No caso da soja, o cenário é ainda pior: apenas 57% das lavouras estão em condições boa e excelente. Em igual período do ano passado, eram 72%. Ao contrário do milho, porém, parte da área da soja ainda pode melhorar, desde que venha chuva, o que é pouco previsível.
As condições climáticas desfavoráveis nos Estados Unidos animam os preços no Brasil, uma vez que os mercados são interdependentes. Com isso, o mercado externo vai continuar com preços elevados, e os brasileiros, pagando mais.
Até mesmo produtos como o açúcar, em que o país é líder mundial, os preços acumulam alta de 7% neste mês. A demanda externa é forte, e parte das lavouras de cana-de-açúcar foi afetada pelas recentes geadas (Folha de S.Paulo, 17/8/21)