Indústria de aves e suínos tenta preservar desoneração da folha
Em meio à conjunção de crises que vem atravessando nas áreas societária, financeira e sanitária, a BRF está em outra frente de batalha no Congresso Nacional. Em conjunto com os demais frigoríficos de aves e suínos do país, a companhia busca convencer os parlamentares de que o projeto de lei enviado pelo governo federal para acabar com a desoneração da folha de pagamentos é muito prejudicial para o setor.
Tamanha é a relevância do tema para a BRF que o CEO da companhia, José Aurélio Drummond, está envolvido diretamente nas negociações com os parlamentares. O Valor apurou que o executivo fez um corpo a corpo com diversos parlamentares da bancada ruralista, em busca de apoio para retirar o segmento de aves e suínos do projeto de reoneração – que também atinge outras atividades. Procurada, a BRF não comentou.
Em sua ofensiva, realizada antes da Operação Trapaça – que atingiu a empresa em 5 de março -, Drummond esteve inclusive com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Nas conversas com os parlamentares, o executivo argumentou que, se a BRF for reonerada, os custos aumentarão a ponto de colocar empregos em risco – a companhia tem cerca de 100 mil funcionários no Brasil. Até mesmo o fechamento de fábricas poderia ocorrer, disseram ao Valor parlamentares que estiveram com o CEO da BRF.
Procurada, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa os frigoríficos de aves e suínos, sinalizou que espera a manutenção do benefício. Hoje, as agroindústrias de aves e suínos e pagam 2,5% sobre o faturamento — em vez dos 20% sobre o salários que até 2014 eram pagos a o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
"Tivemos a adesão da frente parlamentar [bancada ruralista] e até mesmo de setores do governo, como os ministérios da Indústria e o da Agricultura", disse o presidente da ABPA, Francisco Turra. De acordo com ele, todos se sensibilizaram com os argumentos do setor.
Em favor da indústria, a entidade sustentou em Brasília que o segmento manteve o nível de emprego mesmo durante a fase mais aguda da recessão. Atualmente, cerca de 500 mil trabalhadores estão empregados diretamente nos frigoríficos de aves e suínos, afirmou Turra. Considerando a cadeia produtiva – o que inclui a produção de insumos -, são 4,1 milhões de empregos diretos e indiretos, disse.
Turra acrescentou que, não fosse o momento "aterrorizante" que vive o setor devido às consequências da Carne Fraca no comércio internacional, os frigoríficos de aves e suínos já estariam contratando. Segundo o dirigente, a cooperativa catarinense Aurora tinha planos de contratar 8 mil pessoas, mas o processo agora está parado. Um das maiores produtoras de carne suína do país, a cooperativa é prejudicada pelo embargo da Rússia.
Para convencer os parlamentares, a ABPA também mencionou as atuais dificuldades do segmento. "As empresas chegaram ao fim de ano com balanços deficitários ou com margem mínima", disse. Líder no setor, a BRF teve um prejuízo de R$ 1,1 bilhão em 2017.
Na Câmara, o projeto para reonerar a folha também enfrenta divergências entre o governo e o relator Orlando Silva (PCdoB-SP), que manteve o benefício para mais setores do que os pretendidos pelo Executivo. Na proposta original, 52 setores seriam reonerados. Até a noite de ontem havia uma expectativa de o plenário da Câmara votar urgência para acelerar a tramitação do projeto (Assessoria de Comunicação, 15/3/18)
“Trapaça” atrasa reabertura da Rússia a carnes do Brasil
O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki, admitiu ontem que a Operação Trapaça, terceira fase da Carne Fraca, deverá retardar a reabertura pela Rússia dos mercados das carne suína e bovina. Em dezembro, Moscou embargou os produtos do país.
Nesse cenário, Novacki evitou prever um prazo para a reabertura. Quando os russos anunciaram as restrições, o governo brasileiro e os exportadores do país esperavam reverter a situação até fevereiro, o que não ocorreu. O atraso afeta principalmente a suinocultura. No ano passado, a Rússia comprou 40% da carne suína exportada pelo Brasil.
Novacki lembrou que o embargo reflete o interesse de Moscou na abertura do mercado brasileiro para a carne bovina e o trigo russos, além de ter como pano de fundo os esforços da Rússia para se tornar autossuficiente em carnes. “Há muito tempo eles vinham dando sinal de que poderiam restringir até para estar melhorando o ambiente de produção interna”, disse o secretário.
Questionado sobre a BRF, empresa atingida pela Operação Trapaça, Novacki também evitou estipular o prazo para reverter a decisão que suspendeu as exportações de três frigoríficos da companhia. Além da auditoria nas três plantas, a reversão da medida depende das conversas com os países importadores. Nesse sentido, Novacki citou a visita que o ministro Blairo Maggi fará ao Oriente Médio e Ásia entre os dias 4 a 20 de abril (Assessoria de Comunicação, 15/3/18)