29/04/2022

Indústria de biodiesel quer previsibilidade na retomada da taxa de mistura

Indústria de biodiesel quer previsibilidade na retomada da taxa de mistura
BIODIESEL FOTO DIVULGACAO MME.GOV. BR

Setor precisa refazer estoque de matéria-prima para a passagem dos atuais 10% para o programado 15% de 2023.

A indústria de biodiesel ficou animada com a sinalização do governo de voltar aos 14% de mistura do biodiesel, como deveria ser o cronograma original para este ano. Alegando pressão do biodiesel sobre o preço do diesel, o governo reduziu a mistura para 10%.

O cronograma de mistura, definido em 2018, indicava uma elevação contínua da taxa, atingindo 15% no próximo ano.


A intenção do governo de retornar ao programa de mistura é alvissareira, mas ela deverá vir acompanhada de uma programação de escalonamento da passagem dos atuais 10% para os 15% de 2023.

Esse escalonamento deverá ser encaminhado ao CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) para que seja definida a passagem pelas diversas taxas percentuais de mistura já a partir de junho.

A avaliação é de Donizete Tokarski, diretor superintendente da Ubrabio (União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene). Essa mudança não pode ser abrupta, diz ele.

Uma previsibilidade é necessária para as empresas se planejarem na compra da matéria-prima (basicamente a soja) e reforçar seus estoques. A Ubrabio encaminhou um pedido ao Ministério de Minas e Energia sobre a necessidade desse planejamento.

Tokarski diz que essa retomada da mistura não vai pressionar o mercado. Apesar da queda na produção de soja, o país ainda produziu 125 milhões de toneladas. A passagem de 10% para 15% vai exigir apenas 3 milhões de toneladas de soja a mais.

Esse retorno da programação da mistura é importante para a indústria de biodiesel, que está com 50% de ociosidade na capacidade produtiva. São 55 indústrias espalhadas por 14 estados. Dez outras estão em processo de construção, afirma ele.

O avanço da taxa de mistura será importante não apenas para a indústria, que vem investindo há vários anos, mas reduzirá custos na produção de proteínas, a carne ficará mais barata, o emprego aumenta em vários setores e até os negócios com a agricultura familiar melhoram, segundo o diretor da Ubrabio.

Quanto aos valores atuais das matérias-primas, Tokarski diz que preço é questão de mercado. Devem ser consideradas todas as externalidades sociais, ambientais e econômicas desse processo.

O governo estipulou que o custo para a sociedade com o aumento da mistura de biodiesel —devido aos preços das matérias-primas— seria de R$ 9 bilhões, um cálculo feito em novembro, antes dos reajustes mais fortes do diesel.

O diretor da Ubrabio afirma, no entanto, que um estudo do setor aponta que, para cada ponto percentual de mistura de biodiesel ao diesel, o valor social gerado para a sociedade é de R$ 30 bilhões.

Como signatário da COP26, o Brasil deve parar de subsidiar indiretamente o combustível fóssil e priorizar o renovável. O biodiesel retira do mercado dois produtos poluentes: o óleo de cozinha usado e a gordura animal, segundo Tokarski.

A indústria de biodiesel acrescentou R$ 30,8 bilhões ao PIB (Produto Interno Bruto) no ano passado, segundo estudo do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) e da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) (Folha de S.Paulo, 29/4/22)