Indústria de frango tem cenário favorável para pôr "casa em ordem"
A indústria de frango do Brasil, maior exportador global do produto, tem um cenário favorável para “colocar a casa em ordem”, com preços mais baixos das matérias-primas após a “tempestade perfeita” de custos altíssimos em 2016 e os desdobramentos da Operação Carne Fraca este ano, afirmou nesta terça-feira o analista Guilherme Bellotti de Melo, do Itaú BBA.
No ano passado, o setor enfrentou preços recordes de milho, principal matéria-prima para ração, por conta da quebra de safra no país, além da deterioração da atividade econômica, que deixou uma série de empresas em dificuldades financeiras.
Agora “o setor avícola brasileiro já vem sentindo ventos mais favoráveis” e o “cenário surge como uma grande oportunidade” para os players do setor, destacou Melo.
“De fato, as empresas de frango observam custos significativamente mais baixos na esteira da produção recorde de milho de 2ª safra no Brasil, que é estimada em cerca de 70 milhões de toneladas, 65 por cento superior à do ano passado”, afirmou ele.
“O resultado disso é que os preços do grão ‘desceram a ladeira’ e encontram-se atualmente em níveis 50 por cento inferiores a setembro de 2016”, acrescentou.
A indústria de frangos do Brasil conta com players como a BRF, maior exportadora global do produto, e a JBS, dona da Seara.
Segundo o analista, mesmo se as exportações de milho do Brasil alcançarem um recorde de 34 milhões de toneladas, os estoques de passagem para 2018 deverão ser suficientes para impedir subidas abruptas das cotações.
“Adicionalmente, os sinais de retomada da economia brasileira podem ajudar a estimular o consumo após a queda de 3 por cento da demanda per capita nos últimos dois anos... A desaceleração da inflação também tem contribuído para o aumento da renda disponível da população após anos consecutivos de corrosão do poder de compra.”
E do lado das exportações de frango as expectativas apontam para uma recuperação do volume vendido após a “ressaca” da Operação Carne Fraca, que apontou corrupção entre empresas e fiscais federais que chegou a resultar em embargos temporários à carne brasileira.
O analista ressaltou ainda que haverá um “impulso” com a redução dos estoques em importantes destinos da carne brasileira, como o Japão, e também pela restrição da oferta local na China, reflexo da redução das importações de genética desde 2015, após os casos de gripe aviária nos Estados Unidos e Europa, o que abre oportunidades para os embarques do Brasil.
“Todo esse ciclo positivo que se descortina deve ser percebido como uma excelente oportunidade para que os players coloquem a ‘casa em ordem’ após a aguda crise do ano passado, que trouxe consigo um aumento da alavancagem e redução dos níveis de liquidez de parte relevante dos frigoríficos”, afirma o relatório do Itaú BBA.
“Como sabemos, o mercado de frango é cíclico e certamente anos de ‘aves magras’ virão no futuro. Assim, estar preparado para atravessar tais períodos sem grandes sustos e solavancos é fundamental...” (Reuters, 21/11/17)