Instituições do agro precisam se reinventar; a começar pela Faesp/Senar
LOGO DEFESA DA AGROPECUÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Por Ronaldo Knack
A crise que se instalou a partir da decisão de Fábio Meirelles em lançar o nome do seu filho Tirso para sucedê-lo na presidência da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo-Faesp/Senar trouxe à tona três conclusões:
Insatisfeito em comandar a entidade há 48 anos quer se perpetuar;
Transformou a Faesp/Senar em “puxadinho” do “clã Meirelles”;
e,
Não há limites para impor seu sucessor, ou seja, custe o que custar, e às custas da entidade que têm pago as contas.
Conheço Fábio Meirelles desde 1976, ano em que iniciei meu trabalho como correspondente da Folha de S.Paulo na região de Franca. No ano anterior ele assumira seu primeiro mandato na Faesp depois de presidir o Sindicato Rural local.
Homem afável, educado, de boa conversa mas, infelizmente com o tempo e a sucessão de mandatos mostrou-se demasiadamente apegado ao poder.
Já conhecia Tirso quando em 1999 organizei a partir de Sertãozinho (SP), o principal evento da cadeia produtiva canavieira da sua história, o “Grito pelo Emprego e pela Produção”. Os usineiros não investiram nenhum centavo nas campanhas de FHC para a presidência da República e Mário Covas para o governo do Estado e, ambos, criaram dificuldades que afetaram todas as usinas e as levaram a uma situação caótica.
Tirso, naquele ano, era secretário de Governo da Prefeitura de Sertãozinho, cuja prefeita era Neli Tonielo, sua sogra. Nossa estratégia era chamar a atenção da opinião pública para conseguir demover FHC e Covas da perseguição implacável imposta aos produtores de cana, aos usineiros e à toda a cadeia produtiva sucroenergética.
Dentre as ações que implementamos, destacavam-se distribuição gratuita de etanol em cidades da região de Ribeirão Preto, bloqueio de estradas e até mesmo uma invasão no recinto da Agrishow retardando a sua inauguração. Nossas reuniões eram feitas com as participações da prefeita, do seu marido e presidente da Copercana e usineiro, Toninho Tonielo.
Juntos, decidíamos todos os passos do movimento que começou a ganhar corpo e a se espalhar por todo o Estado de São Paulo e mesmo para outros Estados. Quando decidimos agendar a data e horário para a distribuição do etanol na praça central de Sertãozinho houve total concordância de todos os envolvidos.
Para nossa surpresa, quando chegamos ao local, forte contingente da Polícia Militar e mesmo da Polícia Civil já nos aguardava tentando obstar nosso objetivo. Ao todo, eram cerca de 50 policiais. Mas estávamos acompanhados de mais de 3 mil pessoas, dentre trabalhadores rurais, trabalhadores das indústrias metalúrgicas da cidade e região e produtores de cana.
Ao procurarmos saber do comandante da PM quem tinha solicitada a presença deles para impedir o nosso protesto, fomos informados que o pedido fora feito, à revelia da prefeita Neli Tonielo, pelo seu genro Tirso Meirelles. O vice-prefeito Lelo Bighetti, que nos acompanhava, usou das suas prerrogativas e pediu que os policiais se retirassem do local e o protesto pode ser realizado.
Detalhe: depois de vergarmos a teimosia de Mario Covas e do ignóbil FHC, o movimento se tornou vitorioso e provocou um crescimento da produção nacional de cana de 300 milhões de toneladas/ano para 600 milhões. E, mais, implantação de 100 novas usinas e investimentos na modernização de todas as outras.
Além da tentativa de boicote, à época, pelo filho Tirson, Fábio Meirelles, o pai, como presidente da Faesp não moveu uma palha sequer de apoio. Não houve nenhuma manifestação pública dele a favor do movimento. O mesmo silêncio que pai e filho, nas últimas horas mantém em relação as invasões do MST em áreas nas regiões de Campinas e Agudos. Vale ressaltar que Tirson nunca ocupou uma vaga de trabalho sem que tenha sido indicado pelos ex-sogros ou pelo pai.
Pior mesmo, foi cortar em até 80% os recursos federais do Senar-Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, para os sindicatos cujos presidentes anunciaram publicamente apoio à chapa de oposição nas eleições da Faesp. Os recursos do Senar servem para investimentos em cursos de formação e qualificação profissional.
Denúncias já foram encaminhadas à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal.
Estranho o silêncio de João Martins, presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária-CNA e do Conselho Deliberativo do Senar Nacional, já informado das irregularidades praticadas pela Faesp, que nas eleições de 2022 chamou Lula de “ladrão”, e agora estaria sendo conivente, ao não se pronunciar e nem tomar qualquer atitude em relação às denúncias de abuso contra os dirigentes da Faesp-Senar?
Diz a lenda que Fábio Meirelles jamais plantou sequer um pé de alface. Ao mesmo tempo, Tirso Meirelles que representa os produtores rurais de Mineiros do Tietê, deve encontrar dificuldades para provar que realmente produz algo naquela cidade e região, a não ser, as temíveis “fake News”. Aliás, recente pesquisa pelo BrasilAgro, confirma que ninguém o conhece lá, a não ser os que lhe ajudaram para se tornar presidente do Sindicato Rural local.
Estes são exemplos da essência da filosofia Meirelles no comando da Faesp/Senar. Causou perplexidade a ousadia de Tirso Meirelles, depois de acusado de fraudar o processo eleitoral da entidade, depois da manifestação da Justiça do Trabalho reconhecendo os argumentos do grupo de oposição, marcar sua “posse” – mesmo estando sua eleição “sub judice” – para o Theatro Municipal de São Paulo no último domingo (24), causando prejuízo incomensurável.
A repercussão, decepção e o inconformismo de centenas de convidados, dentre autoridades, lideranças empresariais e sindicais, produtores rurais e imprensa, avisados há poucas horas antes da “posse”, são inimagináveis. O pouco caso demonstrado pela grande mídia nacional é explicado pelo fato de que os maiores e mais expressivos veículos de comunicação, já se acostumaram a divulgar denúncias contra os Meirelle”s sem que o patronato do sindicalismo rural esboçasse qualquer reação a não ser a do inconformismo.
Ao mesmo tempo, o vídeo que o advogado e jurista dr. Ives Gandra Martins gravou em defesa da lisura da eleição de Tirso Meirelles (sic) na Faesp/Senar foi, respeitosamente, contestado pelo líder da oposição, presidente do Sindicato e da Associação Rural de Ribeirão Preto, da Assovale, empresário do agronegócio e advogado Paulo Junqueira.
Manifestações encaminhadas através do nosso info@brasilagro.com.br consideram que a fala do dr. Gandra Martins foi de “extremo mau gosto”, “vexatória, “inconsistente”, “vergonhosa”, “lamentável”, “defesa da sua filha Angela Vidal Gandra, chefe do Departamento Jurídico da Faesp/Senar” e “depondo e comprometendo contra sua história”.
Depois desta manifestação, aumentaram consideravelmente os apoios de presidentes de sindicatos e produtores rurais ao grupo de oposição e renovação na Faesp/Senar. Eles também reclamam que em pleno “Abril Vermelho”, com invasões nas regiões de Campinas e Agudos, nenhum Meirelles se manifestou em defesa do estado democrático de direito.
Paulo Junqueira não representa apenas as prerrogativas do seu curriculum. É, isto sim, uma importante liderança emergente, talvez a mais importante, que sozinho planejou e implementou o primeiro enfrentamento do agro ao governo Lula, quando no ano passado, trouxe à Agrishow o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Sua atitude teve repercussão nacional e internacional e evidenciou que o agro verde-amarelo não aceitaria passivamente as teorias e métodos que levaram Lula e outras estrelas petistas a prisão. Não fosse o agro, que sustenta nossa economia e a balança comercial, os “vermelhos” de plantão não teriam recursos para tentarem insistir em suas teses comunistas e que não deram certo em lugar algum do planeta.
A visão e a expertise como empresário bem sucedido do agro, permitem que Paulo Junqueira tenha em mente que o futuro do agro esteja na agricultura 5.0, no ESG (governança ambiental, social e corporativa), economias verde e regenerativas, hidrogênio verde, inteligência artificial, e principalmente, na honestidade e ética.
A disputa entre situação e oposição é na verdade um embate da dimensão de David x Golias. Neste caso, Golias, goza das prerrogativas de usar recursos do SENAR–Serviço Nacional de Aprendizagem Rural para manter uma política vergonhosa de neopotismo “y otras cositas mas”. E David, usa os princípios da família, do trabalho, da decência, do respeito, da fé e do patriotismo.
Nas próximas horas, Jair Bolsonaro estará de volta à Agrishow, convidado pelo Sindicato Rural de Ribeirão Preto e pelos produtores rurais do Estado de São Paulo. O impacto da visita pode, mais uma vez, ser grande. Principalmente aos desonestos e aos predadores do agro brasileiro. A ver e conferir! (Ronaldo Knack é fundador e editor do BrasilAgro; é também Jornalista e bacharel em Direito e Administração de Empresas; 19/4/24)