Inteligência artificial no agronegócio – Por Alexandre Victor Silva Abreu
As primeiras ideias sobre inteligência artificial surgiram em 1930, entretanto, apenas em 1956, o professor universitário John McCarthy criou oficialmente este termo em uma conferência acadêmica no Dartmouth College nos Estados Unidos. Pouco depois, em 1957, surgiu o termo agronegócio, em Harvard.
A inteligência artificial, em síntese, diz respeito a algoritmos matemáticos ou estatísticos que possibilitam às máquinas desenvolver um raciocínio sobre determinado tema que seja o mais próximo ao raciocínio de um humano, podendo até mesmo aprender com suas próprias decisões.
Por meio da inteligência artificial, especificamente por meio de softwares que iniciarão o processo de aprendizado (machine learning), a máquina poderá ser capaz de tomar decisões baseadas nessas informações (Big Data) e experiências anteriores originadas de um autoaprendizado.
É certo que vivenciamos um período de importantes inovações tecnológicas que cada vez mais tem influenciado na forma que vivemos. As inovações tecnológicas estão transformando todos os setores da economia e da sociedade e neste passo, crescente tem sido a utilização dos Sistemas de Inteligência Artificial no Agronegócio.
O que queremos dizer é que o agronegócio está entrando em uma nova fase. Agora, os algoritmos chegam às fazendas e fazem aumentar a produtividade a níveis que até um passado recente se diria inimagináveis.
Nesse novo contexto, baseado em novas tecnologias de informação e automação de processos produtivos, a grande questão levantada pelos produtores e empresários do agronegócio é de que forma a Inteligência Artificial se insere no setor? Como os softwares de inteligência artificial podem ser utilizados para se transformarem em melhores resultados?
Não causa estranheza essas dúvidas, afinal, no agronegócio, o principal desafio do uso da inteligência artificial é aumentar a rentabilidade do negócio, seja reduzindo o custo do uso de insumos e operações seja aumentando a produtividade e as máquinas com alto grau de automação serão protagonistas neste sentido.
As máquinas dotadas de softwares de inteligência artificial já estão sendo produzidas (algumas em fases de testes) com capacidade de se comunicar com outros softwares e por meio de sensores espalhados pela lavoura as perdas serão reduzidas ao mínimo durante o processo de plantio e colheita.
Há softwares capazes de identificar exatamente o fruto que está maduro para ser colhido, contabilizar o número de frutos maduros e verdes, aplicar o insumo na medida exata e apenas no local em que há uma semente plantada além de irrigar na medida certa para cada tipo de plantação e identificar com rapidez a ocorrência de doença na plantação.
Conforme dito, a inteligência artificial possibilita o armazenamento das informações, e, os dados da produção e variedade cultivada em conjunto com informações externas à produção, como dados climáticos, facilitam o gerenciamento da produção, melhor acompanhamento, indicação para uso de insumos em áreas específicas e principalmente a indicação do melhor momento para colheita.
Na pecuária, a inteligência artificial também se mostra um importante aliado do agronegócio ao possibilitar que os sistemas de inteligência artificial sejam alimentados com dados genéticos, hábitos alimentares, peso e ciclos reprodutivos dos animais e contabilizar o número exato de animais. Para este setor, em especial, já existem no mercado softwares que identificam variações no comportamento de animais confinados, e apontam períodos em que os animais comem ou se movimentam com maior frequência o que influencia diretamente na lucratividade do animal individualmente.
Há de se ressaltar que o aumento da produção de alimentos em geral será fundamental no futuro considerando a projeção de aumento da população mundial que deve chegar a 9 bilhões de pessoas em 2050. Há pesquisas que indicam que o mundo precisará aumentar em 70% a produção de alimentos. Desse total, 40% serão no Brasil e para isso teremos de triplicar a produção atual1.
Posto isso, será indispensável ao empreendedor saber crescer de forma sustentável e investir em preservação e cuidado do solo e da água, ou seja, investir em boas práticas ambientais de modo a identificar os impactos que sua atividade possa causar ao meio ambiente e buscar de forma preventiva por meios de minimizar estes impactos é algo que deve ser tratado como prioridade.
A sustentabilidade é uma tendência mundial, e a realização de um monitoramento de atendimento a requisitos legais ambientais proativo que garantirá um meio ambiente equilibrado, aliado ao uso da Inteligência Artificial para aumentar a lucratividade do negócio serão fatores preponderantes para melhores resultados e eliminação de riscos de multas, embargos e outras sanções administrativas assim como eliminação de riscos de danos ambientais decorrentes de eventos da natureza e de terceiros.
Apesar de ainda enfrentar certa resistência, o futuro do agronegócio está diretamente relacionado com o uso dos recursos tecnológicos, boas práticas ambientais e inovações nos processos de planejamento, gestão e de produção. O uso da tecnologia aliado a sustentabilidade serão um importante aliado do produtor por permitir crescer em produção e não em área produtiva (Alexandre Victor Silva Abreu é advogado da área Ambiental e Minerário do Lacerda, Diniz, Sena Advogados; Diário do Comércio, 27/9/19)