Investidores esperam perdas amargas com açúcar em 2019
O açúcar está encerrando 2018 de um jeito amargo frente aos sinais de que a queda dos preços pode piorar ainda mais no ano que vem.
Os futuros caíram 17 por cento neste ano, segunda perda anual consecutiva, depois que a expansão da produção global provocou um excesso de oferta. O único fator que impediu uma queda ainda mais profunda foi a forte demanda por etanol no Brasil, o maior produtor e exportador de açúcar do mundo. Mas agora esse apoio parece estar desaparecendo.
Os usineiros podem transformar a cana em açúcar ou biocombustível. Durante boa parte de 2018, os preços elevados da gasolina fizeram os processadores brasileiros preferirem produzir etanol, o que ajudou a limitar o excedente de açúcar. A queda recente do petróleo bruto sinaliza que essa tendência está prestes a ser revertida.
A maioria dos motoristas brasileiros possui carros bicombustíveis, que rodam com gasolina ou etanol. Tradicionalmente, os consumidores escolhem o combustível alternativo quando o custo é de menos de 70 por cento do preço da gasolina porque ele gera menos energia por litro. Agora que o petróleo está em queda, a perspectiva de consumo de combustível tradicional está melhorando e, como resultado, os preços do etanol estão em declínio.
Em 2019, as usinas de cana-de-açúcar podem lucrar até 13 por cento mais transformando a safra em açúcar em vez de biocombustível, segundo dados da consultoria FGA, com sede em Ribeirão Preto, São Paulo. A previsão contrasta com o desconto de até 30 por cento do açúcar neste ano.
Nos níveis de prêmios projetados, os preços provavelmente serão atraentes o suficiente para estimular os usineiros a produzir 2 milhões de toneladas de açúcar adicionais na safra 2019-2020, que começa em abril, disse Willian Hernandes, sócio da FGA, em entrevista por telefone. Sua previsão foca em produtores do Centro-Sul, a principal região produtora do Brasil. Enquanto isso, a Marex Spectron prevê que o Centro-Sul produzirá 28,8 milhões de toneladas na próxima safra, um salto de 2,3 milhões de toneladas. O potencial máximo de produção adicional seria de 10 milhões de toneladas.
A perspectiva de produção maior do Brasil provavelmente manterá o açúcar em queda a partir deste ano. Os futuros atingiram o menor patamar em 10 anos, de 9,91 centavos de dólar por libra-peso em agosto, em meio à perspectiva de excedente recorde respaldado por colheitas abundantes da União Europeia à Tailândia. O mercado teve um breve respiro em meio à dúvida em relação ao tamanho das exportações da Índia e à expansão da demanda por etanol no Brasil. Mas de repente o petróleo começou seu declínio, reduzindo a perspectiva para o biocombustível e arrastando o açúcar para baixo.
Há uma área de consenso entre analistas e traders: o petróleo bruto arrastará o açúcar para onde for, para cima ou para baixo.
"Podemos estar em um longo período de incerteza no aguardo do início da safra do Brasil em 2019", disse Michael McDougall, vice-presidente sênior da ED&F Man Capital Markets em Nova York, em relatório, em 12 de dezembro (Bloomberg, 17/12/18)