21/12/2017

Investimento alto e falta de assistência dificultam adoção de cultivo integrado

Fazenda Gamada, em Nova Canaã do Norte (MT), que aplica o método ILPF

A adoção do sistema de lavoura, pecuária e floresta integradas esbarra em uma série de entraves que vão de alto investimento inicial até acesso a assistência técnica, crédito e mão de obra.

Além disso, o sistema só funciona a pleno vapor depois de sete anos, período necessário para o desenvolvimento do eucalipto, a árvore que tem o ciclo mais curto. No caso da teca, por exemplo, o prazo sobe para 20 a 25 anos.

Os pecuaristas têm mais dificuldades para aderir, segundo especialistas ouvidos pela Folha. A agricultura demanda acompanhamento constante, e muitos estão habituados a lidar com o rebanho apenas no momento do abate ou venda dos animais.

A adesão às outras duas pernas do tripé da ILPF exige capital para compra de sementes, correção do solo, adubação, controle sanitário e máquinas agrícolas.

Alex da Silva, um pequeno produtor de Ipameri (GO), integrou eucalipto, pastagem e hortaliças ao rebanho leiteiro há quatro anos. Ele conta que a transição foi vantajosa, mas não sem custo.

Devido ao alto investimento para aquisição de maquinário, ele teve de alugar os equipamentos. "É mais complicado, porque você tem de esperar a disponibilidade da máquina, não pode fazer na hora que quer."

Silva optou por não tentar pegar crédito, processo que considera burocrático e muito caro. Comprou um trator, mas costuma esperar até uma semana para ter acesso a outros equipamentos. Uma saída comum é revezar o maquinário entre produtores.

CAMINHO INVERSO

Os agricultores também vivem dificuldades para percorrer o trajeto inverso, rumo à pecuária. Muitos produtores de soja não têm infraestrutura para receber o gado, nem cerca para evitar que o rebanho coma a lavoura. "Apesar de o material ser barato, a mão de obra torna o cercamento caro", diz Adriano Rudi Maixner, da Universidade Federal de Santa Maria (RS).

Nos dois lados, a escassez de mão de obra preparada para cuidar de uma nova atribuição faz diferença, e essa falta é agravada pelo constante êxodo dos mais jovens e a falta de assistência técnica especializada no novo manejo.

Sueli de Oliveira, que pesquisou a ILPF para seu doutorado na faculdade de saúde pública da USP, afirma que órgãos de assistência técnica rural do interior ainda não têm capacitação –nem tempo e dinheiro– para lidar com as novas demandas de produtores que trilham caminhos que desconhecem.

"Os recursos logísticos são limitadíssimos. Esses órgãos têm de atuar em questões mais imediatas, como o Cadastro Ambiental Rural e atendimento fitossanitário."

TERCEIRIZAÇÃO

O arrendamento de terras é visto como uma alternativa para viabilizar a integração e, de quebra, resolver dois entraves no campo: o alto custo de terras para novos produtores e o desgaste do solo com pastos ociosos.

Há quase duas décadas, o pecuarista Ernesto Ternes negocia parte de suas terras para a produção terceirizada de arroz em Lavras do Sul (RS). Os resultados o levaram a expandir as áreas arrendadas também para o cultivo de soja. Atualmente, 6.000 dos 14.000 hectares da propriedade são arrendados durante as temporadas na lavoura.

"Se dá uma crise na pecuária, como vou ter dinheiro para os meus custos? Com mais de uma produção, tenho alternativas. Se tivesse uma terceira opção, eu também faria", afirma Ternes (Folha de S.Paulo, 21/12/17)