20/11/2024

Janja conseguiu roubar o protagonismo de Lula no G20

Janja conseguiu roubar o protagonismo de Lula no G20

Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

Por Mariliz Pereira Jorge

 

Primeira-dama atropelou Lula, que não se pronunciou sobre o caso, talvez para não desviar o foco do G20.

 

Pior do que ter mandado Elon Musk praquele lugar foi a forma como Janja tratou o autor do atentado na praça dos Três Poderes. Bestão. Francisco Wanderley Luiz, o Tiu França, é o símbolo tristíssimo do ódio alimentado pelo bolsonarismo. Foi usado e agora abandonado por esse mesmo movimento responsável por radicalizar pessoas comuns, dividir o país e nos assombrar com um golpe de Estado.

 

O "Bestão" não é um caso isolado, representa o lado mais débil e caricato do terrorismo doméstico, e como ele há dezenas, talvez centenas, de possíveis lobos solitários que beberam na mesma rede de desinformação e de intolerância irrigada pela extrema direita, prontos para qualquer sacrifício em nome de uma causa imaginária, iludidos pela crença de fazer parte de uma revolução. Podem agir de forma isolada, mas não se criariam sem um ambiente propício para radicalismo e violência.

 

Deveria ser tratado como um fenômeno sociológico e levado a sério tanto quanto o envolvimento de militares de patentes variadas, incluindo generais, no plano de assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, revelado pela Polícia Federal. São parte de um mesmo sistema contaminado que se retroalimenta. Portanto resumir um representante de uma tragédia social como "Bestão" não parece o melhor caminho.

 

Imaginei que a postura de Janja não encontraria defesa. Ela conseguiu roubar o protagonismo do presidente no evento mundial em que Lula seria o anfitrião dos líderes mais poderosos do mundo. Além do constrangimento e de abalar questões diplomáticas óbvias, o episódio do xingamento a Elon Musk será mais lembrado do que os compromisso firmados no combate à fome. Ao trazer o "Bestão" para a pauta, a primeira-dama atropelou o presidente, que não se pronunciou sobre o caso, talvez para não desviar o foco do G20.

 

Essas falas de Janja não são demonstrações de personalidade forte ou de empoderamento, assim como as críticas a sua postura passam longe de qualquer resquício de machismo. No século 21 não se espera que ela faça a primeira-dama "recatada e do lar". Ter bom senso para se manifestar seria bastante razoável para garantir a legitimidade no governo que ela tanto quer (Folham 20/11/24)