Joint venture AGCO e Trimble coloca US$ 2 bi na agricultura digital
Joint venture AGCO e Trimble -Foto- Reprodução-redes sociais
Por Jim Vinoski
Eric Hansotia, CEO e presidente da AGCO, diz que sensores, análise de dados e computadores a bordo são o futuro de todas as máquinas que vão para o campo. Conexão no campo vem recebendo investimentos cada vez maiores, como a atual joint venture.
A tecnologia tem mudado drasticamente o mundo agrícola, e isso não é de hoje, com computadores controlando tudo, desde a aplicação de fertilizantes e pesticidas até a operação de um trator para garantir a cobertura total do campo com os pulverizadores e as colheitadeiras.
Essa tendência pode ser acelerada ainda mais com o anúncio feito em setembro de uma joint venture entre a AGCO Corporation, multinacional que desenvolve, fabrica e distribui máquinas e equipamentos agrícolas, e a Trimble Inc, que desenvolve software e hardware para diversos setores, inclusive o agro.
A união das duas companhias vai focar na criação de uma nova plataforma de agricultura de precisão em frotas mistas, o que significa o uso de máquinas de várias procedências em uma fazenda. O acordo é de US$ 2 bilhões (R$ 10,1 bilhões na cotação atual), com a participação majoritária da AGCO no portfólio existente de ativos e tecnologias agrícolas da Trimble. A transação está totalmente financiada e deverá ser concluída no início de 2024.
Joint venture será uma mudança importante para AGCO
A joint venture é um passo importante na estratégia de agricultura inteligente para a AGCO, o terceiro maior fabricante global (em receita) de máquinas e equipamentos agrícolas, com sede em Duluth, na Georgia (EUA). Com vendas líquidas de US$ 12,6 bilhões (R$ 63,7 bilhões) em 2022, a AGCO é dona das marcas Fendt, GSI, Massey Ferguson e Valtra, fabricando tratores, plantadeiras, colheitadeiras, pulverizadores e equipamentos de feno, além de sua plataforma agrícola digital, batizada de Fuse, que oferece a produtores e concessionárias agrícolas.
“O acordo AGCO-Trimble significa a próxima evolução em máquinas agrícolas”, disse Damian Mason, podcaster do programa The Business of Agriculture. “Durante 9.900 anos, a agricultura foi movida pela força humana ou por seu potencial natural. Mas, no último século, a mecanização agrícola revolucionou a agricultura, permitindo rendimentos melhores com menos trabalho duro. Agora, o futuro das máquinas agrícolas são os comandos autônomos. E o futuro fabricante de máquinas agrícolas, pode ser tanto uma empresa de tecnologia quanto um produtor com grande potencial. Vincular uma empresa de tecnologia a um fabricante de tratores faz sentido no longo prazo e capitaliza o que cada empresa faz de melhor.”
Eric Hansotia, CEO e presidente da AGCO, disse ao podcaster que “agricultura de precisão é um termo para cada máquina que possui inteligência para abordar diferentes partes do campo”, na semana passada, em seu programa. “A AGCO já tinha duas opções: recursos inteligentes que poderiam ser adicionados de fábrica ou ainda o Precision Planting, que são equipamentos que tornam uma máquina ‘burra’ em inteligente e podem ser aplicados em qualquer modelo.”
A Trimble, por sua vez, tem se concentrado fortemente em tecnologias agrícolas inteligentes, com monitoramento de áreas, gestão de água, posicionamento e controle de fluxo e aplicação. A receita da empresa somou em 2022 US$ 3,7 bilhões (R$ 18,5 bilhões). Com a joint venture, o segmento de agricultura de precisão dos negócios da Trimble se tornará uma entidade separada, com participação de 85% da AGCO e de 15% da Trimble.
“Quando se trata da Trimble, nos últimos 30 anos, ela foi a única empresa que abordou a agricultura de precisão, tanto para as frotas mistas quanto para OEMs (sigla para fabricante original de um equipamento)”, disse Hansotia. “Somos as duas únicas empresas que pensaram o mercado dessa forma, então este é um ótimo ajuste de DNA. Quase não temos redundância. Eles, a Trimble, estão focados em orientação e direção, enquanto nós estamos focados nos ajustes em movimento, coisas como plantadeiras e fertilizantes.”
O futuro das máquinas agrícolas
De acordo com os executivos, o upgrade em direção à agricultura digital não diminui o compromisso da AGCO com os seus principais negócios de maquinário. No entanto, indica um investimento ainda mais intenso nesse segmento com margens mais elevadas. “Cada vez mais, nossos engenheiros (de máquinas) são engenheiros de software”, explicou Hansotia.
“Sensores, análise de dados e computadores a bordo nas máquinas são o nosso foco. Aumentamos o orçamento de engenharia em 60% desde 2020. Isso nos dá mais escala para fazer tecnologia em nossas próprias máquinas. Até 2030 deveremos ter uma operação totalmente autônoma. Mas, o grande diferencial está no retrofit, que é o termo para restauração de máquinas que estão no campo, e a única empresa que fez isso foi Trimble. O cliente vê a tecnologia e deseja os recursos e a capacidade para aumentar a produtividade e sustentabilidade, mas não quer gastar em uma nova máquina. Desta forma, estamos gerando mais recursos de forma mais rápida”, explica o executivo.
Embora atualmente esteja mais focada na modernização, a estratégia também visa o crescimento no longo prazo. “Em mais alguns anos, os clientes estarão prontos para comprar novos produtos”, afirmou Hansotia. “E já teremos o sistema operacional com o qual eles estão acostumados.”
Na entrevista, o podcaster Mason destacou que “a AGCO já tinha uma tecnologia incrível na cabine, mas para chegar ao próximo nível, às vezes, é mais inteligente (e mais rápido comercializar), comprar alguma inovação que já está disponível no mercado”. E completou dizendo: “Será que os outros fabricantes globais de máquinas agrícolas seguirão o exemplo e farão compras de tecnologia? Ou continuarão a desenvolver essa tecnologia internamente? As empresas de maquinário agrícola que abraçam a sustentabilidade ambiental, a operação autônoma e a capacidade de modernização, e ainda fornecem novas tecnologias no painel do veículo, vencerão o futuro.”
O acordo pode resultar em uma mudança significativa nos negócios da AGCO. A empresa anunciou que o seu negócio de grãos e proteínas, focado principalmente no manuseio e armazenamento, será colocado sob revisão estratégica como parte de uma transformação mais ampla de seu portfólio. A AGCO avaliará as suas opções, enquanto trabalha para garantir que os clientes deste segmento sejam atendidos da melhor forma no futuro (Jim Vinoski é colaborador da Forbes EUA, além de presidente da Cosgrove Content e podcaster do Manufacturing Talks no YouTube; Forbes, 18/10/23)