Kingsman vê mercado de açúcar `construtivo' com déficit à vista
Após dois anos de preços baixos, o mercado global de açúcar deve começar a virar a página. Essa é a avaliação da Kingsman, uma unidade da S&P Global Platts, que agora projeta que o mercado enfrentará a primeira escassez em três anos na safra que começa em outubro. A produção será 3,7 milhões de toneladas inferior ao consumo, revertendo o superávit de quantidade semelhante desta temporada. Os contratos futuros do açúcar bruto negociados em Nova York caíram mais de 20 por cento em cada um dos últimos dois anos, quando as safras abundantes da União Europeia, da Tailândia e da Índia superaram amplamente a demanda, que vem enfrentando obstáculos devido a preocupações com a saúde. Ainda assim, os anos de colheitas abundantes deixaram o mundo com grandes reservas, que podem facilmente ser exploradas caso os preços subam. "Já estamos vendo um cenário mais construtivo do que há alguns meses", disse Patricia Luis-Manso, chefe de pesquisa sobre açúcar e etanol da Kingsman, que trabalhou anteriormente para Louis Dreyfus e BNP Paribas. "Agora, este açúcar não desapareceu. Este açúcar está estocado na Índia e há um pouco também no México, mas é verdade que está um pouco mais construtivo", disse, em entrevista antes da Conferência do Açúcar, em Dubai.
A mudança do mercado após o superávit de 3,2 milhões de toneladas desta safra já está sendo sentida nos preços. Os contratos futuros do açúcar subiram 5,2 por cento neste ano, para 12,66 centavos de dólar por libra-peso. No ano passado, ficaram abaixo dos 10 centavos de dólar, menor patamar em uma década. Devido aos preços baixos, os produtores da União Europeia plantarão menos hectares, e a proibição aos pesticidas neonicotinoides pode afetar os rendimentos, disse. Os neonicotinoides, usados como revestimentos de sementes e produzidos por empresas como Syngenta e Bayer, protegem as plantas contra pragas. Os órgãos reguladores da UE proibiram a substância para várias culturas depois que alguns estudos mostraram a conexão deles com a morte não intencional de abelhas. Índia e Brasil A produção na Índia, que deverá cair 1 milhão de toneladas nesta temporada, provavelmente recuará ainda mais em 2019-2020, segundo a Kingsman. A projeção para esta temporada é diferente à da empresa de pesquisa Green Pool Commodity Specialists, que espera uma safra recorde. Apesar do processamento acelerado das usinas do país, o ritmo não se manterá no restante da safra, disse Luis-Manso. O aumento da produção indiana vem pressionando os preços globais e o governo entrou em ação para respaldar o mercado local, ajudando as exportações.
"Ao analisar a oferta e a demanda da Índia para o ano que vem, continuamos esperando excedente", disse Luis-Manso. "A grande dúvida é se eles manterão a política de exportação ou não." O Brasil pode ser o fator decisivo. Apesar de a Kingsman atualmente projetar uma produção de 28 milhões de toneladas de açúcar no centro-sul na safra que começa em abril, a queda dos preços do etanol pode levar os produtores a produzir ainda mais açúcar. A empresa de pesquisa atualmente prevê que 37,5 por cento de toda a cana a ser processada será direcionada ao açúcar, menos que as projeções da maioria dos analistas.
"Se passarmos de 37,5 por cento para 40 por cento, são quase 2 milhões de toneladas de açúcar", disse. "Neste caso, o que estava mais ou menos equilibrado deixa um pouco de estar." Por enquanto a Kingsman mantém a projeção para o Brasil porque o ágio obtido pelo açúcar em relação ao etanol durante uma parte da safra ainda não é grande o suficiente para induzir uma mudança maior. Além disso, a empresa mantém uma visão positiva para o petróleo bruto, o que pode ajudar a elevar os preços do etanol, disse ela (Bloomberg, 11/2/19)