“La Niña” de volta já coloca produtores rurais da Argentina em alerta
Produtores da Argentina monitoram com lupa a La Ninã, que já provocou perdas bilionárias. Foto JJ Gouin Getty
Evento climático em 2022-2023 provocou perdas de US$ 15 bilhões e levou o país a perder o posto de maior exportador de farelo de soja para o Brasil, depois de 25 anos.
O Centro de Monitoramento Meteorológico e Climático da Argentina delineou as expectativas climáticas para o resto do ano. No relatório, a instituição aponta as possíveis repercussões do fenômeno “La Niña” na produção agrícola do país, enquanto o Gabinete de Riscos Agrícolas (ORA) da Secretaria de Bioeconomia alerta que vários indicadores oceânicos e atmosféricos confirmam a presença do evento.
A Argentina é o terceiro maior produtor global de soja e um grande exportador de farelo. Vale registrar que o posto de maior exportador global de farelo de soja foi desbancado pelo Brasil no ano passado, depois de 25 anos, justamente pela seca severa no país.
A “La “Niña”, um componente do ciclo climático global conhecido como El Niño-Oscilação Sul (ENSO), geralmente ligado a períodos de seca, poderá reaparecer em meados de 2024. Este fenômeno poderá afetar a colheita abundante em regiões como o oeste de Córdoba, La Pampa e as áreas do noroeste e sudoeste de Buenos Aires.
Devido ao arrefecimento das águas superficiais no Pacífico, o fenômeno La Niña está frequentemente relacionado com secas, como a da Argentina, que causou perdas de cerca de US$ 15 bilhões (R$ 83,62 bilhões) na produção agrícola na safra 2022-2023. No entanto, nesta ocasião, consequências tão graves não estão previstas. O El Niño continuou a predominar durante o resto do verão e início do outono, com uma transição para uma fase neutra do ENSO no trimestre de abril a junho.
A maioria dos modelos concorda em prever um novo arrefecimento do Oceano Pacífico central. Assim, entre julho e setembro de 2024, há mais de 60% de probabilidade de que La Niña se manifeste novamente, segundo o relatório. Ainda assim, não está claro como esta mudança pode afetar as chuvas da região.
Na província de Santa Fé, as condições foram díspares: o sul não recebeu as chuvas esperadas, enquanto o déficit de chuvas foi generalizado em toda a província. Na capital provincial registou-se a menor acumulação mensal de precipitação dos últimos 12 anos.
La Ninã traz poucos dias chuvosos pela frente
A La Niña trouxe um número de dias chuvosos também foi baixo, com apenas dois dias de precipitação segundo o relatório climático. As temperaturas ficaram dentro do previsto, com médias para junho de 2024 entre 1,5 e 2,0°, acima dos últimos 12 anos. Isto ocorreu apesar da notável queda das temperaturas no final do mês, com geadas nos dias 29 e 30 de junho.
A precipitação deste mês apresentou um déficit acentuado, que se estenderá pelo menos até à última semana, quando praticamente não se prevê chuva na província. Julho terminará com falta de precipitação e temperaturas abaixo das médias históricas.
Para os próximos meses, a análise das imagens de anomalias na temperatura do oceano sugere que o Pacífico equatorial permanece relativamente frio, embora com uma ligeira tendência ascendente no final do ano.
O Atlântico, na área do Anticiclone Santa Elena, na costa do Uruguai e sul do Brasil, manterá temperaturas frias até o início do novo ano.
Porém, o relatório do CMMC menciona algumas variações em sua temperatura que poderiam trazer ar úmido do sul do Brasil, gerando chuvas ocasionais mais abundantes.
Desde agosto, são esperadas temperaturas acima da média histórica durante todos os meses. Isto é consistente com uma fase ‘Niña’ do fenômeno ENSO ativa em toda a região. “Este fenômeno continuará durante toda a primavera e possivelmente no próximo verão”, indica o documento.
Um evento ENSO é uma interação global entre o oceano e a atmosfera, produzida por variações nos ventos equatoriais que geram alterações na temperatura da superfície do oceano e na sua circulação, afetando o aquecimento da atmosfera tropical e, consequentemente, a circulação atmosférica global.
Este fenômeno ocorre a cada 3 a 7 anos (média de 5 anos) e geralmente dura de nove meses a dois anos, estando associado a enchentes, secas e outras alterações globais.
Segundo o último relatório agrometeorológico do Instituto Nacional de Tecnologia Agrária (INTA), o “El Niño”, que pôs fim a um longo período de seca na região, dá sinais de enfraquecimento após o verão e os primeiros meses do outono. A organização indicou que “para o trimestre fevereiro-março-abril, todos os modelos indicaram um enfraquecimento dos valores quentes da temperatura do Oceano Pacífico equatorial” (Forbes, 18/7/24)