LDC vai produzir biogás a partir de efluentes de citros em nova usina

Paulo Hladchuk, head global da plataforma de sucos da LDC: “Teremos uma usina que fará a economia circular real”. Foto Divulgação
Multinacional francesa lança pedra fundamental da unidade em Bebedouro (SP), onde está instalada sua principal indústria de suco de laranja.
A multinacional francesa Louis Dreyfus Company(LDC) lança nesta terça-feira (11) a pedra fundamental do que promete ser a maior usina de biogás produzido a partir de efluentes cítricos do mundo. A unidade fica em Bebedouro, interior de São Paulo, onde está instalada a principal indústria de suco de laranja da companhia.
Com capacidade de receber 390 metros cúbicos por hora de efluentes da indústria de suco, a usina poderá gerar 7 milhões de metros cúbicos normais de gás por hora (Nm3/h) em dois ou três anos. O valor do investimento não foi divulgado, mas a companhia diz ser de “dois dígitos de milhões de dólares substanciosos”.
Os efluentes cítricos são os resíduos líquidos gerados durante o processamento de laranjas ou limões, como na limpeza das frutas. Contêm compostos orgânicos que, quando tratados adequadamente, podem ser convertidos em biogás.
O biogás deverá substituir o gás natural nos processos industriais. Além disso, o sistema criado pela empresa permitirá o retorno da água 100% tratada para o rio Paiol, na mesma cidade.
Segundo Paulo Hladchuk, head global da plataforma de sucos da LDC, a expectativa é reduzir a conta de combustível fóssil em 50%. A produção do biogás poderá abastecer 100% da unidade de Bebedouro. “Teremos uma usina que fará a economia circular real e ainda reduzirá a emissão de CO2 equivalente da unidade em 20%”, afirmou ao Valor.
O processo todo é complexo e começou a ser estudado em 2021. Primeiramente, o efluente da indústria será despejado em tanque homogeneizador, e depois irá para uma lagoa anaeróbica onde um inóculo será usado para decompor a matéria orgânica. Em seguida, o material irá para uma lagoa aeróbica, onde é feita a filtragem da água para a devolução ao rio. Para garantir a total limpeza da água, o líquido ainda passará por decantadores industriais.
O lodo resultante do processo poderá ser usado nas fazendas de laranja gerenciadas pela LDC. “Esse lodo é rico em matéria orgânica e minerais como potássio, e por isso estamos trabalhando para ver a melhor maneira de voltar para o campo”, afirmou Juliana Pires, diretora global da indústria de sucos da companhia.
Durante o processo de desenvolvimento da geração do biogás, a LDC até testou soluções existentes no mercado, mas sem sucesso, segundo a executiva. Uma delas foi um inóculo de uma empresa argentina. “Ocorre que eles processam limão e o fazem em uma temperatura e ambiente totalmente diferentes do que temos em Bebedouro. Não deu certo”.
No fim, segundo ela, a LDC conseguiu criar um inóculo com eficiência entre 15% a 16% superior ao disponível no mercado.
A nova usina ocupará 200 mil metros quadrados de um terreno de 10 mil hectares. “Se aumentarmos por algum motivo a indústria de Bebedouro, poderemos aumentar a produção de biogás”, disse Hladchuk.
Em paralelo ao crescimento da indústria de suco, a LDC também poderá comercializar, no futuro, biometano. Para isso, seria preciso purificar o biogás para que a composição ficasse em até 96% de metano. “A legislação não nos permite comercializar biogás, mas sim biometano, fazendo a purificação. Ainda está distante, mas podemos pensar em usar na nossa frota ou comercializar. Isso ficará nas rodas de discussão da diretoria”, afirmou Juliana Pires.
A LDC, que é também uma das principais tradings de grãos do mundo, tem ampliado a aposta no suco de laranja. Em julho do ano passado, inaugurou dois tanques para armazenamento e pasteurização de suco de laranja não concentrado (NFC, na sigla em inglês) em sua unidade em Matão (SP), com o desembolso de US$ 25 milhões. No mesmo ano, investiu US$ 5 milhões em rampas para acelerar o descarregamento de laranjas dos caminhões e US$ 2 milhões em extratoras de óleos tecnológicas.
A empresa investiu ainda no aumento da capacidade de armazenamento e produção de “blend” de NFC no terminal de Santos (SP) e em suas instalações de processamento em Ghent, na Bélgica.
A multinacional também está ampliando a fabricação de subprodutos, como óleos essenciais e células (gominhos de laranja), e o uso de bagaço para ração. A casca da fruta é base para produção de pectina, fibra usada na alimentação animal e humana.
Como a fruta é usada por completo pela empresa, a LDC nunca cogitou fazer biogás a partir de resíduos sólidos. “Seria uma perda financeira, em vez de um ganho”, afirmou Hldadchuk.
No primeiro semestre de 2024, a LDC teve receita líquida de US$ 25,6 bilhões, bastante semelhante ao resultado o mesmo período do ano anterior. O lucro líquido atribuído ao grupo foi de US$ 489 milhões, 14% menos que um ano antes. No Brasil, o último dado disponível refere-se a 2023, quando o lucro líquido da empresa cresceu 13 vezes em relação a 2022 e somou R$ 687,3 milhões, enquanto a receita caiu 5,8%, para R$ 42,9 bilhões (Globo Rural, 11/3/25)