Leite brasileiro entra no radar de empresas do exterior, diz executivo
Legenda: Thomas Domhoff, presidente-executivo da Castrolanda Cooperativa Agroindustrial
Para presidente da Castrolanda, urbanização na China e na Índia aumenta potencial do produto.
China e Índia vão abrir um bom caminho para dois produtos brasileiros nos próximos anos: leite e carne suína. Urbanização e mais consumidores nas cidades vão elevar a demanda interna nesses gigantes populacionais.
A avaliação é de Thomas Domhoff, presidente-executivo da Castrolanda Cooperativa Agroindustrial. O Brasil, por ora, é pouco competitivo no leite, mas ele crê que a produtividade vá subir, aumentando o potencial de exportação.
No caso dos suínos, essa evolução é certa devido às dificuldades sanitárias da China. A peste suína africana, que começou a afetar o país asiático em 2018, provocará ruptura na produção e na oferta interna de carnes no país asiático por pelo menos dez anos.
No caso do leite, Domhoff acredita que é possível alta de produção em todas as regiões, mesmo nas mais quentes. O ganho de produtividade dos principais polos atuais se espalhará para outras regiões.
Em Campos Gerais (PR), área de colonização centenária de produtores vindos da Holanda, a expansão da produção é de 8% a 10% ao ano.
A produtividade média diária de leite por vaca atinge de 28 a 35 litros nas cooperativas Frísia, Castrolanda e Capal. Em três anos, esse patamar deverá estar próximo dos 50 litros, acredita Domhoff.
A Unium, marca institucional dessas cooperativas, se prepara para a industrialização diária de um volume de leite superior aos 3,4 milhões atuais. Aumento de plantel e da produtividade é a chave para essa evolução.
O presidente-executivo da Castrolanda diz que o Brasil tem condições de avançar por meio da criação de modelos e de absorção de tecnologias. Mas o país ainda tem uma dificuldade grande em assimilar as novas tecnologias externas devido às barreiras de comunicação. Por não falar inglês, o produtor viaja pouco e, quando viaja, o aproveitamento é pequeno.
Para derrubar as barreiras da comunicação e, consequentemente, a dificuldade na compreensão de novas tecnologias, a cooperativa terá uma universidade corporativa.
Essa comunicação com o exterior é importante, na avaliação de Domhoff, porque grandes empresas do exterior, tanto da China como da Índia e da Europa, começam a se interessar pelo país. Um aumento da produção média nacional, hoje abaixo de 10 litros, para 30 deixaria o Brasil em uma situação confortável no mercado externo.
As vendas externas também estão na meta das três cooperativas, que industrializam lácteos, grãos e proteína animal. Vão aumentar a oferta de produtos processados para o mercado interno e buscar o externo. Em três anos poderemos ter “algo mais sério no exterior para o leite”, diz.
A Unium comercializa apenas de 3% a 7% de seus produtos no varejo. O restante são negócios “B2B” (de empresa para empresa).
Essas cooperativas esperam também aproveitar o bom momento do mercado de suínos. A queda de produção na China vai provocar alta na demanda e nos preços.
Mesmo quem não fizer vendas diretas para os chineses se aproveitará, em outros países, do vácuo deixado pelos exportadores para a China.
Domhoff acredita no potencial brasileiro do agronegócio, principalmente no leite, porque o país é um dos poucos onde ainda há sucessão familiar e interesse dos jovens pelos negócios do campo.
Esse processo exige, porém, investimentos em sanidade animal, em aumento de volume produzido, em melhoria na qualidade da carne, que passa até por uma mudança no padrão da ração, e na gestão. Esta não apenas com relação aos negócios mas também com o trato dos animais (Folha de S.Paulo, 11/6/19)