Leite: O que esperar para 2018?
Certamente 2017 será lembrado como um ano difícil para a pecuária leiteira, visto que foi marcado pela grande volatilidade dos preços ao produtor, que chegaram, no último trimestre, aos menores patamares dos últimos cinco anos (valores reais deflacionados pelo IPCA dez/17), segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Para 2018, o cenário deve ser mais positivo, pois alguns fatores sinalizam a diminuição do desequilíbrio entre demanda e oferta, o grande “vilão” de 2017.
Do lado da demanda, as perspectivas de recuperação da atividade econômica devem melhorar as vendas. A taxa de juros e a inflação devem continuar em queda e o PIB deve crescer entre 2% e 3%, segundo o último Boletim Focus. Nesse cenário, espera-se a contínua melhora da taxa de emprego e do consumo interno. Conforme apontam pesquisadores do Cepea, a demanda por lácteos, especialmente iogurtes e queijos (com exceção do leite longa-vida), é elástica à renda – ou seja, o consumo aumenta à medida que o poder de compra se eleva.
No que se refere à oferta, o crescimento da produção em 2018 deve ser menor do que o observado em 2017. Algumas projeções do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) indicam que a produção de leite deve crescer a uma taxa anual entre 2,1% e 3% nos próximos 10 anos, mas a difícil crise enfrentada pelo setor em 2017 pode ser fator de grande desestímulo. A queda drástica dos preços no segundo semestre de 2017 prejudicou as margens dos produtores e, para uma parcela mais vulnerável, estimulou o abate de vacas, a mudança de padrão genético do rebanho e a cria de bezerros para uma gradual transição para o mercado de corte. Para outra parcela, a menor receita se traduziu em diminuição dos investimentos direcionados à produção (como postergar a reforma das pastagens), o que pode resultar na perda de volume e da qualidade da produção em 2018.
Além disso, o custo do concentrado, principal insumo da atividade, pode ser um pouco mais elevado por conta dos preços do milho. Os baixos preços do cereal na safra 2016/17 devem reduzir a produção deste ano, que, segundo a Conab, deve cair 4,7%. Apesar dessa diminuição, o alto estoque de passagem deve manter elevada a disponibilidade interna do cereal, impedindo grandes oscilações de preços. Mesmo assim, é importante destacar que o consumo de milho deve continuar em alta – no mercado internacional, inclusive, a perspectiva é de estoques menores. Todos esses fatores indicam que a expansão da capacidade produtiva de leite deve ser limitada em 2018, o que pode refletir em preços mais elevados tanto para o produtor quanto para a indústria.
Ao mesmo tempo, é necessário observar também que a produção mundial de leite deve aumentar em relação a 2017, impulsionada pelos preços dos lácteos mais elevados no último ano. Dessa forma, os valores no mercado internacional devem ficar ligeiramente menores. Se a taxa de câmbio permanecer estável, é possível que, nesse cenário de menor produção interna e recuperação do consumo, as importações de lácteos voltem a crescer em 2018.
Ainda que esses fatores despontem como possibilidades para 2018, não é possível ignorar as instabilidades e incertezas relacionadas à próxima eleição presidencial. Além disso, o La Niña pode ocorrer neste início do ano, podendo reduzir as chuvas, principalmente no Sul/Sudeste.
Diante disso, cautela é sempre necessária para definir investimentos. No entanto, operar com o menor nível de investimento possível só aumenta a vulnerabilidade frente às pressões de mercado, eventos climáticos extremos e depreciação dos fatores produtivos. Assim, é importante saber onde, como e o motivo de investir, focando na maximização da eficiência produtiva.
O conhecimento sobre os indicadores internos da fazenda técnicos e financeiros são de extrema importância na priorização desses investimentos. Com os números em mãos, o estabelecimento de metas e o planejamento para alcançá-las se torna possível. Os produtores que trabalham constantemente com o intuito de obter indicadores, como taxa de mortalidade pré-desmama abaixo de 3%, intervalo entre partos de 12 a 14 meses e 80% de vacas do rebanho em lactação, são mais eficientes em relação à média nacional. Certamente, eles vão obter resultados financeiros melhores e estão menos propensos a abandonar a atividade leiteira.
Os baixos preços em 2017 mostraram as fragilidades da cadeia láctea brasileira, mas também provaram que os produtores que se mantiveram na atividade direcionaram seus negócios com foco em margem e não em preços. Isso envolve ser eficiente. Só assim é possível ao pecuarista estar atento às oscilações do presente e ter tempo hábil para reorganizar o seu planejamento de médio e longo prazos (Esalq/USP, 10/1/18)