21/05/2021

Leite: Preço pago ao produtor sobe em maio; custos prejudicam rentabilidade

Leite: Preço pago ao produtor sobe em maio; custos prejudicam rentabilidade

O preço do leite pago ao produtor deve registrar valorização no pagamento de maio (que se refere à captação de abril). A cotação do litro do produto deve ultrapassar R$ 2,00, na "Média Brasil" ponderada líquida, levando em conta as bacias leiteiras dos Estados da BA, GO, MG, SP, PR, SC e RS. A projeção preliminar é do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea, da Esalq/USP).

Segundo os pesquisadores, a alta é resultado da oferta limitada de leite no campo, por causa do clima seco e da elevação dos custos de produção. Em abril, a cotação atingiu recorde para o mês: R$ 1,9837 o litro.

"Como é de se esperar, o menor volume de chuvas nesta época do ano diminui a disponibilidade e a qualidade das pastagens, afetando negativamente a alimentação volumosa do rebanho e a produção de leite", diz o Cepea, em boletim mensal. Com a oferta reduzida, observa-se a elevação sazonal dos preços no campo entre março e agosto. "Contudo, neste ano, a seca tem sido mais intensa, atingindo com gravidade importantes bacias leiteiras do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do País", continua o Cepea. Além das pastagens, a falta de chuvas tem diminuído também a produtividade das lavouras de milho e a qualidade da silagem de produtores de leite.

Conforme o Cepea, para agravar a situação, os custos de produção vêm registrando altas consecutivas. "Insumos importantes para a produção de volumoso, como adubos e fertilizantes, são importados, e a desvalorização cambial tem elevado as cotações desses produtos. Ao mesmo tempo, os custos com concentrado continuam elevados, refletindo a menor disponibilidade de grãos no mercado interno", comentam os pesquisadores.

O Cepea destaca, entretanto, que, "mesmo com a valorização do leite no campo, a margem do produtor tende a continuar prejudicada". A dificuldade em manter a atividade rentável tem levado muitos produtores a aumentar o abate de vacas, uma vez que as cotações no mercado de corte estão atrativas. Contudo, o descarte de vacas é um indicador de que a produção de leite deve demorar a se elevar, mesmo diante do estímulo dos preços, o que deve reforçar o cenário de limitação da oferta nos próximos meses.

A desvalorização do real frente a outras moedas tem limitado as importações de lácteos, favorecendo a maior competição entre indústrias pela matéria-prima.

Conforme o Cepea, a oferta limitada de leite provocou impacto negativo nos estoques de derivados lácteos nas indústrias e atacados em abril. A pesquisa do Cepea realizada com apoio financeiro da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) mostrou que os laticínios têm conseguido repassar a alta da matéria-prima aos derivados. No entanto, o menor poder de compra do consumidor e a pressão dos canais de distribuição limitaram maiores valorizações. É importante ressaltar "que o aumento do desemprego, a elevação da inflação e o avanço da pandemia têm fragilizado a demanda, o que pode frear a intensidade da valorização do leite no campo, mesmo no contexto de baixa disponibilidade e custos elevados", conclui o Cepea (Broadcast, 20/5/21)