Leite tem preço recorde no campo em agosto
ORDENHA MECÂNICA DE LEITE Foto Dairy Cattle Milking.jpg
Alta foi de 12% neste mês e acumula aumento real de 61% durante o ano.
O leite nunca esteve tão caro no campo como neste início de segundo semestre. A matéria-prima entregue pelo produtor à indústria, em julho, cujo pagamento é feito neste mês, subiu para R$ 3,57 por litro, conforme uma média de valores de sete estados produtores.
Em relação a julho, o aumento real foi de 11,8%. Em alguns estados, como ocorreu no Espírito Santo —que não está na média dos sete—, a evolução do mês chegou a 20,7%, segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Com essa alta de agosto, o preço médio do leite registra o maior patamar, em termos reais, desde 2004, quando a entidade iniciou a pesquisa. Apenas neste ano, o leite já acumula uma evolução real de 60,7%.
Com tanta aceleração no campo, o aumento chega ao bolso dos consumidores. O IGP-M da FGV deste mês indicou o leite como um dos principais fatores de alta da inflação no atacado. O leite "in natura" subiu 13%, e o longa vida, 9,27% no mês.
A alta dos preços ocorre devido a uma baixa disponibilidade de produto no mercado. Essa queda na oferta está relacionada a mudanças de comportamento dos produtores e à forte seca do período.
Com custos elevados, houve menos investimentos por parte dos produtores nos últimos anos e, consequentemente, queda na oferta, segundo Natália Grigol, pesquisadora do Cepea.
A produção está abaixo do esperado, e a disputa pelo produto entre as indústrias leva os preços para esse valor recorde.
O cenário, porém, muda a partir de setembro, segundo a pesquisadora. Os preços subiram demais, a demanda caiu, e os valores do leite já estão se acomodando no varejo. Com isso, as indústrias vão pagar menos pelo produto no campo.
Além disso, a alta acelerada dos preços e um recuo no custo da ração levaram os produtores a retomar a produção. O quadro de oferta pode ter uma melhora ainda maior porque o retorno das chuvas desenvolve mais as pastagens.
Demanda enfraquecida, importações crescentes —em julho aumentaram 27%— e recuperação da produção no campo vão provocar uma forte queda nos preços no campo em setembro, segundo Natália (Folha de S.Paulo, 31/3/22)