Livro mostra que agro brasileiro se comunica muito mal lá fora
MARCOS JANK REVISTA GLOBO RURAL
O agronegócio brasileiro se comunica muito mal lá fora. Além disso, a regulamentação ambiental e climática do setor deve melhorar para que o País consiga se inserir e conquistar mais mercados, disse há pouco o coordenador do Insper Agro Global, Marcos Jank, em webinar de lançamento do livro "O Brasil no agronegócio global: reflexões sobre a inserção do agronegócio brasileiro nas principais macrorregiões do planeta". O livro, com 9 capítulos, é resultado da interação de alunos participantes do curso de Educação Executiva do Insper "O Brasil no Agronegócio Global", juntamente com pesquisadores do Centro de Agronegócio Global.
Segundo Jank, o País enfrenta "um problema gravíssimo de comunicação de sua imagem e dos produtos brasileiros no exterior". "O Brasil exporta commodities, que não chegam ao consumidor final, mas é bom lembrar que a imagem do Brasil chega ao consumidor final", alertou. Para o professor do Insper, trata-se de uma questão importante, "principalmente neste momento, em que há a questão ambiental, sanitária e geopolítica em jogo", disse.
Assim, ele relata que a questão de comunicação e imagem é o ponto principal, que aparece em todos os capítulos do livro no quesito de "recomendações políticas". Outro ponto, segundo Jank, é a necessidade de uma melhor regulamentação ambiental e climática. "Principalmente depois da pandemia de covid-19", disse. "Temos de trabalhar com muito mais atenção nesses aspectos porque isso pode prejudicar nossa inserção internacional."
Entre outras análises do livro, que já dispõe de edição digital (https://www.insper.edu.br/wp-
Em relação à Europa, Jank alertou que, embora o market share do Brasil no bloco tenha caído ao longo dos anos, é necessário focar esforços lá "porque a União Europeia é formadora global de opinião". Jank lembrou, ainda sobre o bloco europeu, que o agronegócio brasileiro já chegou a destinar metade de suas exportações para lá e hoje elas não representam mais do que 16%. Disse também que o green deal "pode virar um instrumento protecionista importante" num continente já bastante protecionista.
De todo modo, ele citou que o livro demonstra que o Brasil é bastante diversificado em destinos para exportação. "Apesar da concentração na Ásia, com a China perfazendo 35% do faturamento dos embarques externos brasileiros, exportamos para grande quantidade de outros países", disse ele, acrescentando que neste ano o agro brasileiro deve faturar US$ 115 bilhões em exportações - 35% deste valor graças ao gigante asiático. "Mesmo assim, o Brasil é diversificado em destinos, apesar de termos concretizado poucos acordos comerciais, contribuindo com 6% a 7% das exportações mundiais."
Outra necessidade premente do agronegócio brasileiro é diversificar sua pauta de exportações. Para os Estados Unidos, por exemplo, o Brasil tem uma pauta muito concentrada, com carne bovina e laranja. "Na prática, somos concorrentes dos Estados Unidos, em relação à exportação de grãos." Mas Jank assinalou que países latino-americanos exportam para lá frutas, pescados e castanhas, produtos nos quais o Brasil é insignificante no mercado externo. "Nós, infelizmente, atuamos apenas com commodities, produtos dos quais os EUA são nossos concorrentes, e não nossos compradores."
Quanto à China, apesar de o gigante asiático ser o principal comprador de produtos do agronegócio brasileiro, ainda falta "credenciar o Brasil como fornecedor confiável e de longo prazo", disse. "Basta ver o recente episódio de suspensão das exportações de carne bovina para a China." Para o professor do Insper, as relações com a China têm sido, "infelizmente, muito oportunistas e de curto prazo", com sucessivas aberturas e suspensões de comércio. Então, para Jank, "é preciso trabalhar este mercado e principalmente não atacar a China desnecessariamente, como temos visto recentemente" (Broadcast, 18/11/21)