28/08/2018

Longa estiagem ameaça reduzir produção de cana no Centro-Sul do Brasil

Longa estiagem ameaça reduzir produção de cana no Centro-Sul do Brasil

Recuo da safra atual supera a produção de todo o PR; SP é o estado mais afetado pela seca.

A longa estiagem de 2018, que em algumas cidades paulistas se aproximou de 120 dias, pode resultar em uma redução na produção de cana-de-açúcar de até 40 milhões de toneladas na atual safra.

Enquanto na safra 2017/18, encerrada em março, a produção alcançou 596 milhões de toneladas de cana moídas pelas usinas, no período 2018/19 o montante pode ser de até 556 milhões.

A diferença, que representa 6,71%, é maior, por exemplo, que toda a produção do Paraná na última safra. Quinto maior produtor de cana, o estado moeu 37 milhões de toneladas.

Dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) mostram que de abril a junho o impacto da seca não foi grande, pois foi colhida a cana que cresceu nos meses do verão.

Embora o acumulado da safra aponte redução de produtividade até julho de 1,7%, só no mês passado a perda alcançou 5,7%, com expectativa de alta nos próximos meses, segundo Luciano Rodrigues, economista da Unica.

"A safra está mais avançada, 7% em relação ao ano passado, porque caiu a produtividade e o tempo seco facilitou a colheita. Acreditamos que a redução pode ficar entre 30 milhões e 40 milhões de toneladas de cana", afirmou.

O principal estado atingido é São Paulo, que responde por cerca de 80% da queda de produção até julho, com destaque negativo para o noroeste paulista --região de São José do Rio Preto e Araçatuba.

Pesquisadora do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, Evelise Rasera Bragato disse que o cenário indica que as perdas podem ser grandes, mas compensadas em parte pela qualidade da cana.

Sem chuva, aumenta o chamado ATR (Açúcar Total Recuperável), que indica a qualidade da cana.

De acordo com ela, a seca deve impactar os preços de etanol a partir de outubro, quando algumas usinas podem encerrar a produção.

"Quando deveria ter chovido, não choveu, como em março, que era um mês crucial para o desenvolvimento da cana. Abril também foi seco, assim como maio, e foi se perdendo", disse.

Rodrigues disse que a cana que está sendo colhida é mais rica em termos de açúcar, que até agora está 5% superior ao da safra anterior.

"Achamos que no fim da safra deveremos ter 4 quilos de ATR a mais por tonelada de cana, o que deve compensar um pouco [a perda de produtividade por causa da seca]", disse.

Ainda segundo a Unica, mantendo a tendência atual, a produção de açúcar deve ser 8 milhões de toneladas inferior à da safra 2017/18. Mas a redução na produção de cana não deve atrapalhar o etanol.

Até julho, 63,5% da cana moída era direcionada à fabricação de etanol, cujos preços compensam mais às usinas atualmente. Na safra passada, o índice era de 51,5% nessa mesma época (Folha de S.Paulo, 28/8/18)