27/02/2025

Lucro da Petrobras cai 70% em 2024, para R$ 36,6 bilhões

Lucro da Petrobras cai 70% em 2024, para R$ 36,6 bilhões

LULA E MAGDA Foto Adriano Machado - Reuters

 

Resultado veio menos da metade do esperado pelo mercado, com pressão do dólar e queda em indicadores como produção e vendas; no quarto trimestre, prejuízo foi de R$ 17 bilhões

 

Petrobras registrou lucro de R$ 36,6 bilhões em 2024, queda de 70% em relação ao verificado em 2023. A companhia diz que o resultado reflete a desvalorização do real frente ao dólar, que levou a um prejuízo de R$ 17 bilhões no quarto trimestre, contra lucro de R$ 33 bilhões no mesmo período do ano anterior.

 

Ainda assim, a estatal anunciou nesta quarta-feira (26) que vai distribuir mais R$ 9,1 bilhões em dividendos pelo resultado de 2024, elevando para R$ 75,8 bilhões o valor aprovado ao longo de 2024 para remuneração aos acionistas.

 

Os ADR (recibos de ações negociadas em Nova York) da Petrobras caíam 7,17% no after market por volta das 22h desta quarta-feira (26), para US$ 13,29.

 

O lucro anual ficou menos da metade do projetado por bancos ouvidos pela Bloomberg, que esperavam US$ 14,6 bilhões (R$ 83 bilhões pela cotação atual). A empresa decidiu realizar ainda na noite desta quarta uma teleconferência com analistas para explicar o desempenho.

 

A presidente da companhia, Magda Chambriard, disse no balanço que o resultado "se deve, fundamentalmente, a uma questão de natureza contábil que não afeta nosso caixa: a variação cambial das dívidas entre a Petrobras e suas subsidiárias no exterior".

 

O resultado financeiro da companhia ficou negativo em R$ 82,5 bilhões. O diretor financeiro da estatal, Fernando Melgarejo, disse que é resultado de "operações financeiras entre empresas do mesmo grupo, que geram efeitos opostos que ao final se equilibram economicamente".

 

"Isso porque a variação cambial nestas transações entra no resultado líquido da holding no Brasil e impactou negativamente o lucro de 2024. Ao mesmo tempo, houve impacto positivo direto no patrimônio", disse.

 

Analistas ouvidos pela Folha afirmam que o principal motivo para o prejuízo da estatal no quarto trimestre foi a desvalorização do real. O dólar fechou 2024 cotado a R$ 6,179, com alta de 27,50% durante o ano. Nesta quarta, a moeda terminou o dia no valor de R$ 5,796.

 

"A queda no lucro é um efeito contábil apenas, por causa da parcela da dívida em dólar, que também sobe quando o dólar sobe. Só que isso não é o fim do mundo, porque a empresa vende petróleo em dólar", afirma Ruy Hungria, analista da Empiricus.

 

Agora no primeiro trimestre, com a recente queda do valor da moeda americana em relação ao real, a tendência é que as contas se equilibrem.

 

"Prevejo que no primeiro trimestre de 2025 ela [a Petrobras] vai reportar um lucro tão grande que vai compensar o prejuízo do último trimestre", diz Lucas Sigu Souza, sócio-fundador da Ciano Investimentos.

Magda defendeu no balanço que "o excelente resultado operacional e financeiro de 2024 demonstra, mais uma vez, a capacidade da nossa empresa de gerar valores que são revertidos para a sociedade e para os nossos investidores", afirmou a executiva.

 

Desconsiderando os eventos extraordinários, diz a Petrobras, o lucro de 2024 ficaria em R$ 102,9 bilhões, uma queda de 19,7% em relação ao lucro recorrente de 2023.

 

A diferença, afirmou a companhia, reflete a "deterioração do ambiente externo com a redução do preço do petróleo e das margens internacionais do segmento de refino, além de menores volume de produção de petróleo".

 

Mas foi um ano de queda em indicadores operacionais importantes para a estatal. A produção de petróleo caiu 3%, para 2,7 milhões de barris de óleo equivalente (somado ao gás) por dia, reflexo de paradas para manutenção em plataformas marítimas.

 

A Petrobras também registrou em 2024 queda nas vendas de dois de seus principais combustíveis: as vendas de gasolina caíram 4,1% e as de diesel, 2,8%. O preço de venda da cesta de derivados produzida pela empresa caiu 4,6% em relação a 2024, para R$ 485,55 por barril.

 

As margens de suas duas principais áreas de negócio também caíram durante o ano. A de exploração e produção ficou 5% abaixo de 2023 e a de refino teve queda de 2%. Os dois segmentos tiveram forte queda de lucro no ano: no primeiro caso, de 13%, e no segundo, de 35,3%.

 

A estatal passou o ano com poucos reajustes nos preços dos combustíveis, apesar da forte volatilidade nos preços do petróleo. Na gasolina, promoveu apenas um aumento. No diesel, nenhum —só veio a repassar a alta de custos sobre o produto no início de fevereiro.

 

A Petrobras disse que o valor dos dividendos é compatível com sua sustentabilidade financeira e está alinhado à sua política de remuneração aos acionistas, que prevê a distribuição de 45% do fluxo de caixa livre sempre que a dívida estiver menor do que teto indicado em seu planejamento estratégico.

 

A empresa fechou o ano com endividamento bruto, o indicador usado para definir dividendos, de US$ 60,3 bilhões (R$ 343 bilhões), queda de 3,8% em relação ao último dia de 2023.

 

Magda afirmou que a empresa vem ampliando investimentos, buscando "oportunidades de diversificação rentável" e dando primeiros passos no retorno à petroquímica, uma das missões que ganhou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

 

"Estamos avançando nos estudos de parcerias com grandes players para a produção de etanol, além da iniciativa, também em colaboração com parceiros, para produção de e-metanol, que visa implantar a primeira planta em escala comercial no Brasil, entre outras iniciativas de descarbonização", disse.

 

A Petrobras patrocinou nas últimas semanas duas cerimônias para apresentar investimentos ao lado de Lula, que vem rodando o país em busca de melhorar sua popularidade —a pior de suas três gestões, segundo o Datafolha.

 

Nesses eventos, Magda tem prometido acelerar investimentos e apoiar a indústria nacional, um dos focos da visão desenvolvimentista de governos petistas para a estatal (Folha, 27/2/25)