14/03/2024

Lula diz que agronegócio precisa dar 'salto de qualidade' no Brasil

Lula diz que agronegócio precisa dar 'salto de qualidade' no Brasil

LULA Foto Reuters

 

Presidente participa de inauguração de complexo que produzirá fertilizantes para a agricultura.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quarta-feira (13) que o Brasil precisa de um "salto de qualidade" no agronegócio para justificar o investimento do país em ciência e tecnologia.

"O nosso café ainda precisa de divulgação, de mais qualidade e preparo. Porque o Brasil, embora seja o maior produtor de café, quem ganha mais dinheiro são Itália e Alemanha, que fazem mais torrefação e vendem as máquinas mais modernas e fazem o café expresso, que adoramos. Nós precisamos dar um salto de qualidade para que a gente possa fazer jus ao grau de investimento que a gente fez em tecnologia, ciência e genética", disse Lula.

O presidente ainda afirmou que, na década de 1970, segundo ele, o cerrado era visto como "terra imprestável". "Depois, houve o manejo na terra, passou a ser a região mais produtiva. Houve também o avanço do café brasileiro, não da capacidade de produção, mas da qualidade. As pessoas têm café de qualidade e o mundo precisa aprender que o Brasil produz café de qualidade."

As falas foram proferidas durante a inauguração do Complexo Mineroindustrial da EuroChem, em Serra do Salitre, no Triângulo Mineiro, a 368 quilômetros da capital Belo Horizonte.

Com investimento de US$ 1 bilhão, essa é a primeira unidade de mineração da empresa fora do continente europeu.

Participaram do evento também os ministros Rui Costa (Casa Civil), Carlos Fávaro (Agricultura) e Alexandre Silveira (Minas e Energia), além do vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB).

Adversário político de Lula, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), esteve na cerimônia. Lula chegou a dizer que não pergunta a governadores para qual time eles torcem no estado. O presidente costuma dizer que trata os gestores estaduais com igualdade, independentemente de partido político.

De acordo com o governo, a previsão é que o complexo em Serra do Salitre chegue a fornecer 1 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados por ano para a agricultura brasileira, o equivalente a 15% da produção nacional. Toda a produção do complexo será destinada ao mercado interno.

Segundo Lula, a empresa assumiu o compromisso de contratar mulheres para que elas sejam ao menos 30% do quadro de funcionários. O presidente citou, em discurso, a lei aprovada pelo Congresso Nacional que prevê igualdade salarial entre homens e mulheres que ocupem a mesma função.

Lula também incluiu a prostituição entre coisas que considera ruins. O presidente acumula uma série de gafes desde o período da pré-campanha eleitoral. Com temas variados, a verborragia do petista tem deixado o campo do folclore político e passado a preocupar aliados e integrantes do governo, como mostrou a Folha.

"As pessoas não aprenderam uma filosofia muito básica que é o seguinte. Numa nação em que tem pouca gente muito rica, a cara dessa nação o que é? É pobreza, desnutrição, prostituição, violência, é crime, é tudo que não presta. Mas quando você tem uma nação muita gente com pouco dinheiro significa distribuição de renda e que todo mundo vai viver bem", disse.

 O complexo integra desde a extração do fosfato, matéria-prima principal, até a produção de fertilizantes granulados. Além de 1 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados, a planta industrial produzirá 1 milhão de toneladas anuais de ácido sulfúrico e 240 mil toneladas de ácido fosfórico, subprodutos usados no processo de produção do próprio fertilizante.

O empreendimento tem área total de quase 20 milhões de metros quadrados. A companhia espera envolver mais de 1.500 colaboradores, com atuação direta, indireta e contínua na operação. Durante as obras, foram gerados 3.500 empregos diretos no complexo (Folha, 14/3/23)


Fala de Lula reflete 'percepção dicotômica' sobre café brasileiro, diz indústria

Por David Lucena

Presidente disse que, embora Brasil seja o maior produtor, 'quem ganha dinheiro são Itália e Alemanha'.

 

A indústria de café do Brasil disse que as declarações do presidente Lula "estão em consonância com a percepção dicotômica que existe em relação ao café brasileiro".

"O Brasil, maior produtor e responsável pela produção de 40% do café consumido em todo o mundo, fica com uma fatia de apenas 16% do mercado global no comércio do café, enquanto a Suíça e a Alemanha têm, respectivamente, 9% e 8%", diz a Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café) em nota enviada ao Café na Prensa.

"Para que haja uma mudança significativa nesse cenário, a Abic entende que é necessário investir ativamente na promoção e no marketing do café brasileiro", diz a entidade que representa os industriais.

Nesta quarta (13), em evento de inauguração do Complexo Mineroindustrial da EuroChem, em Serra do Salitre, no Triângulo Mineiro, o presidente afirmou que o café brasileiro "ainda precisa de mais divulgação, de mais qualidade e de mais preparo".

"Porque o Brasil, embora seja o maior produtor de café, quem ganha muito dinheiro com café são Itália e Alemanha, que fazem mais torrefação e vendem as máquinas mais modernas e fazem o café espresso, que todos nós adoramos", afirmou.

"Nós precisamos então dar um salto de qualidade para que a gente possa fazer jus ao grau de investimento que a gente fez em tecnologia, ciência e genética", disse Lula.

 

Apesar disso, o presidente afirmou que houve um avanço no café brasileiro. "Não da capacidade produtiva, mas da qualidade do café", disse.

"O mundo precisa aprender que o Brasil é um produtor de café de muita qualidade. Porque ainda hoje o café colombiano é mais divulgado do que o nosso, embora a gente seja o maior produtor de café do mundo."

A Abic reconhece que a Colômbia utilizou uma forte campanha de marketing para promover o seu café ao longo de décadas, "o que resultou em uma percepção de qualidade maior em comparação com o café brasileiro".

"O resultado deste investimento bem feito no marketing do café colombiano fez com que o país, mesmo produzindo seis vezes menos que o Brasil, tenha 8% da fatia do comércio global", diz a Abic.

A internacionalização do café torrado, pronto para consumo, de fato é uma das prioridades da indústria cafeeira do Brasil, como havia noticiado o Café na Prensa.

O país é o maior produtor mundial do grão. É também o líder global na exportação do grão verde, que é industrializado —torrado, moído e embalado— por empresas no exterior.

case da Colômbia é frequentemente apontado como exemplo para o setor. Apesar de ter uma produção muito menor do que a do Brasil, o país conseguiu criar uma imagem internacional de excelência do seu café.

Agora, a indústria brasileira tenta levar para o mundo a mensagem de que o Brasil não tem apenas quantidade, mas também qualidade.

 

De fato, o Brasil sempre foi visto internacionalmente como produtor de café commodity –de qualidade inferior–, e não de bebidas sensorialmente complexas –fama que acabava ficando com Colômbia e Etiópia, por exemplo.

A realidade, no entanto, vem mudando. Atualmente, o Brasil tem um cultivo enorme de cafés especiais com elevadas pontuações na escala de avaliação sensorial da SCA (Specialty Coffee Association), considerado o principal padrão de verificação de qualidade do setor.

CERRADO

O presidente ainda afirmou que, na década de 1970, segundo ele, o cerrado era visto como "terra imprestável". "Depois, com o manejo daquela terra, o cerrado passou a ser a região mais produtiva desse país".

Procurado pelo Café na Prensa, Juliano Tarabal, diretor executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, destacou a importância da presença de Lula na região, mas afirma que "'dentro da porteira' o produtor brasileiro cumpre muito bem com seu dever de casa, produzindo com alta qualidade como também sustentabilidade".

"O atual campeão mundial em qualidade pela globalmente conhecida Illy Café é um produtor brasileiro aqui do Cerrado Mineiro", diz Tarabal.

"Concordo com o presidente que precisamos divulgar mais. Na verdade, o Brasil enquanto país não possui uma estratégia de marca e um plano de longo prazo que considere toda a cadeia, como também não utilizamos de forma estratégica para promoção os cerca de R$ 6 bilhões do Funcafe", diz.

Veja abaixo as notas da Abic e de Tarabal ao Café na Prensa:

Abic:

As observações feitas pelo Presidente da República estão em consonância com a percepção dicotômica que existe em relação ao café brasileiro. Ao longo dos seus mais de 50 anos de atuação, a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) trabalha em defesa da qualidade do café nacional e em prol do aumento no consumo per capita. A entidade foi pioneira na implementação da certificação da indústria nacional. O aumento no consumo per capita dos brasileiros saiu de 2,2 kg em 1989 para 5,12 kg em 2023, uma média de quatro xícaras por dia, o que materializa o trabalho promovido pela ABIC e seus associados na entrega de um café cada vez melhor à mesa dos brasileiros.

O Brasil, maior produtor e responsável pela produção de 40% do café consumido em todo o mundo, fica com uma fatia de apenas 16% do mercado global no comércio do café, enquanto a Suíça e a Alemanha têm, respectivamente, 9% e 8%. Para que haja uma mudança significativa nesse cenário, a ABIC entende que é necessário investir ativamente na promoção e no marketing do café brasileiro. A Colômbia utilizou uma forte campanha de marketing para promover o seu café ao longo de décadas, o que resultou em uma percepção de qualidade maior em comparação com o café brasileiro. O resultado deste investimento bem feito no marketing do café colombiano fez com que o país, mesmo produzindo seis vezes menos que o Brasil, tenha 8% da fatia do comércio global.

A ABIC reafirma o seu compromisso diário com a promoção da qualidade do produto nacional e o apoio incondional à indústria cafeeira brasileira, e reitera o seu posicionamento de que parte dos fundos do Funcafé devam ser destinados para promover a marca Cafés do Brasil no Brasil e no mundo. Dessa forma, é possível fazer com que uma justa parte da riqueza promovida pelo café no mundo fique nas mãos dos nossos produtores, das nossas indústrias e do nosso país.

Juliano Tarabal, diretor executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado:

Muito importante a presença de Sr. Luiz Inácio Lula da Silva como Presidente do Brasil na região do Cerrado Mineiro nesta inauguração da Eurochem. No que tange às declarações do presidente em relação à cafeicultura, entendemos que "dentro da porteira" o produtor brasileiro cumpre muito bem com seu dever de casa, produzindo com alta qualidade como também sustentabilidade. O atual campeão mundial em qualidade pela globalmente conhecida Illy Café é um produtor brasileiro aqui do Cerrado Mineiro. No que tange à sustentabilidade, nosso país também é líder mundial em área certificada, e temos um movimento crescente em agricultura regenerativa, onde aqui no Cerrado Mineiro já temos quase 30.000 hectares certificados. Concordo com o presidente que precisamos divulgar mais. Na verdade, o Brasil enquanto país não possui uma estratégia de marca e um plano de longo prazo que considere toda a cadeia, como também não utilizamos de forma estratégica para promoção os cerca de R$ 6 bilhões do Funcafe. Fica esta sugestão ao sr. presidente, para qual nós do Cerrado Mineiro e as demais 14 Regiões do Brasil que possuem Indicação Geográfica em conjunto com demais instituições representativas estamos à disposição em colaborar e construir uma agenda coletiva e progressista (Folha, 14/3/24)