04/08/2023

Lula diz querer continuar sonhando com exploração de petróleo no Amazonas

Lula diz querer continuar sonhando com exploração de petróleo no Amazonas

LULA - Foto Rahel Patrasso - Xinhua

Presidente acrescentou que decisão do Ibama não é definitiva e que Petrobras vai ter cuidado nos trabalhos de prospecção.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (3) que o seu governo não descartou a prospecção e exploração de petróleo na região da Foz do Amazonas, acrescentando que a decisão do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) não é definitiva.

O mandatário acrescentou que quer "continuar sonhando" com a exploração de petróleo na região, mas que seu governo terá todo o cuidado.

Lula concedeu entrevista a rádios da região amazônica. Em determinado momento, foi questionado por um jornalista do estado do Amapá se ele poderia continuar sonhando com a exploração de petróleo na costa do Amapá ou se a decisão era definitiva.

"Eu vou dizer para vocês que vocês podem continuar sonhando e eu também quero continuar sonhando. Nós tínhamos a Petrobras com uma plataforma preparada para fazer pesquisa nessa região. Houve um estudo do Ibama que dizia que não era possível, mas esse estudo do Ibama não é definitivo, porque eles apontam falhas técnicas que a Petrobras tem o direito de corrigir. Estamos discutindo isso", afirmou o presidente na entrevista.

O mandatário defendeu pesquisas na região, para descobrir se a existência ou não de petróleo na região da Foz do Amazonas. E disse que então deverá ser tomada uma decisão por seu governo, levando em conta formas de evitar desastres ambientais.

 

"Primeiro a gente tem que pesquisar, tem que saber se tem aquilo que a gente pensa que tem e, quando a gente achar, a gente vai tomar uma decisão do Estado brasileiro, o que a gente vai fazer, como é que a gente pode explorar, como é que a gente vai evitar que um desastre qualquer possa prejudicar a nossa querida margem do oceano Atlântico na Amazônia", acrescentou.

"A gente vai ter todo cuidado, mas pode continuar sonhando, porque há uma discussão. O Ibama não foi definitivo, o Ibama apresentou propostas para serem corrigidas, essas coisas vão ser levadas em conta pelo governo, pela Petrobras. Estamos vendo o Suriname explorando petróleo, a Guiné, Trinidad e Tobago já está explorando. Nessa margem equatorial deve ter petróleo e ela fica a uma distância muito longe da margem. E vamos então pesquisar", afirmou.

A prospecção e exploração de petróleo na região da Foz do Amazonas provocou uma divisão em seu governo, opondo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, de um lado, e o titular das Minas e Energia, Alexandre Silveira, além do núcleo político, do outro.

Em maio deste ano, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, acompanhou parecer técnico do órgão e negou um pedido feito pela Petrobras para perfurar a bacia da foz do rio Amazonas com objetivo de explorar petróleo na região.

A decisão foi tomada após o Ibama demonstrar preocupação com as atividades da petroleira em uma região de vulnerabilidade socioambiental.

Recentemente, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que a licença para exploração na região pode demorar, "mas ela virá". O otimismo é motivado por uma decisão proferida do STF (Supremo Tribunal Federal), que julgou, em um caso diferente, que não seria necessário um estudo de impacto regional para áreas que foram leiloadas.

ampliação da exploração de combustíveis fósseis tem sido fortemente defendida por Silveira. Em março, o ministro anunciou planos para escalar a produção nacional e tornar o Brasil o quarto maior produtor mundial de petróleo —hoje é o oitavo, segundo a Administração de Informação Energética dos EUA.

Essas medidas vão na contramão do discurso climático adotado por Lula durante a campanha e no pós-eleição. De acordo com a Agência Internacional de Energia, para que o mundo consiga zerar as emissões líquidas de carbono até 2050 é essencial que nenhum novo projeto de extração de combustível fóssil seja autorizado.

Atingir essa meta nas próximas três décadas é um dos passos mais importantes para cumprir o Acordo de Paris, limitar o aquecimento global a 1,5°C e evitar os efeitos mais catastróficos da crise climática, segundo o painel do clima da ONU (IPCC, na sigla em inglês) (Folha, 4/8/23)