09/02/2023

Lula e seus predadores – Por Celso Ming

O presidente Lula alimenta a inflação porque a pichação verbal contra o Banco Central e o regime de metas de inflação turva a confiança, puxa as cotações do dólar para cima. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

LULA  Foto Pedro Kirilos Estadão

O presidente Lula alimenta a inflação porque a pichação verbal contra o Banco Central e o regime de metas de inflação turva a confiança, puxa as cotações do dólar para cima.

 

Para livrar sua cara política, o presidente Lula subiu o tom e elegeu diversos alvos para atacar nos últimos dias, mas até agora não apresentou sua estratégia para a área econômica nem uma nova âncora fiscal

A lula, o molusco, quando ameaçada solta jatos de tinta negra à sua volta para confundir os predadores. Assim, também, vai agindo Lula, o presidente.

Ele é um grande tático político, mas ainda não revelou sua estratégia para a área econômica. Sabe que vai ter um ano de crescimento pífio, que a inflação vai corroendo o salário do trabalhador, que o crédito está caro e que a indústria vai continuar a definhar. Para livrar sua cara política destas e de outras ameaças, deu para expelir jatos de tinta escura sobre supostos predadores. Mas não tem feito boas escolhas.

 

Seus principais alvos até agora foram: o Banco Central (BC), cuja autonomia, diz ele, é “uma bobagem”; a meta de inflação “irrealista” para os padrões do Brasil; o “cidadão” Roberto Campos Neto, presidente, que se aproveita da “bobagem” para castigar com juros o trabalhador; e a Eletrobras, cuja privatização foi “uma bandidagem” e precisa ser revertida.

Lula finge que não se dá conta de que o problema não é a autonomia do BC, nem os juros altos, mas a inflação, que ele próprio alimenta, porque tomou a decisão de gastar mais do que pode e abriu mais um rombo nas contas públicas.

Pior ainda, alimenta a inflação porque a pichação verbal contra o BC e o regime de metas de inflação turva a confiança, puxa as cotações do dólar para cima e aumenta os preços dos importados ou de grande número de alimentos de produção nacional cotado em dólares. No dia 2 de fevereiro, a cotação do dólar havia resvalado para abaixo dos R$ 5,00. Em dias, à medida que o presidente Lula foi aumentando os decibéis do seu ataque verbal, o dólar saltou para R$ 5,19.

Ainda não ficou claro como o governo vai ancorar as contas públicas, como prometido. O chamado “pacote desenrola” continua enrolado. Em nenhum momento o governo acenou com um substituto melhor à meta de inflação e aos juros elevados contra a alta de preços.

Tanto Lula como seu ministro do Trabalho, Luiz Marinho, condenam, não sem razão, o “regime de escravos” a que submetem os trabalhadores de aplicativos, mas não sabem como garantir proteção social para eles. Marinho, que é do tempo da enceradeira e do cartão de ponto, sugeriu que os Correios substituam o Uber e o Ifood, sem mostrar noção do investimento em logística que isso implicaria. E parece não se dar conta de que o mercado de trabalho passa por uma revolução, aqui e no mundo, que não pode ser enfrentada com mais CLT. Primeiro, tem de ser entendida.

Não é com mais navios e mais plataformas fabricados no Brasil com uma das chapas grossas mais caras do mundo que a produção nacional vai ser resgatada. A indústria precisa de tecnologia de ponta e de acesso ao mercado externo e este, de acordos comerciais. Qual é a política econômica do governo Lula e de que predadores ele quer desviar a atenção com a saraivada de ataques ao BC e à Eletrobras? (O Estado de S.Paulo, 9/2/23)