24/06/2024

Lula: Juscelino, vacina escondida, falcatrua no arroz e multa eleitoral

Lula: Juscelino, vacina escondida, falcatrua no arroz e multa eleitoral

O presidente da Republica, Luiz Inácio Lula da Silva, durante visita ao Centro de Pesquisas, Desenvolvimento da Petrobras.  Foto Ricardo Stuckert Presidencia da Republica

 

 Por Eliane Cantanhêde

Presidente petista tem impressionante capacidade de dar munição para a oposição.

 

 

Não há dúvidas de que o governo tem muito o que mostrar em várias áreas, principalmente na economia e na social, mas é impressionante a capacidade do presidente Lula de dar munição para a oposição, em particular para seu maior adversário, Jair Bolsonaro. Os casos se acumulam, inacreditavelmente, deixando a sensação de que, no seu terceiro mandato, Lula está se sentindo acima do bem e do mal, imunizado contra críticas e liberado para cometer erros à vontade.

Por que raios Lula esperou nove dias para se manifestar sobre o indiciamento do ministro Juscelino Filho (Comunicações) pela PF, por corrupção passiva, fraude em licitações e organização criminosa? Depois de todo esse tempo, apareceu num evento ao lado do ministro como se nada tivesse acontecido, disse que tem “muito orgulho” da sua equipe e está “feliz” com Juscelino, alvo de uma lista extensa de suspeitas desde o primeiro mês de governo. Lula, assim, aguarda a PGR e o STF para acordar e ver o óbvio. O que fará, então?

 

Por que raios Lula tinha também de se vacinar contra dengue, num hospital privado, cinco dias antes de o SUS iniciar distribuição pública de doses, insuficientes por falta de produção nacional e pouca internacional? Tanto ele sabia que ia dar pano pra manga que fez... secretamente! O que era ruim ficou pior ainda e numa área em que é fácil confrontar o antecessor: vacina. Levantou a bola, Bolsonaro cortou: “Se vacinou escondido... O povo que se dane”, postou nas redes sociais, como quem tivesse autoridade para entrar nesse jogo.

Por que raios Lula tinha, ainda, de autorizar a importação de muitas toneladas de arroz, apesar de dados informando que o grosso da safra já tinha sido colhido e a tragédia do Rio Grande do Sul teria pouca repercussão no abastecimento? E deixar incluir logotipos e a propaganda do governo em letras vermelhas nos sacos importados, num oportunismo político explícito? E descuidar da licitação, que, depois do saco derramado, ele agora admite que foi contaminada por “falcatrua”? O resultado é faz-não-faz, vai-e-volta. Bom, não é. A equipe da qual tem tanto “orgulho” falhou.

 

Por que raios, mais uma vez, Lula tinha de descumprir a lei, fazer discurso de campanha e pedir voto para seu candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, num evento de Primeiro de Maio? Bateu, levou: uma multa da Justiça Eleitoral por campanha antecipada. De quebra, Boulos também foi multado. E a semana acaba com o presidente enfrentando universidades e reitores em greve: “O dedo que falta não foram eles que morderam!”.

 

Bem, e por que, raios, Lula tem de insistir em mandar no Banco Central, que é autônomo, e de se intrometer politicamente na Petrobras? E continuar sendo tão amiguinho de Vladimir Putin, tratar Nicolás Maduro e seus métodos como legítimos e democráticos e fechar os olhos para as atrocidades de Daniel Ortega? Política externa independente e pragmática faz bem à saúde dos regimes, sejam de esquerda ou direita, mas posições condescendentes com ditaduras cruéis fazem mal aos governantes, dentro e fora de seus países.

Tão bom orador e tão carismático, Lula também abusa de brincadeiras e palavras fora de hora e lugar, envolvendo gênero, raça, grupos LGBTQI+. E, depois dos anos sombrios de Bolsonaro na cultura, acaba de anunciar investimentos de R$ 1,6 bilhão no audiovisual, numa cerimônia alegre e cheia de estrelas, mas borrou a repercussão ao dizer que “artista, cinema e teatro não são para ensinar putaria”. Gafe ou tentativa de falar para o público conservador, em especial o evangélico? Afinal, por que raios usar uma frase de mau gosto, que só reforça um velho preconceito contra a cultura? Se alguém achou o maior barato, só pode ser de oposição (Estadão, 23/6/24)