Lula perdeu aprovação e margem de manobra – Editorial Folha de S.Paulo

No Datafolha, popularidade do petista oscila em torno de baixo patamar desde o início do ano, período de alta da inflação.
Neste 2025, a popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) flutua em torno de um novo e baixo patamar. Na recente pesquisa do Datafolha, 40% dos brasileiros aptos a votar consideram que ele faz um governo ruim ou péssimo, enquanto 28% o qualificam como ótimo ou bom. A diferença entre os índices resulta em saldo negativo de 12 pontos percentuais.
Desde o primeiro bimestre, o saldo médio é de 12,7 pontos negativos, ante contagens positivas de 3 pontos em 2024 e 9 em 2023.
O prestígio do mandatário piorou de modo expressivo nos dois primeiros meses deste ano. Nesse período, a inflação reassumira uma trajetória de alta, com impulso da gastança federal e da carestia de alimentos.
A grande cartada de Lula em busca de popularidade foi o projeto que isenta do Imposto de Renda rendimentos até R$ 5.000 mensais. A administração petista se desgastou, porém, com campanhas de notícias falsas sobre tributação do Pix, em janeiro, e com o escândalo real de descontos fraudulentos nos benefícios do INSS, mais recentemente.
De todo modo, não se pode afirmar com certeza que tais foram os aspectos a pesar na piora dos índices do presidente. Há fatores difusos e persistentes que podem contribuir para a maior repercussão de notícias negativas.
A aprovação de Lula 3 jamais foi elevada, em parte devido à polarização política. O PT, além disso, é minoritário no Congresso, no comando de estados e municípios e nas redes sociais.
O efeito da ampliação dos programas de renda é agora mais marginal, tanto em termos de melhoria social quanto de impacto político. O preço relativo dos alimentos ficou em patamar mais alto desde a pandemia —e não fizeram efeito discursos e promessas demagógicas nessa seara.
Para 50% do eleitorado, o desempenho de Lula é pior do que o de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), no controle da inflação (é melhor para apenas 29%). O petista também é mais mal avaliado em segurança pública e, notável, empata com Bolsonaro nos quesitos ambiente e saúde —nos quais o ex-presidente teve atuação objetivamente deplorável.
O governo do PT tem melhor avaliação em geração de empregos, moradia e, por pequena margem, educação. Parece pouco diante de um brutal aumento do gasto público que começou desde antes da posse.
Com rombo nas contas do Tesouro, juros altos e Congresso Nacional pouco amistoso, a margem para novas cartadas eleitoreiras se estreitou. Em tais condições, não há propaganda que resolva (Folha, 14/6/25)