Lula usa canhão do governo para discutir relação com agronegócio
LULA - Foto Blog Nelson Pires - REPRODUÇAO INTERNET
Por Bruno Boghossian
Presidente emenda acenos e tenta reduzir distância com segmento que se entregou a Bolsonaro.
Lula quer reconquistar uma fatia do agronegócio. Nos últimos dias, o presidente emendou acenos públicos a um setor mergulhado na oposição ao PT. Na Bahia Farm Show, ele chamou grandes produtores de "companheiros", prometeu ajuda do governo e disse que não há motivo para rivalidade com a agricultura familiar.
A distância entre os dois lados não é pequena. O agronegócio se entregou de corpo e alma a Jair Bolsonaro. Políticos ruralistas deram apoio pesado à reeleição do ex-presidente, e empresários chegaram a bancar atos golpistas. O clima azedo levou Lula a se referir a alguns integrantes do setor como "fascistas" —algo que ele repetiu já como presidente.
Os ruralistas continuam sendo majoritariamente bolsonaristas, mas o presidente resolveu tentar algo diferente. Lula usou a estreia de sua live semanal, na terça-feira (13), para mandar recados. Disse que nunca teve problemas com o agronegócio e avisou que o Plano Safra deste ano será a prova de que sua gestão não tem "nenhuma objeção a eles".
O canhão do governo é a principal arma de Lula. Na Bahia, o petista fez propaganda de um telefonema que deu ao chinês Xi Jinping para liberar contêineres de carne. "Eu não quero saber se o cara que tem o contêiner votou no Lula", afirmou.
Nas próximas semanas, a ideia é convencer a equipe econômica a liberar um Plano Safra turbinado. O Ministério da Agricultura quer juros reduzidos em até três pontos percentuais por ano para produtores que seguirem critérios sustentáveis.
Além de ficar de olho nos negócios, Lula ensaiou um gesto político aos grandes produtores. Num momento em que o governo virou alvo na CPI do MST, o presidente disse que a reforma agrária deve ser feita sem invasão de terras. "Não precisa ter barulho, não precisa ter guerra."
A tática de Lula é discutir a relação com o agro às claras. "Eles sabem que, do ponto de vista econômico, eles não têm problema conosco", disse. "O problema pode ser ideológico. Se é ideológico, paciência, a gente vai estar em campos opostos." (Folha, 15/6/23)