Lula vai a Roma com crise dupla na bagagem – Por Hélio Schwartsman

LULA Foto Reprodução Blog Maranhão Hoje
Caso de deputado que recusou ministério é menos grave do que o escândalo de descontos indevidos em aposentadorias.
Lula embarca para Roma com duas crises fresquinhas batendo às portas de seu governo. A primeira foi deflagrada pela recusa do deputado Pedro Lucas (União Brasil-MA) de assumir a pasta das Comunicações depois de ter sido anunciado como ministro. A segunda é o escândalo dos descontos indevidos em aposentadorias.
A primeira é a menos grave. É uma crise de revelação. Ela dá materialidade a algo que todos já sabíamos desde antes da posse, isto é, que a Presidência está enfraquecida e se tornou refém do centrão. A esnobada do União Brasil para cima do Executivo indica ainda que Lula não vive um bom momento em termos de popularidade e não poderá contar automaticamente com o apoio das legendas do centrão que integram o governo numa eventual campanha de reeleição —o que também já sabíamos.
É uma crise que dificilmente criará problemas para o futuro. Dentro de algumas semanas, só quem respira política lembrará do caso Pedro Lucas. O escândalo do INSS tende a ser bem mais tóxico para o governo.
Ele pode ser descrito como um caso de crueldade com velhinhos, algo mais difícil de esquecer. Combina corrupção —termo do qual o terceiro mandato de Lula vinha conseguindo manter razoável distância— com incapacidade administrativa. Dá ótimo material para memes, que a oposição não hesitará em usar.
É verdade que os descontos fraudulentos/indevidos começaram na gestão Bolsonaro, mas ganharam escala sob Lula. Há um componente ideológico que pesa contra o governo. Os petistas nunca esconderam a vontade de ajudar sindicatos, federações e confederações que se viram empobrecidos com o fim do chamado imposto sindical.
É um caso que terá desdobramentos, tanto na esfera policial como na administrativa. Isso significa que não sairá tão cedo das manchetes dos jornais. Poderá até ter repercussões econômicas, na hipótese de o INSS ter de arcar com um espeto que talvez chegue a R$ 6 bilhões.
Dizem que a Esmolaria Apostólica, no Vaticano, concede bênçãos a quem delas precisa (Folha, 25/4/25)