19/12/2023

Mar Vermelho: Petróleo sobe com ataques; impacto no Brasil ainda é incerto

Mar Vermelho: Petróleo sobe com ataques; impacto no Brasil ainda é incerto

Helicóptero houthi, adornado com bandeiras do Iêmen e da Palestina, se prepara para abordar o navio Galaxy Leader, sequestrado no mar Vermelho em novembro - Mídia militar houthi - 20.nov.2023 Reuters

 

Indústria mais vulnerável à crise na região, setor de proteína animal ainda não vê reflexos nas exportações.

interrupção no transporte de cargas pelo mar Vermelho, uma das principais rotas do comércio global de mercadorias, já pressiona os preços do petróleo e do gás natural no mundo.

A indústria brasileira diz que ainda é cedo para prever impactos no país, apesar de ver riscos de aumento no custo dos fretes.

Embora seja importante rota entre a Ásia e a Europa, o mar Vermelho é pouco usada no fluxo de comércio intercontinental do Brasil. A região tem relevância apenas para setores que exportam para o Oriente Médioprincipalmente a indústria de proteína animal.

Em 2022, por exemplo, os Emirados Árabes Unidos foram o segundo mercado para o frango brasileiro, atrás apenas da China.

Arábia Saudita foi o quarto. Nas exportações de ovos, os Emirados Árabes Unidos lideraram a lista dos maiores clientes, seguidos pelo Catar.

"O tema está no radar, haja vista que o Oriente Médio é um dos nossos maiores clientes —quase 30% do que se exporta vai para aqueles mercados", diz o presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin.

"Mas também esperamos que a situação não se escale e possa ser controlada com as forças que estão indo para lá. O Brasil acompanha o tema com olhar de cautela, mas até agora não há nenhum reflexo específico nas nossas exportações."

O diretor de comércio exterior da Cisbra (Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil), Arno Gleiser, avalia que, à exceção desses mercados, o restante do comércio brasileiro sofre pouco impacto por não usar aquela rota.

"Não afeta nem o fluxo comercial com a Ásia, tampouco o fluxo comercial com a Europa. E também não com América do Norte", afirma. "A crise, embora seja importantíssima, não vai afetar significativamente o Brasil."

O presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), Fernando Pimentel, no entanto, crê em impactos sobre o preço de insumos com eventual alta no custo do frete e de seguros para o transporte marítimo.

"Até agora, não há nada de concreto, mas pode ter desdobramentos ruins à frente", afirma, ressaltando que incertezas geopolíticas se tornaram mais comuns e ampliam a necessidade de reforço nas cadeias nacionais de suprimentos.

 

O presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), José Velloso, também espera alta nos custos dos fretes, "mas nada que se compare ao que aconteceu em 2021", quando o fechamento de portos na China e a falta de contêineres elevaram o frete em mais de 200%.

A expectativa de alta nos fretes impulsionou as ações das transportadoras marítimas negociadas em bolsa. Empresas como AP Moller-Maersk (segunda maior frota de transporte de contêineres do mundo), a alemã Hapag-Lloyd (quinta maior), fecharam em forte valorização.

"Acreditamos que a decisão de evitar a rota do mar Vermelho para cargas de petróleo e produtos ampliará o tempo de viagem e colocará ainda mais pressão nas taxas de frete, se essas condições persistirem", disse à agência Reuters Massimo Bonisoli, analista da Equita.

Outro potencial fator de pressão nos custos é o preço do petróleo. Nesta segunda-feira (18), o preço do petróleo Brent, referência internacional negociada em Londres, fechou em alta de 1,83%, a US$ 77,95 por barril.

Mas, também nesse caso, os impactos na economia brasileira dependem da duração da crise, já que a Petrobras tem margem para segurar cenários de alta de curto prazo.

Na abertura do mercado desta segunda, o preço médio da gasolina nas refinarias da estatal estava equiparado à paridade de importação medida pela Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Petróleo). O diesel estava R$ 0,04 por litro mais caro.

Em sua nova política de preços dos combustíveis, a Petrobras deixou de seguir exclusivamente a paridade e não vê problema em passar períodos abaixo desse indicador. Por isso, o mercado não espera agora reação da estatal (Folha, 19/12/23)