Meio ambiente é a prioridade – Por Tarcisio Angelo Mascarim
Tenho insistentemente defendido a utilização do etanol para a substituição da gasolina nos carros e do biodiesel para substituição do diesel nos transportes, porque tanto a gasolina como o diesel são os maiores poluidores da atmosfera. E o Brasil pode ser o protagonista desta solução, pois tanto o etanol quanto o biodiesel podem ser fabricados com a cana-de-açúcar e a soja, que são os principais produtos agrícolas brasileiros.
Partindo da premissa do título deste artigo, fiquei com mais esperança quando li a entrevista do presidente do conselho da Toyota, Sr. Takeshi Uchiyamada, publicada na revista VEJA, da Editora Abril, edição 2578, ano 51, número 16, de 18 de abril de 2018, feita por Jennifer Ann Thomas, com o título “Mudar ou Morrer”. Ela inicia com um pequeno histórico:
“Em 1996, o japonês Takeshi Uchiyamada recebeu um desafio da montadora Toyota, na qual então trabalhava como engenheiro-chefe: projetar um carro que atendesse às novas preocupações ambientais. Daí nasceu o Prius, o híbrido – que combina motores a gasolina e elétrico – mais popular do mercado. O veículo vingou especialmente nos Estados Unidos, onde é vendido por 20.000 dólares, o equivalente a 68.000 reais. No Brasil ainda engatinha, em virtude do alto preço, 130.000 reais. No mundo, já foram vendidos 10 milhões de unidades do modelo. O sucesso do Prius impulsionou a carreira de Uchiyamada. Aos 71 anos, ele hoje é presidente do conselho da Toyota, cargo que assumiu em 2013. Na prática, trata-se de um dos responsáveis por moldar os próximos passos do gigante japonês, o maior entre os fabricantes de carros. Estão em suas mãos, portanto, as chaves dos automóveis que vamos dirigir nas próximas décadas. Em visita ao Brasil, Uchiyamada falou com exclusividade a VEJA para tentar desenhar o futuro dos carros.”
Tomo a liberdade de transmitir aos leitores alguns tópicos da referida entrevista, sugerindo que leiam a revista em sua íntegra. Vamos então aos tópicos da entrevista:
“Há vinte anos, o senhor imaginou que transição para o carro elétrico era um caminho inexorável, e a indústria teria de passar pelo veículo híbrido. Qual o prognóstico para os próximos vinte anos? O objetivo é continuar a diminuir o consumo de combustíveis derivados do petróleo, aumentando o rendimento. Não importa o tipo de fonte energética que usaremos. Há uma meta indiscutível: temos de reduzir a zero a emissão de dióxido de carbono (CO2), poluente que acelera as mudanças climáticas. (O grifo é nosso) Portanto, não podemos depender de melhorias no motor a gasolina para abraçar esse objetivo. Veremos, então, cada vez mais versões elétricas nas ruas. Em dezembro último, a Toyota propôs um cenário para 2030. Em doze anos queremos alcançar no mínimo 5 milhões de unidades de carros a eletricidade vendidos anualmente no mundo. (A projeção é que os modelos elétricos representem até 50% do total de carros em 2030).”
“A única opção limpa será o elétrico? Em consequência das mudanças climáticas, do aquecimento global, a sociedade precisa incentivar a adoção de um veículo que respeite o meio ambiente. Esse é o norte. No Brasil, por exemplo, o etanol já é uma alternativa bastante popular. Uma versão híbrida de elétrico e etanol seria ótima. Gostaria muito que esse tipo de carro fosse popular no Brasil. O segredo está na diversidade. Passaremos a mesclar fontes diversas de energia. Alguns países apostarão na energia solar, outros na eólica, e boa parte na elétrica. Diferentemente do que ocorreu no século XX, o da proliferação dos combustíveis sujos, de origem fóssil, não apostaremos mais apenas em uma opção.” (o grifo é nosso)
“Como marca, a Toyota defende a ideia de que o beneficio das versões ecológicas só faz sentido quando elas são adotadas em massa. No Brasil, porém, só há 4000 Prius em circulação. Há garantia de que um dia chegará por aqui essa transformação proporcionada pelas fontes renováveis de combustíveis? Quando montamos um negócio, deparamos com a realidade de diferentes países. Em especial, acerca da carga tributária local. Se o imposto é pesado, não temos como garantir um número mínimo de produção de automóveis. Essa taxação inviabiliza a construção de uma fábrica nacional e leva à importação dos exemplares. Logo, fica mais caro para nós e para o consumidor final. Há um evidente circulo vicioso, resultado de impostos exagerados. Reduzi-los é o único modo de ampliarmos as vendas e provocarmos uma real mudança de comportamento. E esse problema não é só da Toyota, evidentemente. Precisamos dar um jeito de entrar num circulo de outra ordem, uma virtuosa. Para isso, depende-se de incentivos do governo, que pode impulsionar uma política que vise ao crescimento da produção nacional.”
“Em resumo, a culpa recai nos nossos impostos? O custo Brasil é real. A soma de gastos com logística, com o sistema tributário complexo, com a questão trabalhista torna o cenário confuso demais. E também caríssimo. Caso o Brasil queira se preparar para a competitividade global, terá de abrir mais suas portas.”
“Foi esse o tema da conversa com o presidente Temer no encontro que tiveram na quinta-feira, 5? Falamos sobre como elevar a competitividade do mercado automotivo brasileiro. Indiquei formas de melhorar a relação entre Mercosul e Japão, em aspectos como a importação de autopeças. É necessária uma política para a formação de montadoras fortes no país.”
“O cenário de instabilidade política também é prejudicial aos investimentos estrangeiros? Não falarei do cenário político. O Brasil tem um potencial enorme. É preciso implementar um mecanismo que vise a explorar mais esse potencial.”
Entendo que os tópicos apresentados são suficientes para nós interpretarmos como um bom início de negociações com a Toyota, uma vez que o nosso Presidente já tomou conhecimento da possibilidade da fabricação de um carro híbrido elétrico/etanol para o Brasil.
Acredito que, com isso, o Brasil estará colaborando com o mundo, adotando as palavras do presidente do conselho da Toyota, Sr. Takeshi Uchiyamada: “Há uma meta indiscutível: temos de reduzir a zero a emissão de dióxido de carbono (CO2), poluente que acelera as mudanças climáticas”, acrescentando: “meio ambiente é a prioridade” (Tarcisio Angelo Mascarim é sócio e administrador da Mascarim & Mascarim Sociedade de Advogados. Leia mais artigos no blog www.tarcisiomascarim.com.br)