07/02/2018

Mercado brasileiro de adubos anima PhosAgro

Mercado brasileiro de adubos anima PhosAgro

 O mercado brasileiro é estratégico nos planos de expansão da gigante russa PhosAgro, uma das maiores fabricantes mundiais de fertilizantes derivados de fosfato, mas tem dois problemas sérios para resolver: a deficiência na infraestrutura e a complexidade do sistema tributário, diz Andrey Guryev, CEO da empresa.

Em entrevista ao Valor à margem do Fórum Econômico Mundial, realizado há duas semanas na estância alpina de Davos, Guryev mostrou-se animado com as perspectivas do Brasil. Para ele, as vendas de fertilizantes ao país devem manter um ritmo anual de crescimento na faixa de 3% a 5%, acima do dobro da média verificada em escala global (1,5% nos últimos quatro anos) e com destaque para a expansão da área agrícola em Mato Grosso.

O mercado brasileiro absorveu 920 mil toneladas de fertilizantes da PhosAgro no ano passado, o que corresponde a 11% de suas receitas totais. Um dos produtos, o PKS, foi desenvolvido especificamente para o cultivo da soja no país e tem baixo ou nenhum índice de nitrogênio entre seus componentes. Fertilizantes minerais responderam por US$ 1 bilhão das exportações russas ao Brasil entre janeiro e setembro de 2017.

"Haverá dois grandes mercados para o crescimento de fertilizantes no mundo: Brasil e Rússia", diz Guryev, satisfeito com a recuperação nos preços de fertilizantes, desde o último trimestre.

Há dois anos, a PhosAgro abriu um escritório comercial em São Paulo, que deu mais autonomia à empresa no contato com clientes da América Latina – Argentina, Colômbia, Equador, Uruguai e Venezuela também são destinos importantes. Hoje as vendas diretas representam 85% do total.

O empresário russo, no entanto, faz algumas ressalvas – a maior delas é a ausência de uma rede ferroviária e a "superdependência" do frete por caminhões para chegar aos seus clientes. "Infraestrutura, infraestrutura, infraestrutura", afirma Guryev ao ser questionado se apontaria três problemas para serem resolvidos pelo governo que toma posse em janeiro de 2019. "É um gargalo enorme para o país e precisa de solução", diz.

Além da falta de ferrovias, ele critica o elevado custo de armazenamento nos terminais portuários. Hoje a empresa usa os portos de Santos (SP), Paranaguá (PR), Vitória (ES) e Rio Grande (RS) para trazer seus produtos ao Brasil.

"Tudo isso torna o suprimento mais caro do que deveria. Ficaríamos extremamente felizes se esses desafios logísticos fossem superados", completa Guryev, filho do fundador homônimo da PhosAgro, cujo patrimônio pessoal é estimado em US$ 4,5 bilhões pela revista americana "Forbes".

Uma dos maiores obstáculos ao crescimento da empresa no Brasil foi retirado pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), que zerou a tarifa de 6% para importar o hidrogeno ortofosfato de diamônio (conhecido pela sigla DAP), um dos mais usados no país. Mas existem outras reclamações, como o excesso de burocracia – notável mesmo para padrões russos – e a complexidade do regime tributário, principalmente pelos impostos interestaduais, que Guryev classifica como de "difícil" entendimento.

De acordo com o empresário, diante das características da Rússia, não faria sentido ter parte da produção no Brasil. Além do gás barato, o que se tem por lá é a fartura em todas as matérias-primas necessárias para a fabricação dos fertilizantes, como uma das maiores jazidas de fosfato do mundo. "Temos, de longe, os custos mais baixos", garante Guryev, na Russia House, uma espécie de embaixada alugada pelo governo russo na rua principal de Davos para divulgar o país no encontro de bilionários nos Alpes.

A localização do "show room" gerou piadas na cidadezinha suíça: ela estava quase em frente à casa da Ucrânia. Por isso, em referência à anexação da Crimeia, muitos questionavam se não haveria um ataque do Exército Vermelho ao outro lado da calçada antes de o encontro acabar. Em meio ao ambiente cordial do fórum, não houve provocação entre as partes (Assessoria de Comunicação, 6/2/18)