26/02/2018

Mercado interno de açúcar na berlinda - Por Arnaldo Luiz Corrêa

Mercado interno de açúcar na berlinda - Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado de açúcar em NY fechou a 13.66 centavos de dólar por libra-peso, uma alta de 29 pontos em relação à semana anterior.  Na próxima semana, com a expiração de março/2018, há alguma expectativa em relação a entrega. Lembrando que no ano passado, um grande produtor fez uma entrega volumosa e este foi o ponto de ignição para que o mercado começasse sua viagem de queda livre. Acho muito improvável que isso se repita na semana que vem.

Consolidam-se as previsões entre usinas, tradings e especialistas do setor acerca do tamanho da moagem de cana no Centro-Sul para a safra 2018/2019. O número médio está ao redor de 585 milhões de toneladas de cana que devem produzir 32.4 milhões de toneladas de açúcar e 26.2 bilhões de litros de etanol. Nós acreditamos em um número menor para o açúcar - de 30.5 milhões de toneladas de açúcar -  e basicamente estamos em linha com a produção média de etanol. O viés é de baixa para novas previsões pois muitos acreditam que revisões que vierem serão para menor volume de cana.

Não importa a maneira como se olha o cálculo da oferta e demanda no Brasil com base nos números acima, a conclusão mais plausível é que os números não fecham. A produção de 35 milhões de toneladas de açúcar (Brasil) é insuficiente para atender à demanda interna, mais o mercado internacional e um aumento adicional do consumo via crescimento do PIB de 3.85% previsto para 2018.

Descontemos das 35 milhões de toneladas de açúcar (notem que não estamos usando a previsão da Archer Consulting que é menor, mas o número consensual do mercado), um consumo interno de 12 milhões de toneladas. Sobrariam, assim, 23 milhões de toneladas de açúcar para o mercado de exportação volume muito abaixo da média 26.6 milhões de toneladas observada nos últimos três anos ou da média de 28 milhões de tonelada dos últimos doze meses. Ou seja, forçosamente o Brasil vai enxugar do mercado internacional umas 5 ou 6 milhões de toneladas de açúcar. O mercado interno pode se tornar extremamente aquecido

Isso abre um ponto para reflexão que não tem sido muito explorado nas conversas recentes, ou seja, o impacto que essa diminuição na disponibilidade de açúcar a ser produzido na safra 2018/2019 pode causar no mercado local. Podemos assistir a uma elevação significativa dos preços pois o açúcar comercializado no mercado interno terá que disputar com o etanol que remunera bem melhor e o mercado futuro de NY. Hoje, por exemplo, com o dólar cotado a R$ 3.2400 e tomando NY a 13.67 centavos de dólar por libra-peso, ESALQ deveria valer (não por equivalência, mas pela curva de preços que mostra alta correlação) R$ 58.80 e está ao redor de R$ 52.20. O modelo deduz que ou NY deve cair mais (o que não acreditamos pelas razões expostas nos últimos comentários) ou ESALQ vai ter que subir. Isso coloca o mercado interno na berlinda, hein?

Outro ponto a ser explorado é acerca do volume vendido em aberto pelos fundos, são 140,000 lotes, que equivalem a 7 milhões de toneladas de açúcar. Vamos assumir que ainda existam 2 milhões de toneladas de açúcar a serem fixadas contra o maio/2018 objeto de rolagens de vencimentos anteriores. No próprio maio, as fixações da 2018/2019 devem representar 3,75 milhões de toneladas de açúcar das quais 2/3 já devem estar fixadas. Ou seja, temos de um lado os fundos posicionados em 7 milhões de toneladas de açúcar em tese que poderiam ser cobertas, e do outro apenas 3,25 milhões de potenciais vendedores (só Brasil). Teríamos que descontar ainda os volumes estimados de fixação de outros países produtores. Se o Brasil, em teoria, tem 55% do mercado, então o jogo estaria relativamente equilibrado. Será?

Pelos cálculos preliminares que fizemos, o preço médio de venda dos fundos deve estar entre 13.56 e 13.88 centavos de dólar por libra-peso, nos obrigando e corrigir o que dissemos aqui há algumas semanas de que os fundos estavam ganhando muito dinheiro. Não é verdade pois a posição vendida começou a ser construída a 14.63 centavos de dólar por libra-peso, mas foi adicionando mais volume entre 14.30 e 13.19 sendo que em janeiro os fundos cobriram parte das vendas a descoberto a níveis muito mais altos. Nossa opinião é que só a partir do nível de 13.88 para cima, é que veremos alguma reação por parte dos fundos em começar a liquidar suas posições para o vencimento maio/2018. Vamos ficar de olho.

Um corretor baseado em NY, veterano de longa data do mercado açucareiro, que escreve diariamente sobre o mercado, está extremamente entediado com o mercado futuro irritante intervalo de 250 pontos há seis meses, listou algumas das palavras que poderiam bem definir o mercado de açúcar atual: tristeza, patético, horrível, porcaria, insensível, que destrói a alma e outros menos publicáveis (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.)