Mesmo com enchentes nos EUA, mercado de soja não reage
Fazenda inundada em Nebraska, no último dia 15
Plantio de grãos se aproxima no país e solo continua úmido.
Enchentes e proximidade de plantio nunca são uma boa combinação. Sinalizam perigo. É isso o que está ocorrendo agora nos Estados Unidos, país líder na produção de grãos.
Uma situação como essa, por si só, já poria o mercado em um cenário bem conturbado. Não é, porém, o que está acontecendo.
Os preços da soja continuam sem grandes oscilações e na última semana a alta foi de apenas 1,3%. O contrato de maio fechou nesta quinta-feira (21) a US$ 9,1050.
Dois motivos básicos impedem a alta do preço da oleaginosa, apesar dessa enchente recorde: estoques elevados e indefinições nas negociações entre China e Estados Unidos.
O solo úmido vem desde setembro e outubro do ano passado, quando as chuvas foram acima do normal.
Essa umidade excessiva do solo veio seguida de um inverno rigoroso. Com as chuvas atuais, houve derretimento da neve e o consequente excesso de água nos rios.
A situação do solo deve dificultar o plantio de milho e de soja no próximo mês, segundo Daniele Siqueira, da AgRural.
Tradicionalmente no mês de abril, metade da área cultivada com milho é semeada, enquanto o plantio de soja fica entre 15% e 20%.
Uma eventual redução da área de milho, devido às condições do solo, poderia elevar o plantio de soja, que deve durar até o final de junho.
O aumento da área de soja, no entanto, não seria desejável para o mercado. A repetição de uma nova boa safra elevaria ainda mais a oferta de produto, uma vez que em agosto (final da safra 2018/19) os estoques norte-americanos terão acumulado um recorde de 24,5 milhões de toneladas.
O cenário da soja continuará nebuloso enquanto a China e os Estados Unidos não chegarem a um acordo e mantiverem a guerra comercial.
As consequências da continuação do litígio entre os dois gigantes seriam desastrosas para a soja. Os estoques da oleaginosa nos Estados Unidos, principal produtor mundial, se elevariam muito, comprometendo a estabilidade do mercado nos anos seguintes, quando escoados (Folha de S.Paulo, 22/3/19)