22/03/2019

Mesmo com enchentes nos EUA, mercado de soja não reage

Mesmo com enchentes nos EUA, mercado de soja não reage

Fazenda inundada em Nebraska, no último dia 15

 

Plantio de grãos se aproxima no país e solo continua úmido.

Enchentes e proximidade de plantio nunca são uma boa combinação. Sinalizam perigo. É isso o que está ocorrendo agora nos Estados Unidos, país líder na produção de grãos.

Uma situação como essa, por si só, já poria o mercado em um cenário bem conturbado. Não é, porém, o que está acontecendo.

Os preços da soja continuam sem grandes oscilações e na última semana a alta foi de apenas 1,3%. O contrato de maio fechou nesta quinta-feira (21) a US$ 9,1050.

Dois motivos básicos impedem a alta do preço da oleaginosa, apesar dessa enchente recorde: estoques elevados e indefinições nas negociações entre China e Estados Unidos.

O solo úmido vem desde setembro e outubro do ano passado, quando as chuvas foram acima do normal.

Essa umidade excessiva do solo veio seguida de um inverno rigoroso. Com as chuvas atuais, houve derretimento da neve e o consequente excesso de água nos rios.

A situação do solo deve dificultar o plantio de milho e de soja no próximo mês, segundo Daniele Siqueira, da AgRural.

Tradicionalmente no mês de abril, metade da área cultivada com milho é semeada, enquanto o plantio de soja fica entre 15% e 20%.

Uma eventual redução da área de milho, devido às condições do solo, poderia elevar o plantio de soja, que deve durar até o final de junho.

O aumento da área de soja, no entanto, não seria desejável para o mercado. A repetição de uma nova boa safra elevaria ainda mais a oferta de produto, uma vez que em agosto (final da safra 2018/19) os estoques norte-americanos terão acumulado um recorde de 24,5 milhões de toneladas.

O cenário da soja continuará nebuloso enquanto a China e os Estados Unidos não chegarem a um acordo e mantiverem a guerra comercial.

As consequências da continuação do litígio entre os dois gigantes seriam desastrosas para a soja. Os estoques da oleaginosa nos Estados Unidos, principal produtor mundial, se elevariam muito, comprometendo a estabilidade do mercado nos anos seguintes, quando escoados (Folha de S.Paulo, 22/3/19)