Mesmo em ano de queda de preços, valor da produção agrícola sobe
Colheita de soja em Ponta Grossa (PR) - Rodolfo Buhrer - 25.abr.2023-Reuters
Safra recorde e demanda externa garantem receitas para os produtores.
O ano foi de custos elevados e de preços em baixa. Mesmo assim, os produtores devem terminar 2023, na média, com receitas reais 3% superiores às do ano passado. Esse ganho ocorre devido ao volume recorde produção de grãos e de carnes.
É o que prevê o Ministério da Agricultura, ao avaliar 17 produtos relacionados às lavouras e outros 5 à pecuária. O VBP (Valor Bruto da Produção), que é a soma da produção multiplicada pelos valores médios recebidos pelos produtores dentro da porteira, deverá atingir R$ 1,15 trilhão neste ano, o maior valor, em termos reais, já registrado pelo setor em 34 anos de pesquisas.
As receitas são puxadas pelas lavouras, que deverão somar R$ 812 bilhões, aumentando 4,8% sobre 2022. Já a pecuária, devido à retração nos preços do boi gordo, soma R$ 338 bilhões, com queda de 2,2% no ano.
Os dados do ministério mostram que, em vista do clima e da mudança de opção dos produtores nas últimas duas décadas, as receitas se deslocam de região e de produtos.
Um dos sinais mais fortes dos efeitos climáticos recai sobre o Rio Grande do Sul. Colocado entre os principais em receitas agropecuárias nos anos recentes, o estado deverá terminar este ano na 6ª posição nacional, sendo superado por Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Mato Grosso.
Esse último, que pela primeira obteve um volume superior a 100 milhões de toneladas de grãos e tem boa participação nos segmentos da pecuária, deverá atingir R$ 185 bilhões no ano, mantendo a liderança nacional.
Os gaúchos, que há uma década participavam com 38% das receitas agropecuárias do país, deverão terminar o ano com apenas 32%, como mostram os dados até agora. Nos últimos dois anos, o Rio Grande do Sul perdeu 25% do faturamento obtido no campo. A estimativa para este ano é de R$ 89 bilhões.
Os dados da Agricultura apontam uma reacomodação nas atividades agrícolas do país. Nos anos 2000, a produção de arroz atingia R$ 16,3 bilhões, conforme dados corrigidos, o que representava 6% do VBP das lavouras. Neste ano, a participação recua para 2%.
Os orizicultores obtiveram naquele ano receitas 90% superiores às dos produtores de ovos. Neste ano, o valor da produção destes últimos supera em 30% o dos produtores de arroz. As receitas com ovos já representam 7% do valor bruto da produção da pecuária, que inclui bovinos, frango, suínos, leite e ovos.
Apesar dessa perda de participação no total do país, as receitas com arroz voltam a subir em 2023. Produção menor no país, barreiras comerciais no mercado internacional e menor oferta do cereal no mundo forçaram os preços. Esse cenário afeta o mercado interno, permitindo maiores exportações e puxando os preços para valores superiores a R$ 100 por saca. Com isso, há um aumento das receitas dos produtores que ainda têm o produto.
O ano de 2023 é um período de produções recordes de milho e de soja, dois dos principais produtos do país, mas de pouca evolução nas receitas. Após uma forte aceleração dos preços, provocada por gargalos na distribuição e na produção de grãos durante a pandemia e pela invasão da Ucrânia pela Rússia, os preços recuaram. Nos cálculos do Ministério da Agricultura, as receitas dos produtores de milho aumentarão 2% neste ano, e a dos de soja, 3%.
As receitas de soja e de milho crescem pouco neste ano, mas os dois produtos se consolidam como os principais do país, conforme mostram os números. Nas duas últimas décadas, a participação da oleaginosa subiu de 31% para 41% no total das receitas obtidas nas lavouras. A do milho foi de 15% para 18%.
A participação do café se mantém estável ao longo dos anos em 6%. Em 2023, serão R$ 48 bilhões, 9% a menos do que em 2022.
Entre os produtos que elevam as receitas neste ano estão amendoim, banana, cacau, cana-de-açúcar, feijão, laranja e mandioca. Algodão, batata, café e trigo estão entre os que tiveram quedas (Folha, 17/10/23)