“Milagre do cerrado foi dos eventos mais importantes da história mundial”

Rattan Lal.  Foto Universidade de Ohio

O ganhador do Prêmio Nobel da Paz 2007 e do Prêmio Mundial da Agricultura 2020, Rattan Lal, disse que o chamado "Milagre do Cerrado", transformação do Cerrado brasileiro desde os anos 1960 em uma região de alta produtividade agrícola, é "um dos mais importantes eventos da história mundial moderna". Lal fez uma palestra no One Agro 2023, evento promovido pela Syngenta em Campinas (SP). Ele chamou a atenção para o fato de o Brasil ter saído da posição de importador no período para o de maior exportador de alimentos do mundo.

Lal destacou que os sistemas alimentares globais devem ser a solução para a redução as emissões de gases de efeito estufa, tendo em vista que de 30% a 35% das emissões globais desses gases vêm da atividade agrícola. Neste sentido, é preciso buscar também a transformação do sistema alimentar no Brasil, segundo o cientista.

Ele defendeu que a "Revolução Verde" - em referência à expressão utilizada para tratar do incremento de produtividade nas décadas passadas à base de fertilizantes e insumos químicos - do século 21 deve ser baseada não em insumos agrícolas (variedades, fertilizantes etc), mas em resiliência do solo, ecoeficiência, ciência e gestão.

Entre as práticas agrícolas inovadoras, Lal citou ações no campo da agricultura regenerativa, agroecologia, integração lavoura-pecuária-floresta, fertirrigação por gotejamento, agricultura de precisão e digital, uso de inteligência artificial, drones e robôs, bem como práticas de captura de carbono, entre outras. Lal defendeu que o carbono capturado no solo deve ser negociado como uma commodity agrícola. Pelos cálculos do cientista, o valor inerente do carbono do solo e serviços ambientais associados seria de US$ 130 por tonelada.

Lal também afirmou que o mundo já produz comida suficiente para alimentar 10 bilhões de pessoas - população global prevista para 2050 -, mas faltam medidas para conter e reduzir desperdícios de alimentos. Segundo ele, o desperdício deve ser reduzido em 30% a 50% globalmente até lá, junto com outras ações como melhoria da distribuição de comida, aumento da produção de pulses e do consumo de alimentos plant-based, além de elevação da produtividade agrícola (Broadcast, 13/6/23)