Milho: Análise Conjuntural Agromensal Cepea/Esalq/USP Dezembro/22
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RETROSPECTIVA DE 2022
Os preços do milho iniciaram o ano de 2022 em alta, impulsionados pelos estoques de passagem em volumes apertados e por preocupações relacionadas à safra verão de 2021/22 – que, de fato, teve sua produtividade prejudicada pelo clima adverso. Após o primeiro trimestre, agentes voltaram as atenções à segunda temporada, que teve produção recorde, o que, por sua vez, gerou pressão sobre as cotações desde então.
No entanto, as quedas no Brasil foram limitadas pelos elevados valores externos do cereal, diante da oferta mundial enxuta. O conflito entre a Rússia e Ucrânia, iniciado no final de fevereiro, elevou a paridade de exportação e favoreceu os embarques brasileiros.
A temporada 2021/22 brasileira foi iniciada com os estoques de passagem em 7,78 milhões de toneladas, 27% abaixo dos da safra anterior, e com a produção da safra verão de 24,97 milhões de toneladas, menor do que o potencial produtivo estimado inicialmente pela Conab (Companhia Nacional do Abastecimento).
Nesse cenário, entre janeiro e março, a média do Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas – SP) esteve elevada, em R$ 97,53/saca de 60 kg. A partir de então, com a semeadura ocorrendo de forma satisfatória no Centro-Sul do País, os valores passaram a cair. Assim, a média do primeiro semestre foi de R$ 92,39/sc, apenas 1% acima da registrada no mesmo período de 2021, em termos nominais.
Já nos portos de Paranaguá (PR) e de Santos (SP), os preços médios do primeiro semestre atingiram R$ 93,35/sc e de R$ 92,91/sc, com respectivos aumentos de 13% e de 19% em relação ao mesmo período de 2021. Isso se deve aos embarques em ritmo intenso – foram 6,3 milhões de toneladas exportadas de janeiro a junho de 2022, contra apenas 3,6 milhões de toneladas no primeiro semestre do ano anterior, de acordo com dados da Secex.
Com os preços em patamares elevados do primeiro semestre e a expectativa de demandas mundial e interna aquecidas, a área da segunda safra cresceu 9%. O clima favoreceu a produtividade, que teve forte aumento de 30% frente à segunda safra da temporada anterior. Assim, a produção da segunda safra veio a se consolidar em 85,61 milhões de toneladas, expressivo aumento de 42% em relação à temporada 2021/22.
No agregado, a produção brasileira em 2021/22 (considerando-se as três safras) totalizou 112,83 milhões de toneladas, 30% a mais que na temporada anterior e um recorde. Somada a produção total com o estoque inicial, de 7,78 milhões de toneladas, e importação prevista em 2,8 milhões toneladas, a disponibilidade total da safra 2021/22 foi de 123,69 milhões de toneladas.
O consumo interno ficou em 75 milhões de toneladas, gerando excedente exportável de 48 milhões de toneladas – dados da Conab. O elevado excedente doméstico e a preços competitivos no mercado internacional aqueceram a demanda externa no segundo semestre. Assim, vendedores brasileiros se dividiam entre negociar nos portos e no mercado interno, contexto que sustentou o Indicador ESALQ/BM&FBovespa entre R$ 80 e R$ 86/saca de 60 kg ao longo de todo o segundo semestre.
Apesar disso, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa encerra 2022 acumulando queda de 4,7%, a R$ 86,07/saca de 60 kg no dia 29 de dezembro. Nos portos brasileiros, com a demanda aquecida e preço externo em alta, as elevações foram intensas. Entre 30 de dezembro de 2021 e 28 de dezembro de 2022, os avanços foram de 1,3% em Paranaguá (PR) e de 2,6% em Santos (SP). Quanto aos embarques, na parcial do segundo semestre (de julho/22 a dezembro/22), somaram 37,75 milhões de toneladas, forte alta frente às 16,8 milhões de toneladas embarcadas no mesmo período de 2021, segundo a Secex.
Merece destaque que, no final de 2022, até mesmo demandantes chineses, atentos à produção nacional e às dificuldades nas negociações no Mar Negro, se direcionaram ao Brasil. As importações, de fevereiro/22 a dezembro/22, somaram apenas 2,4 milhões de toneladas, abaixo das 2,92 milhões toneladas do mesmo período de 2021.
INTERNACIONAL
Ao longo de 2022, agentes estiveram apreensivos com o clima seco e quente no Hemisfério Norte e com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que gerou dificuldade logística e limitou o escoamento dos grãos por meio do Mar Negro. A produção mundial na safra 2021/22 foi estimada em 1,21 bilhão de toneladas, quantidade 7% acima da anterior, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
O aumento de produção foi observado nos três maiores produtores, Estados Unidos, China e Brasil. Já as maiores reduções ocorreram na Argentina, Etiópia e União Europeia. O consumo da temporada foi estimado pelo USDA em 1,2 bilhão de toneladas, aumento de 8% em relação ao da safra anterior.
Com o aumento da produção, os estoques finais subiram 5%, estimados em 307 milhões de toneladas. Nesse cenário, o primeiro vencimento negociado na Bolsa de Chicago (CME Group) avançou consideráveis 14,4% entre 31 de dezembro de 2021 e 30 de dezembro de 2022, fechando a US$ 6,785/bushel (US$ 267,11/t) no dia 30 (Assessoria de Comunicação, 4/1/23)