Milho: Análise Conjuntural Agromensal Janeiro/23 Cepea/Esalq/USP
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PERSPECTIVA DE 2023
Ainda que os atuais preços do milho operem em patamares inferiores aos registrados no início de 2022, a oferta mundial enxuta, o ritmo forte das exportações brasileiras e os baixos estoques de passagem vêm dando sustentação às cotações domésticas desde o segundo semestre de 2022.
Neste começo de ano, o setor está atento às perdas de produtividade previstas para as lavouras de primeira safra, sobretudo do Sul do País, mas também à possibilidade de colheita recorde na segunda safra. Mesmo com o consumo doméstico também recorde, é de se esperar excedente elevado, o que, por sua vez, deve manter as exportações de milho em volumes históricos em 2023.
Para a primeira safra, o baixo volume de chuvas e as altas temperaturas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina vêm prejudicando o desenvolvimento das lavouras. Por enquanto, a Conab aponta produção de 26,46 milhões de toneladas, 6% acima da temporada anterior, mesmo com a redução em 3% da área, mas estes números devem ser ajustados negativamente.
O consumo segue crescente, estimado em 80,8 milhões de toneladas na safra 2022/23, 7,7% superior à temporada passada, um recorde. A demanda interna vem sendo impulsionada pelo consumo animal e pelo processamento para produção de etanol.
A soma da produção do milho verão ao estoque de passagem, estimado pela Conab em 5,28 milhões de toneladas ao final de janeiro/23, é de 31,7 milhões de toneladas, o que representaria 39% do consumo doméstico, inferior aos 42% da temprada anterior.
Para a segunda safra, por enquanto, a Conab estima aumentos de 5% da área em 2022/23 e de 6,3% da produtividade, o que resultaria em produção de 96,27 milhões de toneladas, 10,37 milhões de toneladas a mais que a anterior.
Para a terceira safra, a área é estimada em 660 mil hectares pela Conab e a produtividade está prevista para ser 6% maior, podendo elevar a produção para 2,33 milhões de toneladas. Com isso, a produção total em 2022/23 é projetada em 125,06 milhões de toneladas pela Conab.
Em Mato Grosso, o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) indica produção em 46,41 milhões de toneladas na segunda safra 2022/23, 5,8% superior ao da temporada passada, resultado de aumentos de 4% na área e de 2% na produtividade.
No Paraná, a Seab/Deral indica redução de 3% na área da segunda temporada, mas elevação de 18% na produtividade, o que resultaria em oferta de 15,37 milhões de toneladas, 16% maior que a anterior. Diante disso, considerando-se os estoques iniciais, importação e produção total, a disponibilidade interna da temporada 2022/23 ficaria acima de 133 milhões de toneladas de acordo com a Conab.
Destes, 80,8 milhões de toneladas devem ser consumidas internamente. Assim, o excedente interno superaria 50 milhões de toneladas, sendo o maior nos últimos anos. Esse cenário de elevada disponibilidade somado aos preços competitivos do milho brasileiro no mercado internacional devem continuar favorecendo as vendas externas – as exportações estão estimadas em 45 milhões de tonelada, um recorde.
As transações externas do Brasil podem ser beneficiadas por estimativas de menor produção global, sobretudo na União Europeia e na Argentina, e por dificuldades logísticas impostas pelo conflito da Rússia contra a Ucrânia. Vale considerar que a produção do Hemisfério Norte já foi colhida no segundo semestre de 2022. Para a temporada 2022/23, a produção global pode atingir 1,16 bilhão de toneladas, 4,8% abaixo da safra anterior, segundo o USDA.
As maiores quedas são estimadas na Ucrânia, de 35%, seguida pela União Europeia e Estados Unidos, com 24% e 9%. Já para Brasil e Argentina, o USDA estima respectivos crescimentos de 8% e de 5% na produção entre 2021/22 e 2022/23. Apesar da redução na colheita mundial, a menor demanda no Vietnã, nos Estados Unidos e na União Europeia também influenciou a queda de 1,55% no consumo, que é estimado em 1,16 bilhão de toneladas.
Com oferta e demanda mais justas, a relação estoque/consumo deve ficar em 25,5%, próxima à da temporada anterior, de 25,9%, mas abaixo da média das últimas cinco temporadas, de 27,7%. Com isso, em termos mundiais, existe a expectativa de aumento nas cotações nos Estados Unidos durante a temporada 2022/23.
Na Bolsa de Chicago (CME Group), a média de ajustes de dezembro para o contrato Mar/23 ficou 17% acima da de dezembro/21. As transações mundiais também devem recuar 12% entre a atual temporada e a próxima, para 178,17 milhões de toneladas. Com a expectativa de redução na produção de importantes produtores, o Brasil deverá ser o segundo maior exportador, com 48,5 milhões de toneladas, atrás apenas dos Estados Unidos, com 51 milhões de toneladas.
Para a Argentina, principal concorrente regional das exportações brasileiras, a Bolsa de Cereais indica redução de 5% na área cultivada de 2022/23, devido à seca severa, com produção estimada em 55 milhões de toneladas.
JANEIRO
Os bons volumes exportados e as altas nos preços externos e nos portos brasileiros não foram suficientes para sustentar as cotações no mercado brasileiro, que se enfraqueceram ao longo de janeiro na maior parte das regiões acompanhadas pelo Cepea.
As quedas estiveram atreladas ao baixo interesse de compradores domésticos nas aquisições de curto prazo e à necessidade de alguns vendedores de negociar para liberar espaço nos armazéns. No dia 31 de janeiro, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas - SP) fechou a R$ 8549/saca de 60 kg, retração de 0,67% no acumulado do mês (Assessoria de Comunicação, 3/2/23)