Milho: Análise Conjuntural Cepea/Esalq/USP Retrospectiva 2023
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Os preços do milho iniciaram 2023 em patamares firmes, sustentados pelo menor estoque de passagem e por preocupações com o clima no Sul do País, que já vinha prejudicando a primeira safra do cereal. Porém, apesar de um cultivo mais tardio na segunda safra, o clima favoreceu o desenvolvimento das lavouras, resultando em oferta recorde no agregado do ano-safra.
Com isso, de abril a junho, as cotações recuaram com força, mas, no trimestre seguinte, se mantiveram estáveis. Somente a partir de setembro que, com o ritmo acelerado das exportações e com agentes preocupados com a safra de 2024, os preços do milho registraram reações, e uma parte das perdas do ano foi recuperada. Segundo a Conab, a produção da primeira safra foi de 27,37 milhões de toneladas, 9% acima da de 2022.
Nos primeiros três meses do ano, a média o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas – SP) foi de R$ 85,58/sc de 60 kg, alta de apenas 0,5% frente ao último trimestre de 2022. Já em abril, os preços do milho atravessaram o mês em queda consecutiva e, em maio, chegaram a operar nos menores patamares desde 2020. Nesse período, os valores foram influenciados pelo clima favorável ao desenvolvimento da segunda safra.
Além disso, no primeiro semestre, as negociações para exportação estavam lentas, com compradores postergando as aquisições e à espera de desvalorizações mais intensas, fundamentados no avanço da colheita de segunda safra, que foi iniciada em maio no Brasil. No balanço do primeiro semestre (de 29 de dezembro de 2022 a 30 de junho de 2023), o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas –SP) teve forte queda de 35,7%.
A média de R$ 74,13/saca de 60 kg no primeiro semestre foi 20% inferior à do mesmo período de 2022 – em termos nominais. Diante do clima favorável ao desenvolvimento das lavouras de segunda safra, a oferta de milho somou 102,36 milhões de toneladas, quantidade 19% superior à da temporada anterior e um recorde. Para terceira safra, foram colhidas 2,2 milhões de toneladas, recuo de 4,2% frente a 2021/22.
Assim, a colheita das três safras somou 131,94 milhões de toneladas, um recorde. Somando a produção com o estoque inicial, de 8,1 milhões de toneladas, e importação, de 1,9 milhão de toneladas, a disponibilidade total da safra 2022/23 foi de 141,8 milhões de toneladas. O consumo interno ficou em 79,59 milhões de toneladas, gerando excedente de 62,16 milhões de toneladas – dados da Conab.
De fevereiro a junho de 2023, as exportações somaram 5,5 milhões de toneladas, acima das 3,5 milhões embarcados no mesmo período de 2022, conforme dados da Secex. Entretanto, de julho até dezembro, foram embarcadas 44,26 milhões de toneladas, acumulando 49,8 milhões de toneladas no ano-safra (de fevereiro até a dezembro). A China foi o principal destino do milho brasileiro, se aproximando de 10 milhões de toneladas embarcadas ao país asiático entre fevereiro/23 e novembro/23, de acordo com dados da Secex.
A Conab estima que, de fevereiro/23 a janeiro/24, o Brasil possa exportar 56 milhões de toneladas. Caso as exportações atinjam esse volume e o consumo interno fique em 79,59 milhões de toneladas, os estoques finais, em janeiro/24, devem ser de 6,3 milhões de toneladas, representando apenas 8% do consumo anual e a menor relação desde a temporada 2011/12. Com estoques sendo reduzidos conforme as exportações cresceram, os preços domésticos encontraram sustentação a partir de setembro, puxados também pela taxa de câmbio favorável e pela maior paridade de exportação.
Em outubro, os valores voltaram aos patamares de maio deste ano, e o movimento de alta seguiu firme neste último bimestre. Assim, no segundo semestre de 2023 (de 30 de junho até o dia 28 de dezembro), o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas – SP) subiu 25%, fechando a R$ 69,21/saca de 60 kg no dia 28. A média do segundo semestre, de R$ 58,25/sc, ficou 21% abaixo do semestre anterior e 30% inferior ao do mesmo período de 2022.
Em termos mundiais, a produção na safra 2022/23 foi de 1,16 bilhão de toneladas, quantidade 5% inferior à da temporada passada, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Entre os principais produtores, Estados Unidos, Argentina e Ucrânia, o USDA estimou fortes cortes na produção em relação à temporada anterior, de 9%, 31% e 36% respectivamente.
No entanto, Brasil e China aumentam a produção, em 18% e 2% respectivamente. O consumo mundial da temporada foi estimado pelo USDA também em 1,17 bilhão de toneladas, redução de 1,6% em relação à temporada anterior. Com a queda na produção mundial, os estoques finais da temporada caíram 3%, estimados em 300 milhões de toneladas, gerando uma relação estoque/consumo de 25,9% em 2022/23, contra 26,4% em 2021/22.
As transações internacionais são estimadas pelo USDA em 180,5 milhões de toneladas, recuo de 12% em relação às da temporada anterior. Na safra 2022/23, o Brasil veio a se tornar o maior fornecedor de cereal ao exterior, superando os embarques norte-americanos, com 53,29 milhões embarcados pelo país sul-americano e 42,83 milhões de toneladas pelos Estados Unidos, segundo estimativas do USDA (Assessoria de Comunicação, 8/1/24)