Milho: Dólar a R$ 4,20 incentiva vendas futuras e área maior de plantio
Legenda: Colheita de milho na fazenda Rio do Sangue, em Brasnorte (MT)
Produtores de Mato Grosso já fizeram vendas antecipadas de 40% do milho que vão plantar em fevereiro.
Na terra da soja, quem brilha é o milho. O atraso no plantio da safra atual de soja deixou muitos produtores extremamente preocupados. Não sem motivos.
Ao contrário do que ocorre normalmente, as vendas antecipadas de milho chegaram a superar as de soja e, atualmente, se equiparam às da oleaginosa.
Semeado após a soja, um atraso desta poderia fazer com que o produtor perdesse o tempo ideal para plantar do milho.
Ferrnando Muraro, da AgRural, diz que 40% do milho que será plantado em Mato Grosso em janeiro e em fevereiro, e que só será entregue no segundo semestre, já tinha sido vendido em outubro.
Com o dólar a R$ 4,20, esse percentual deverá ser ainda maior no próximo levantamento de dados.
Os ventos foram totalmente favoráveis ao cereal. O Brasil teve uma produção recorde, o dólar elevado sustentou as vendas externas, e o mercado interno, incentivado pelas exportações recordes de carne, assegurou preços ao cereal.
O resultado é que, em algumas regiões, como no oeste do Paraná, o lucro por hectare para os produtores de soja foi de R$ 400 a R$ 450. Já o milho rendeu R$ 1.500, segundo Muraro.
Ele credita parte dessa diferença também à quebra de safra de soja e à produção recorde de milho na safrinha.
O cenário é bom para o produtor, mas complicado para a indústria, que chega a pagar ágio para manter parte desse cereal no país.
Dados da AgRural indicavam, nesta terça-feira (19), o preço do milho em R$ 38 no mercado físico de Cascavel (PR). A soja, também beneficiada pelo dólar, estava a R$ 85 por saca.
O milho, um complemento de renda para o produtor, que tem na soja a principal cultura, já começa a ser um ponto de equilíbrio para as finanças no campo, segundo Muraro. Com isso, ele prevê novo aumento na área de plantio do cereal na próxima safra.
O dólar elevado traz mais reais para os agricultores, mas não deixa de ser um fator de preocupação, principalmente para os grandes produtores, que adotam um modelo de financiamento baseado na moeda dos Estados Unidos.
Os custos dos insumos, como adubos e agroquímicos, passam a ser um fator determinante na formação de renda dos produtores, principalmente nos das fronteiras agrícolas.
Uma safra semeada a R$ 4,00 por dólar, como está ocorrendo, será desastrosa para o produtor se a moeda dos norte-americanos recuar para um patamar inferior a R$ 3,50 no período da comercialização do produto.
Esse recuo, porém, não está no radar do mercado financeiro. Pelo menos, por ora (Folha de S.Paulo, 20/11/19)