20/10/2023

Ministério Público defende que Lula vete integralmente Marco Temporal

Ministério Público defende que Lula vete integralmente Marco Temporal

INDIOS EM FRENTE CONGRESSO Foto Blog Metrópoles

Prazo para sanção ou veto ao projeto termina na sexta (20).

MPF (Ministério Público Federal) divulgou uma nota nesta quinta-feira (19) para defender que o presidente Lula (PT) vete integralmente o projeto de lei aprovado pelo Congresso que institui um marco temporal para a demarcação de terras indígenas.

A manifestação é assinada por procuradores da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, que trata de assuntos relacionados às populações indígenas e comunidades tradicionais.

No texto, os procuradores dizem que a proposta aprovada pelo Congresso é "inconstitucional e inconvencional" e contraria "garantias constitucionais" e "tratados internacionais" relacionados ao tema.

Lula tem até sexta-feira (20) para decidir pela sanção, veto parcial ou veto integral da proposta aprovada pelo Congresso. Segundo auxiliares ouvidos pela Folha, a tendência é que o presidente rejeite somente parte da lei.

A nota divulgada pelo MPF diz que o marco temporal caiu em setembro após o STF (Supremo Tribunal Federal) decidir que a tese defendida por ruralistas é inconstitucional.

Os procuradores argumentam que a proposta aprovada pelo Congresso promove uma série de medidas inconstitucionais e viola tratados internacionais ao permitir, por exemplo, o "contato forçado com povos indígenas em isolamento voluntário".

"O pacto social plural firmado na Constituição de 1988 assegura o respeito à autodeterminação dos povos indígenas como o referencial da relação desses povos com o Estado. Entende-se que cabe aos povos indígenas a decisão sobre seus destinos, seus modos de vida e suas prioridades de desenvolvimento", diz a nota.

Eles ainda destacam que os povos indígenas não foram consultados durante a discussão do projeto de lei no Congresso —o que, na visão do MPF, viola artigo da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.

"Diante do exposto, esta 6ª CCR/MPF reitera a inconstitucionalidade e a inconvencionalidade do Projeto de Lei n.º 2.903 de 2023, ao tempo que espera que o Presidente da República vete-o integralmente."

A nota é assinada pela subprocurador-geral da República Eliana de Carvalho e pelos procuradores Marcia Zollinger, Felício Junior, Luis de Camões Boaventura, Ricardo Ardenghi e Francisco Guilherme Bastos.

O projeto de lei que institui um marco temporal para a demarcação das terras indígenas foi aprovado pelo Senado em votação relâmpago no fim de setembro —uma semana após a tese ser derrubada pelo plenário do STF.

 

A proposta define que as terras indígenas devem se restringir à área ocupada pelos povos na promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988.

Dessa forma, indígenas que tiveram suas terras demarcadas após a Constituinte não teriam mais o direito de reivindicá-las.

O texto aprovado no Congresso ainda vai além da questão do marco e cria dispositivos que flexibilizam a exploração de recursos naturais e a realização de empreendimentos dentro de terras indígenas.

Ambientalistas e o movimento indígena veem brechas para permitir garimpo, atividade agropecuária, abertura de rodovias, linhas de transmissão de energia ou instalação de hidrelétricas, além de contratos com a iniciativa privada e não indígena para empreendimentos.

Uma análise feita pela Folha a partir da base da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) mostra que a sanção do marco temporal pode ameaçar a posse de indígenas sobre ao menos 36% dos territórios ocupados por eles.

O avanço da proposta faz parte de um pacote de propostas contrárias a decisões do STF que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) tem encampado, com apoio da oposição ao governo Lula (Folha, 20/10/23)