25/06/2021

Ministra vê 'boom' de preços de commodities pelo menos até 2022

Ministra vê 'boom' de preços de commodities pelo menos até 2022

Legenda: Ministra da Agricultura do Brasil, Tereza Cristina Dias. REUTERS/Amanda Perobelli

Os preços das commodities agrícolas deverão seguir em patamares historicamente elevados por mais um tempo, com esse “boom” prosseguindo até pelo menos 2022, diante da forte demanda global por produtos brasileiros, disse a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, nesta quinta-feira.

“Este ano e o próximo ano eu vejo que este ‘boom’ das commodities continuará acontecendo, pela demanda mundial que a gente tem visto pelos produtos brasileiros – e não só brasileiros, mas a própria safra americana, que tem sido vendida muito rapidamente”, disse ela, em entrevista de manhã à CNN Brasil, na qual também comentou sobre a saída de Ricardo Salles do Ministério de Meio Ambiente.

Ela ressaltou ainda que produtores têm aproveitado os patamares de preços e fixado vendas da próxima safra, o que também colabora com o cenário. Os negócios de soja para 2021/22 atingiram, até o início do mês, 17,4% do potencial da colheita, conforme a consultoria privada Datagro.

“Então eu acredito que esse ‘boom’ continue pelo menos por este ano e o outro.”

Ela lembrou que a inflação dos alimentos aconteceu não só no Brasil, mas no mundo todo por um desequilíbrio entre a oferta e a demanda.

“O arroz, por exemplo, foi um caso emblemático… Não teve nada a ver com a pandemia, a princípio. Houve um período de falta de incentivo à produção de arroz, o arroz ficou muito barato no Brasil, nós tivemos um decréscimo de oferta. Aí, na pandemia, houve uma mudança de hábito, se consumiu mais arroz, e o preço subiu.”

Ela comparou o “boom” recente ao que aconteceu em 2007, mas disse acreditar que alguns mercados já estão vendo um equilíbrio, e os preços recuando ante as máximas históricas.

“Está havendo uma mudança global no preço dos alimentos – nos EUA tem, agora, um aumento das carnes muito acentuado. Mas isso volta. O arroz já voltou – não sei quando ele vai voltar na prateleira do supermercado, mas para o produtor o preço já caiu bastante do que foi no ano passado”, disse, citando que as carnes no país também estão abaixo dos patamares históricos.

“Teve uma diminuição nos preços do frango. As coisas são assim. Agora, o que podemos fazer, qual o remédio, qual a ferramenta para isso? É produzir mais, é aumentar a oferta, e é claro que aí os preços vão se equilibrar.”

No caso do milho, a cotação registra recuo de cerca de 13% em junho, abaixo de 90 reais a saca, segundo o indicador Esalq, à medida que a colheita da segunda safra progride. Já o arroz também teve recuo semelhante no acumulado de junho no Rio Grande do Sul.

A ministra comentou também que o Brasil sofreu impacto adicional de uma quebra acentuada de safra de milho devido à seca em 2021.

“Nas grandes culturas, hoje, o milho está sendo colhido. Vamos ter uma quebra significativa na safra de inverno porque tivemos um período de falta de chuvas entre março e abril. Maio e junho começamos a ter mais chuvas, então até conseguimos salvar uma área significativa do milho para que essas perdas não fossem maiores.”

Para a próxima safra, ela disse que há preocupações relacionadas à crise hídrica para os agricultores irrigantes, em momento em que a água está sendo disputada para a geração hidrelétrica.

“Agora, é preocupante, porque quem irriga, depende de água, de energia elétrica… Então a gente está conversando, nós temos um comitê dentro do governo de avaliação dessa crise, para que as medidas necessárias sejam implementadas e antecipadamente”, comentou, ressalvando que a grande maioria dos cultivos brasileiros não depende de irrigação (Reuters, 24/6/21)


“Índia será um mercado fantástico no futuro”, diz ministra

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, sinalizou uma forte cooperação comercial entre o Brasil e a Índia para os próximos anos. “Índia será um mercado fantástico”, avalia, que destaca que o país possibilitará uma "diversificação da pauta” nacional, a exemplo de parceria em produtos como etanol. “O mercado é muito interessante e estamos muito antenados”, reforçou.

Em entrevista à CNN Brasil na manhã desta quinta-feira (24), a ministra afirmou que a Índia já demonstrou interesse na carne de ave nacional e que o embaixador da Índia no Brasil, Suresh Reddy, tem atuado de forma ativa para intensificar a parceria. “[Reddy] Tem conversado muito sobre essas possibilidades de mercado”, afirma. Tereza Cristina assinalou que, apesar das fortes diferenças culturais entre os dois países, o Ministério da Agricultura pretende “conhecer mais” a nação asiática.

Sobre o mercado nacional, a ministra rebateu as críticas sobre o aumento de preços dos alimentos que tem pressionado a inflação. De acordo com Tereza Cristina, o aumento da inflação dos alimentos não ocorreu “apenas no Brasil, mas no mundo todo”. “Houve um desequilíbrio na oferta de produtos, e também tivemos o arroz que foi um caso emblemático mais estruturante. Não teve nada a ver com a pandemia, a princípio”, explicou.

A ministra também falou que houve uma alta dos insumos, acentuada mais ainda com a crise sanitária. “Tivemos uma demanda mundial por alimentos, e o Brasil é um grande fornecedor e produtor de alimentos para mais de 200 países. Por isso houve um desequilíbrio", pontuou.

Ricardo Salles 

Questionada sobre a demissão do agora ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, ontem (23), a ministra teceu elogios à conduta do ex-gestor e salientou que ele “deixa um legado”. “Eu só quero reafirmar que a agricultura não pode ser a vilã do meio ambiente. Então, o trabalho conjunto que nós fizemos, é claro que temos coisas para resolver no Brasil, mas o ministro deixa [um legado], e o governo continua.”

Em sua avaliação, a imagem do País não deve mudar com a saída de Salles. Para ela, o Brasil deve mostrar “o que temos de bom na agricultura”. “O Brasil tem uma imagem ruim porque muitos querem vilanizar nossa agricultura, que é uma das mais sustentáveis do mundo”. Ainda, Tereza Cristina afirmou que também é “muito difícil” a junção dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente (Broadcast, 24/6/21)