17/08/2023

Ministro aponta falha inicial da Eletrobras. busca respostas para apagão

Ministro aponta falha inicial da Eletrobras. busca respostas para apagão

ministro Alexandre Silveira (Foto Divulgação MME).png

Silveira diz que evento sozinho não provocaria falta de energia observada na terça; 'mais do que nunca' a PF precisa investigar, afirmou.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou nesta quarta-feira (16) que o apagão de terça que afetou 25 estados e o Distrito Federal começou em uma linha da Chesf, subsidiária da Eletrobras na região Nordeste.

"O evento zero, que iniciou esse processo, se deu na linha de Quixadá-Fortaleza, no estado do Ceará. Uma linha da Chesf, da Eletrobras. Foi um evento considerado, a princípio, de pequena magnitude", afirmou Silveira.

"Ele isoladamente, como dissemos ontem, não era suficiente para causar o colapso do sistema como um todo. Mas, por um erro de programação, a linha 'abriu' [deixou de receber energia] e levou a uma série de falhas."

Luiz Carlos Ciocchi, diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema), destacou que a busca da causa do apagão exigiu mais atenção desta vez porque, diferentemente de outros eventos, não havia ocorrido um raio, uma intempérie ou a queda de uma torre ou de uma linha de transmissão.

Segundo ele, já se sabe que a linha ficou sem energia porque uma proteção, que era programada, não se acionou quando necessário. É preciso investigar agora no detalhe a origem da falha.

"Isso ocasionou uma sequência de eventos, em onda, como se fosse uma coluna de peças de dominó, com N eventos que foram se propagando por diferentes linhas da região Nordeste", afirmou.

"Para se ter uma ideia, em 600 milissegundos houve a desconexão da fronteira da elétrica Nordeste, Norte e Sudeste."

Segundo Ciocchi, o grande desafio do Rap (Relatório de Avaliação de Perturbação) será identificar a sequência lógica dessa falha inicial.

O diretor-geral do ONS afirmou ainda que não ocorreu uma perturbação adicional, como havia sido ventilado no dia do apagão. "Ontem existia a hipótese de um segundo evento na região Norte, mas ela foi descartada", afirmou.

 

Segundo o ministro Silveira, a própria Chesf já admitiu que o evento se iniciou em sua linha no Ceará.

"Ela admitiu que houve uma falha sistêmica e não se pode ainda dizer se foi uma falha humana, por lançamento do sistema do projeto de engenharia ou sistêmica. O fato é que essa falha em si não seria capaz de causar um evento de tal magnitude", reforçou.

No dia anterior, Silveira havia dito que o incidente foi gerado após uma sobrecarga no Ceará, mas evitou confirmar que a linha era do grupo Eletrobras.

Durante a coletiva de imprensa em que tratou do apagão, ele já havia destacado que após a sabotagem de linhas de transmissão no início do ano, por precaução também havia determinado que órgãos de investigação fizessem uma avaliação detalhada para descartar o risco de um novo ataque ao sistema.

A descoberta do ponto de partida do apagão não descarta, diz ele, a necessidade de uma investigação. Como o evento foi de pequeno porte, ele afirmou que ainda é preciso trabalhar com todas as hipóteses, e manteve as investigações com a PF (Polícia Federal).

O ministro contou que se reuniu nesta quarta com o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, para alinhar o trabalho nesse front.

"Mais do que nunca, é extremamente necessária a participação da Polícia Federal, já que o ONS não teve como apontar uma falha técnica que pudesse causar um evento com a dimensão da paralisação da energia", afirmou.

"Ontem, eu pedi a participação da Política Federal ao ministro da Justiça, Flávio Dino Hoje, e ele determinou a instauração do inquérito policial, a Polícia Federal já está mobilizada."

Nesta quarta, o ONS determinou o aumento da distribuição de energia das usinas hidrelétricas e reduziu o uso de eólicas, o que levou há uma série de dúvidas e especulações sobre a participação das renováveis como causa do apagão. O ministro voltou a descarta essa possibilidade.

 

"Quando acontece um evento dessa magnitude, o ONS tem um procedimento padrão para aumentar a segurança do sistema", afirmou. "Por isso, adotou os procedimentos para reduzir a energia intermitente [eólica e solar]. É um procedimento padrão, que não tem correção direta com a causa do padrão", afirmou.

Antes mesmo de o ministro de Minas e Energia anunciar que o evento zero do apagão ocorreu em um linha da Chesf, a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, já tinha notificado a Eletrobras nesta quarta para prestar esclarecimentos sobre a falta de energia.

Segundo o ministério, a notificação "visa proteger os direitos dos consumidores e garantir que a prestação de serviços essenciais seja realizada com transparência e eficiência". A ação se soma a outras medidas da pasta envolvendo o apagão, como pedido à Polícia Federal que investigue a ocorrência.

À noite, Eletrobras divulgou nota sobre a falha, destacando que está colaborando com o ONS na apuração do que ocorreu.

A empresa confirmou ter identificado o desligamento da linha de transmissão 500kV Quixadá II/Fortaleza II, por atuação indevida do sistema de proteção, milissegundos antes do apagão ocorrido às 8h31.

A empresa destacou ainda que a manutenção dessa linha de transmissão está em conformidade com as normas técnicas associadas e reforçou que ela sozinha não poderia ter desligado o sistema.

"Ressalta-se que o desligamento da citada linha de transmissão, de forma isolada, não seria suficiente para a abrangência e repercussão sistêmica do ocorrido. As redes de transmissão do SIN são planejadas de modo que, em caso de desligamento de qualquer componente, o sistema deve ser capaz de permanecer operando sem interrupção do fornecimento de energia", destacou o texto.

Na manhã desta quarta, o ministro Rui Costa (Casa Civil), destacou que o apagão tinha ocorrido por um problema técnico.

"Foi erro técnico, falha técnica, precisa identificar o que foi que aconteceu. Espero que o mais rápido possível consigamos dizer à sociedade", afirmou em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro —da EBC (Empresa Brasil de Comunicação).

O dia foi movimentado na porta do ministério. Políticos do Norte e Nordeste marcaram presença no MME. O deputado Danilo Fortes (União-CE), conhecido como defensor das renováveis, especialmente eólicas, que são fortes no seu estado, veio se inteirar da situação. Especialistas chegaram a cogitar que uma sobrecarga de energia eólica havia levado ao apagão. Isso foi descartado pelo ministro na coletiva realizada na terça.

Em meio às apurações, o senador Omar Aziz (PSD-AM) foi ao ministério nesta quarta tratar da expansão do uso do gás na região Norte. Segundo ele, a região tem opções que precisam ser melhor exploradas para garantir mais segurança energética. A governadora do Rio Grande do Norte Fátima Bezerra (PT) também teve agenda no ministério.

Representantes do segmento de térmicas aproveitaram a queda no fornecimento de energia para defender essa modalidade de geração como um importante seguro contra apagões (Folha, 17/8/23)