13/03/2025

Ministro leva tradings para reunião com STF sobre Moratória da Soja

Ministro leva tradings para reunião com STF sobre Moratória da Soja

Agenda do encontro no STF não consta na agenda oficial do minitro da Agricultura. Foto Guilherme Martimon - MAPA

 

Carlos Fávaro, da Agricultura, tem dito que concorda com a posição dos produtores rurais, de que o acordo coloca restrições acima do previsto no Código Florestal.

 

Em meio ao acirramento da rusga entre produtores rurais e tradings, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, levou empresários do setor exportador para uma reunião no início da noite de terça-feira (11/3) com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, que relata uma ação sobre a aplicação da Moratória da Soja no país.

A reunião foi solicitada por Fávaro, segundo a assessoria de Dino. Uma das pessoas que o acompanhou foi Blairo Maggi, ex-ministro da Agricultura, ex-senador e ex-governador de Mato Grosso. O empresário preside o Conselho de Administração da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que reúne as principais tradings de grãos, como soja e milho. Ele também é o “padrinho político” de Fávaro.

 

Também participaram da reunião o presidente-executivo da Abiove, André Nassar; Eraí Maggi Scheffer, primo de Blairo e presidente do Grupo Bom Futuro, um dos maiores produtores de commodities agrícolas do país; e Ricardo Tomczyk, diretor de Relações Institucionais da Amaggi, maior trading agrícola de capital nacional, signatária da Moratória da Soja, empresa da família Maggi; além de outros representantes do setor exportador.

 

A reunião não foi divulgada nas agendas oficiais de Fávaro ou Dino até agora. O ministro da Agricultura foi procurado para comentar quais foram os argumentos apresentados no encontro, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.

 

A interlocutores, Fávaro tem dito nos últimos dias que concorda com a posição dos produtores rurais, que são contra o acordo da forma como está e a aplicação de restrições acima do Código Florestal. Por outro lado, avalia que a Moratória da Soja tem um valor, como mecanismo de combate ao desmatamento no país e de promoção da sustentabilidade, ainda mais em um cenário conturbado, de críticas ambientais crescentes ao Brasil e de cobrança dos parceiros comerciais por medidas de rastreabilidade da produção e garantias socioambientais.

 

A intenção de Fávaro, segundo pessoas próximas a ele, é transmitir ao STF a mensagem de que existe espaço para construir uma saída alternativa, uma via que não seja a manutenção dos termos atuais da moratória - que gera descontentamento da classe produtora - nem a extinção deliberada do acordo sem a definição de outro mecanismo de controle de desmatamento. Esse direcionamento agrada as tradings. Mas isso não significa que a conciliação sobre o tema será fácil. O ministro tem dito que quer costurar uma solução para o assunto.

 

A Moratória da Soja é um acordo privado das multinacionais exportadoras que veda a comercialização de soja produzida em área desmatada, de forma legal ou ilegal na Amazônia, após 2008. Produtores rurais movimentam uma ofensiva contra a Moratória nos últimos meses.

 

Encontro no Ministério

 

Ainda na terça-feira, antes do encontro com o ministro Flávio Dino, a comitiva de empresários e executivos das tradings liderada por Blairo Maggi se reuniu com Fávaro por cerca de uma hora no gabinete do ministro na Esplanada dos Ministérios. Eles saíram juntos para o STF.

 

Flávio Dino é relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7.774, que pede a invalidação de uma lei de Mato Grosso que busca retirar benefícios fiscais de empresas que participam de acordos e compromissos ambientais mais restritos que o Código Florestal, como a Moratória da Soja. Por liminar do ministro, a legislação já está suspensa desde o fim de 2024. Ele busca uma conciliação para o caso, mas que já teria sido descartada pelo PCdoB, autor do processo no STF.

 

A lei foi sancionada pelo governador mato-grossense, Mauro Mendes, que é de um grupo político diferente do de Fávaro e Maggi no Estado. Produtores de soja defendem a medida, pela qual a moratória praticamente seria extinta. As indústrias são contra, mas esperam o desfecho da ação no STF para se posicionar.

 

Os produtores rurais afirmam que o acordo fere diretamente a livre iniciativa, afeta os produtores, regula a oferta de soja no mercado e promove desigualdades sociais. Ao menos três processos foram recebidos recentemente no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) contra a moratória. Um deles, movido pela Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, resultou na abertura de investigação, etapa que antecede um eventual inquérito.

 

Paralelamente, agricultores, parlamentares, indústrias e Ministério Público tentam costurar um Pacto de Conformidade Ambiental da Soja (PCAS), para substituir a moratória.

 

O ministro do STF Flávio Dino tem recebido vários pedidos de reuniões relativas a essa pauta. O ministro já recebeu os governadores do Pará, Helder Barbalho, e de Mato Grosso, Mauro Mendes, o presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, Max Russi (PSB) e outros parlamentares do Estado, e entidades representativas do setor, como a Aprosoja (Globo Rural, 12/3/25)