16/06/2020

Monte sua árvore – Por Nizan Guanaes

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Legenda: Tradicional árvore de natal da Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio de Janeiro, em 2019. - Fernando Maia - 11.dez.19/Divulgação

 

Muita coisa não mudou desde esta coluna, de 2016; por exemplo, a necessidade de esperança.

Já disse que não sou nenhum super-homem, nem sou imune a depressões, ansiedades, frustrações e aflições que esta longa crise gera em todos nós.

Tem dias em que é difícil dormir. Em outros, é difícil pular da cama com entusiasmo. Mas, como digo aos meus sócios e time de colaboradores, numa crise a gente tem que se motivar em rodízio. Quando um cansa, vem outro apoiar. Numa crise tão aguda, o longo prazo pode ser o hoje à tarde. Como diz a Bíblia, cada dia com sua agonia.

Meu grupo empresarial, como todos os outros, tem focado em cortar todo tipo de gordura e custo. Isso é default, obrigatório, não se discute. Mas liderar na crise não é só isso. É mais. É animar a tropa com visão e imaginação. É, sobretudo, cuidar das pessoas.

E cuidar das pessoas não só com emails e WhatsApps. É preciso olho no olho, pegar nas pessoas, tocar seus corações, ouvir suas angústias, com o time sentindo que o comandante está perto do chão de fábrica.

Tenho procurado celebrar com meu pessoal cada pequena vitória diária, porque senão a gente fica se martirizando nos gols que tomamos nas tristezas e decepções dessa crise.

É isso o que estou fazendo. E, como não posso gastar dinheiro, gasto meu tempo e minha imaginação no desafio de motivar minhas pessoas.

Foi aí que veio essa ideia maluca, infantil, mas encantadora. No plano pessoal, decidi me motivar com um pequeno truque, planejando na minha cabeça onde eu e minha família vamos passar o Natal, uma festa de que tanto gosto.

E foi pensando no Natal que decidi que nesta semana vamos montar aqui no escritório a nossa árvore de Natal. Eu tenho certeza de que, ao olharem para ela, as pessoas vão tirar o coração do dia a dia das más notícias, da crise, da crise, da crise. E vão lembrar que, a despeito da crise, e de ainda ser julho, agosto, setembro, outubro ou novembro, em dezembro haverá Natal.

É uma mensagem infantil, de esperança, mas o sofrimento, a depressão e a falta de imaginação são adultos. A alegria, a fé e a imaginação são crianças. São Papai Noel e o menino Jesus. Eu quero que o meu time fique com “Jingle Bells” no coração e que esse “Jingle Bells” solte as crianças que as pessoas têm dentro delas.

As crianças não precisam cortar custos pois são felizes com pouco. Elas sabem fazer de um cabo de vassoura um foguete, de uma toalha velha, uma capa de rainha.

Tenho certeza de que as pessoas que trabalham aqui no escritório vão estranhar em ver a árvore de Natal colocada no corredor. Depois, lerão o texto em que as convido a sonhar com o Natal e, por fim, ficarão com essa esperança tola e infantil no coração. E aí, quem sabe, um ou outro monte em sua casa sua árvore de Natal, comente com o amigo, faça um post sobre isso e espalhe pelo WhatsApp. E aí, queira Deus ou Papai Noel, esse troço viraliza como o balde de gelo do Mark Zuckerberg.

Tudo bem, já estou exagerando, viajando na maionese. Já estou pedindo demais. Mas tenho certeza de que uma coisa a minha singela árvore de Natal vai conseguir: enquanto meus colaboradores olharem para ela, eles tirarão por um momento ao menos os olhos do dia a dia da crise e sonharão com a chegada de Papai Noel e do Natal.

Portanto, meu querido adulto, seja criança. Coloque sua árvore de Natal também no seu escritório, na sua casa ou, pelo menos, na sua cabeça e no seu coração.

São Paulo, 16 de junho de 2020.

Muita coisa mudou na minha vida e na vida do mundo desde que escrevi esta coluna, em 2016. Mas muita coisa não mudou. Uma delas é a necessidade de o homem ter esperança. Por isso: Monte sua árvore (Nizan Guanaes, empreendedor, criador da N Ideias; Folha de S.Paulo, 16/6/20)