Moraes se torna imagem da Justiça brasileira no exterior
A revista inglesa The Economist chamou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, de "juiz estrela" em matéria publicada nesta quarta-feira, 16. Foto: The Economist/Reprodução
Revistas e jornais de grande circulação no mundo, como The Economist, The New York Times, The New Yorker e Financial Times publicaram reportagens e entrevistas com o ministro, além de narrarem casos de grande repercussão envolvendo Moraes
Qualificado como “juiz estrela” pela inglesa The Economist nesta quarta-feira, 16, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), vem ocupando espaço em jornais e revistas de grande circulação pelo mundo. O foco no magistrado remete principalmente aos processos de grande repercussão dos quais é relator, às quedas de braço internacionais e ao protagonismo assumido pelo juiz em ações visando a defesa da democracia.
O artigo mais recente, publicado pela The Economist, afirma que o Judiciário brasileiro é um sistema de “juízes com poder excessivo”, e, segundo a revista, nenhuma figura personifica isso melhor do que Moraes. O artigo avalia que a Suprema Corte do País enfrenta “crescentes questionamentos” na medida em que tenta “administrar” assuntos políticos.
No início do mês, a revista The New Yorker publicou uma entrevista com o ministro, que incluiu também um ensaio fotográfico. As fotos foram feitas em 26 de março, mesmo dia que a Primeira Turma da Corte tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete aliados réus por tentativa de golpe de Estado.
O perfil, publicado em 7 de abril na versão digital, e que também ilustrou a versão impressa da revista, mostrou a forma de atuação de Moraes ao longo da carreira.
Enquanto secretário de Segurança Pública, por exemplo, ele foi descrito como mantendo a linha “tolerância zero contra o crime”, o que lhe rendia críticas de setores progressistas. A imagem do ministro mudou quando passou a fazer a relatoria de inquéritos contra a família Bolsonaro, sendo aclamado pela esquerda e criticado na extrema direita, descreve o perfil.
Em setembro do ano passado, uma reportagem da Financial Times qualificou Moraes, já no título, como o “implacável juiz brasileiro que enfrenta Elon Musk”. A publicação ocorreu em meio à sequência de atritos entre o X (antigo Twitter), do bilionário, e o Judiciário brasileiro, que resultou no bloqueio da plataforma no País por quase 40 dias.
Matéria do jornal britânico Financial Times sobre o ministro do Supremo Alexandre de Moraes, em setembro de 2024. Foto Financial Times Reprodução
“Para seus defensores, o magistrado de 55 anos é um herói que protegeu a democracia contra uma enxurrada de notícias falsas. Para os detratores, ele é culpado de censura e mira injustamente nos conservadores”, diz trecho da reportagem.
Outro entrave envolvendo Moraes para além das fronteiras nacionais foi repercutido pelo jornal The New York Times no início de fevereiro. O magistrado brasileiro foi alvo de uma ação por suposta violação à soberania americana, movida pela Trump Media, ligada ao presidente Donald Trump, e pela plataforma de vídeos Rumble.
O jornal descreveu a ação como “um esforço surpreendente” de Trump em prol de um aliado com uma trajetória similar, “que, assim como ele, é um líder de direita indiciado por haver tentado reverter sua derrota eleitoral”, disse o jornal se referindo a Bolsonaro, que considera Moraes seu maior rival político.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes ganha páginas de jornais e revistas internacionais. Foto: Wilton Júnior/Estadão
Em outubro do ano passado, o mesmo jornal publicou uma reportagem questionando se a expansão do Supremo “para poder proteger a democracia” agora o tornava uma espécie de “ameaça”. Afirmando que a Corte nomeou Moraes como uma “espécie de xerife da internet brasileira”, o artigo cita a relatoria de Moraes no inquérito das fake news e narra diversas ações tomadas pelo ministro no bojo dessa investigação (Estadão, 18/4/25)
STF não pode desprezar crítica internacional sobre ‘poder excessivo’ na Corte, avaliam ministros
Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal. Foto Witon Junior
Por Roseann Kennedy
Revista inglesa The Economist apontou ‘concentração de poder’ dos ministros do STF e chamou Alexandre de Moraes de ‘juiz estrela’; procurada, Corte não comentou
O Supremo Tribunal Federal (STF) não pode desprezar as críticas internacionais que está sofrendo pela condução do inquérito do golpe. A avaliação foi feita por magistrados da Suprema Corte que conversaram com a Coluna do Estadão, após a revista inglesa The Economist publicar que o Judiciário do Brasil é definido como um sistema de “juízes com poder excessivo”, personificado pelo ministro Alexandre de Moraes, a quem chamou de “juiz estrela”. Procurada, a Corte não comentou.
Avança no STF o entendimento de que o tempo decorrido entre os atos golpistas do 8 de janeiro de 2023 até agora jogou novas luzes ao julgamento e reduziu o apelo emocional punitivista. Um dos ministros que conversaram com a Coluna disse ser evidente a “mudança de ares”, obrigando o Supremo a revisar as penas aplicadas aos condenados e réus dos atos golpistas.
Se antes os magistrados do STF ouviam principalmente elogios no exterior, especialmente no ambiente acadêmico, por terem evitado um golpe de estado do Brasil, agora também são alvo de contestações.
Em evento organizado por estudantes brasileiros de Harvard e MIT, no sábado 12, o ministro Gilmar Mendes, por exemplo, foi indagado sobre o Supremo extrapolar seu papel. Algo que a revista The Economist também ressalta ao observar que o STF enfrenta “crescentes questionamentos” na medida em que tenta “administrar” assuntos políticos.
Para outro ministro que falou com a Coluna, a percepção crítica no cenário internacional sobre a atuação do Supremo e sobre o comportamento de alguns de seus integrantes aumenta o mal-estar interno na magistratura e o incômodo com o protagonismo de Alexandre de Moraes.
Um dos motivos de preocupação em ala do STF é o risco de perda de credibilidade em suas decisões. A instituição, que já esteve entre as mais admiradas entre os brasileiros no passado, vem há anos na berlinda.
A revista inglesa afirmou que o Supremo pode agravar sua crise de confiança diante dos brasileiros se não levar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao plenário da Corte. O ex-presidente e mais sete aliados são réus no STF por uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. A Suprema Corte ainda analisará o recebimento da denúncia contra mais 26 pessoas.
Para um dos magistrados, a publicação inglesa apenas ressona o pensamento do establishment econômico que transitava no entorno de Bolsonaro, e que já questionava o STF. Mesmo assim, admitiu sob reserva à Coluna, que o avanço das críticas no cenário internacional precisa ser considerado.
Esse mesmo ministro avaliou que a direita política brasileira sabe comunicar bem e dimensionar suas reclamações. Com essa atuação, ressaltou o juiz, esse grupo político aproveitou o episódio da cabeleireira Débora Rodrigues, que pichou “Perdeu, Mané!” na estátua da Justiça, para dar impulso ao projeto de anistia. E ele concluiu: Anistia não é para raia miúda (Estadão, 18/4/25)