24/08/2020

MPF investiga se avião da FAB levou garimpeiros para encontro com Salles

Garimpeiros protestam contra ação do Ibama durante visita do ministro Ricardo Salles a Jacareacanga (PA)

Legenda: Garimpeiros protestam contra ação do Ibama durante visita do ministro Ricardo Salles a Jacareacanga (PA) Reprodução

 

Avião seria destinado inicialmente para auxiliar operação contra crimes ambientais.

A Procuradoria da República no Pará abriu investigação para apurar se o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) transportou garimpeiros em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira).

Os mineradores ilegais teriam sido transportados no dia 6 de agosto de Jacareacanga, no sudoeste do Pará, para Brasília, onde teriam participado de uma reunião com o próprio Salles, na sede do ministério.

No dia anterior ao voo investigado pelo MPF, o próprio Salles esteve na região de Jacareacanga para acompanhar as operações contra o desmatamento ilegal. O ministro enfrentou protestos de garimpeiros na região, que chegaram a fechar a pista do aeroporto legal após a sua partida. fApesar das manifestações contrárias, a apuração do MPF aponta que Salles manteve encontro com os mineradores ilegais que eram alvo da operação do Ibama.

 

 

O MPF (Ministério Público Federal) afirma que a situação pode configurar caso de improbidade administrativa.

A FAB informou o MPF em ofício que cedeu um avião para transportar pessoas indicadas como lideranças indígenas até Brasília para reunião com o ministro Salles. Lideranças indígenas mundurucus, no entanto, enviaram carta ao MPF negando que as pessoas transportadas na aeronave da FAB representassem o povo indígena.

A carta afirma que os sete moradores transportados são defensores dos interesses dos garimpeiros e atuam com a exploração ilegal de minérios no interior da Terra Indígena (TI) Munduruku.

As aeronaves foram encaminhadas para a região para apoiar uma operação de combate a crimes ambientais dentro das TI Munduruku e Sai Cinza. A solicitação das aeronaves havia sido feita pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente), mas a ação acabou não acontecendo.

O MPF afirma que, segundo o ofício enviado pela FAB, a determinação para ceder a aeronave foi acompanhada da suspensão temporária da Operação Verde Brasil 2, que consiste no emprego das Forças Armadas para combater crimes ambientais na região da Amazônia Legal.

A Procuradoria afirma que as ações foram retomadas na região de Jacareacanga, mas sem capacidade nenhuma para combater os crimes, já que os criminosos tiveram tempo para esconder o maquinário pesado que utilização nas atividades de garimpo.

“Verificam-se, no presente caso, fortes indícios de desvio de finalidade, na utilização das aeronaves da Força Aérea Brasileira, as quais, a princípio, deveriam ser destinadas para efetividade da Operação Verde Brasil 2 no combate à mineração ilegal”, afirma o despacho do MPF que instaurou a investigação de improbidade administrativa.

O Ministério do Meio Ambiente informou em nota que "tanto a decisão de interromper a Operação Verde Brasil 2 quanto a iniciativa de levar os indígenas para Brasília foram tomadas exclusivamente pelo Ministério da Defesa".

O Ministério da Defesa foi procurado, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem (Folha de S.Paulo, 22/8/20)

 


Garimpeiros ilegais viajam em avião da FAB para se reunir com desministro

 

MPF investiga se avião da FAB foi usado para levar garimpeiros ilegais do PA para reunião com Salles em Brasília. Aeronave participaria de operação contra crimes ambientais que não ocorreu. Militares dizem que grupo era formado por indígenas, mas lideranças do povo Munduruku negam.

O Ministério Público Federal (MPF) abriu investigação nesta quinta-feira (20) para apurar se um avião da Força Área Brasileira (FAB) foi usado para transportar garimpeiros ilegais de Jacareacanga, no sudoeste do Pará, para uma reunião no Ministério do Meio Ambiente, em Brasília, em 6 de agosto.

A aeronave havia sido originalmente enviada para ser utilizada na Operação Verde Brasil 2, de combate a crimes ambientais e ao garimpo ilegal na terra indígena dos Munduruku, no Oeste do estado – essa operação acabou sendo suspensa.

Ao MPF, a FAB enviou um documento no qual informou que as pessoas dentro da aeronave eram representantes das populações indígenas que teriam uma reunião com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. No entanto, em carta também enviada ao MPF, lideranças Munduruku contrariam essa versão, dizendo que se tratava de garimpeiros que exploram ilegalmente as terras locais.

O MPF investiga se a situação pode configurar improbidade administrativa por desvio de finalidade, já que a presença da FAB na região tinha como objetivo apoiar uma operação contra crimes ambientais. A investigação foi aberta em Itaituba, também no sudoeste do Pará.

O Ministério da Defesa disse não ter sido foi notificado pelo MPF e afirmou entender que, nos últimos tempos, tem sido corriqueira a abertura de procedimentos de investigações relacionadas a terras indígenas. Ressaltou também que atua com transparência, obedecendo rigorosamente a legislação em vigor no âmbito da Operação Verde Brasil 2 e que, quando solicitado, prestará informações ao MPF.

A pasta também ressaltou os termos de uma nota divulgada em 7 de agosto, na qual declarou ter transportado num avião da FAB representantes dos Mundurukus.

O Ministério do Meio Ambiente declarou que a decisão de interromper a Operação Verde Brasil 2 e a iniciativa de levar os indígenas para Brasília foram tomadas exclusivamente pelo Ministério da Defesa.

De acordo com o MPF, no início deste mês, a FAB enviou aeronaves para Jacareacanga por solicitação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). O transporte foi solicitado para apoiar uma operação de combate a crimes ambientais, sobretudo garimpo ilegal, dentro das terras indígenas Munduruku e Sai Cinza.

Em 5 de agosto, Ricardo Salles esteve em Jacareacanga onde se encontrou com garimpeiros alvos da operação do Ibama. Na ocasião, o ministro foi cercado por garimpeiros. Ele, então, conversou com o grupo que pedia a interrupção da operação e chegou a defender o garimpo em terra indígena.

O procurador Paulo de Tarso afirmou que, conforme relatos, a paralisação temporária da fiscalização foi suficiente para que os infratores escondessem seus equipamentos e desarmassem os locais de exploração, impedindo qualquer flagrante após retorno da ação fiscalizatória, em 7 de agosto.

O que disseram lideranças indígenas e a FAB

Na carta enviada ao MPF, as lideranças indígenas disseram que o "grupo levado para Brasília era, na verdade, formado por sete moradores defensores dos interesses de garimpeiros" e que atuam na exploração ilegal de minérios no interior da Terra Indígena Munduruku.

Em resposta ao MPF, a FAB informou que a determinação para ceder uma aeronave foi acompanhada de ordem para suspender temporariamente a Operação Verde Brasil 2 na região de Jacareacanga.

A FAB disse ainda que, apesar de ter sido posteriormente retomada, a operação já não tinha capacidade para combater crimes ambientais, já que os criminosos tiveram tempo para esconder o maquinário pesado que utilizam para devastar a floresta.

A FAB concluiu dizendo que a paralisação da operação, assim como o transporte de garimpeiros até Brasília, prejudicaram a efetividade da fiscalização (G1, 21/8/20)